Com a leitura do livro A alma de todo apostolado, de Dom Chautard, nasceu em meu espírito a ideia de que eu só poderia realizar a obra para a qual era chamado se me empenhasse em me tornar santo. E formei a intenção de me oferecer como vítima expiatória a Nosso Senhor, a Nossa Senhora, pela vitória da Contra-Revolução.
Não cheguei a formalizar o oferecimento naquela época, pois um certo lampejo me era dado para entrever não ser então o que a Providência desejava de mim. Ela queria que eu vivesse. Mas, de fato, minha vontade era pedir que morresse como Santa Teresinha, imaginando nossas missões semelhantes, ou seja, fazer mais depois de morto que durante a vida. Assim, terminaria meus dias ainda moço, consumido por uma doença qualquer, mas ao menos teria pago o preço da Contra-Revolução. Contudo, percebi não ser o momento para isso, embora tenha tomado em face de Maria Santíssima uma atitude de quem tivesse realmente se oferecido.
Na extensa trajetória que se me abria, ao lado de algumas intensas consolações, sobrevieram também grandes provações. Julgava que as adversidades e contrariedades se apresentavam porque eu tinha culpa, eram infidelidades, pecados ocultos, de cuja existência não me dera conta. Porém, vinha-me este pensamento: “Talvez seja porque estou disposto a servir de vítima expiatória, e esse oferecimento está me esmagando como eu desejei”. Assim, eu era triturado entre a resignação de ser vítima expiatória e um clamor interno no sentido contrário. Então, a conclusão: “Não, não é vítima expiatória, mas é castigo”.
Eu me sentia tentado a dizer que tudo aquilo em que minhas mãos tocavam, esboroava-se. Eram, na verdade, os sofrimentos e as provações próprias à via de expiação na qual trilhava, tendo a Santíssima Virgem considerado aquela minha primeira disposição. Desejo de oferecimento esse reiterado pouco antes do meu desastre de automóvel em fevereiro de 1975, e também aceito por Ela.
Na madrugada do domingo precedente ao desastre, teve lugar no salão de minha residência uma conversa na qual tratamos do estado em que se achava nosso Movimento. Analisada a situação, chegamos à conclusão da necessidade de um grande sofrimento e uma grande expiação para que as coisas tomassem seu devido rumo.
Se durante aquela reunião me aparecesse um Anjo e me dissesse: “Tu não conheces os ‘enjolras’ que estão para chegar, não sabes o bem que daí virá sob os auspícios e o impulso de teu filho João Clá, nem os benefícios que poderão advir para todo o teu apostolado e para a Causa Católica no Brasil e no mundo, assim como não sabes que muitas dessas tuas preocupações atuais – não todas, infelizmente – se sanarão, se quiseres fazer este sacrifício: é preciso que vás para Amparo e, na estrada, sofras um desastre!”, tenho certeza de que tomaria o automóvel naquela hora e, dado que nenhum dos meus acompanhantes nada ou quase nada sofresse, diria a mim mesmo: “Vamos à trombada, ao sangue, ao hospital, à cadeira de rodas, às muletas e a todas as outras consequências!” Não hesitaria em dar nenhum passo rumo ao extremo, para a glória de Nossa Senhora.
De fato, a partir de então, comecei a notar nos meus seguidores mais jovens uma atitude invulgar em relação ao ideal e à minha própria missão. Esse fato me alentou sobremaneira e, com profunda gratidão à Mãe de Deus, passei a ver o espraiar-se da aura de minha obra pelos mais diversos recantos do mundo.1
A presente edição é dedicada ao cinquentenário desse vitorioso holocausto oferecido na festa da Rainha do Bom Sucesso e consumado no dia seguinte, festa do Beato Stefano Bellesini, grande devoto da Mãe do Bom Conselho.2
1) Cf. Conferências de 3/2/1981 e 23/3/1985.
2) Para a elaboração deste número foram compilados excertos das seguintes conferências: 26/4/1977, 4/12/1977, 23/6/1981, 30/1/1982, 28/1/1983, 2/2/1983, 10/4/1983, 13/5/1983, 3/2/1984, 9/4/1984, 26/9/1984, 3/2/1988, 29/1/1991, 1/2/1992, 25/4/1992, 26/4/1992, 28/6/1992, 13/9/1992, 3/2/1993.