Nossa Senhora de Genazzano despontou para Dr. Plinio com uma promessa incondicional: “Não se incomode, você chegará ao fim! Avance, porque a solução sempre virá, mesmo trilhando a ‘avenida dos becos sem saída’!”
Nossa Senhora levou um tempo para me atender… Mas, quando atendeu, o fez regiamente, com uma bondade que supera tudo o que se pode supor ou imaginar e que leva ao que Ela quer, é verdade que pela “avenida dos becos sem saída”, não tem conversa!
“Ela me olhava com muito amor e afeto!”
Foi então que me lembrei do livro que havia lido meses antes, no qual consta ser clássico que a imagem em Genazzano – a estampa que recebi era uma reprodução daquela – muda de expressão pelo aparente movimento de fisionomia, que tem algo de sobrenaturalmente real. Portanto, não era uma invenção minha. É um fenômeno muito frequente, um favor concedido a centenas de peregrinos e com o qual Ela houve por bem favorecer-me naquele momento.
Ela não tinha feito para mim algo de excepcional ou extraordinário; mas que tenha acontecido isso comigo foi uma graça insigne, uma coisa de grande valia.
Nossa Senhora me comunicou essa graça e eu não contei a ninguém, fiquei quieto. Pus o rolo de papel de lado, numa mesa, agradeci, mudei de assunto e continuei a conversar, de maneira a ninguém perceber ter acontecido algo. A minha primeira preocupação era manter aquilo em reserva até ter tempo de analisar bem a questão. Mas fiquei impressionado.
Só uns dez anos depois do fato, dois dos que estavam presentes a meu lado naquela ocasião contaram-me o que eu não sabia e ao que dou muita importância: eles também tiveram a mesma impressão de que a imagem me comunicava algo. Eles não sabiam o que eu estava achando, não perceberam que Nossa Senhora me dizia alguma coisa, mas viram que Ela me olhava com muito amor e afeto! Um amor insistente. Muito amor não quer dizer amor merecido, é uma outra questão. A quanta gente Nossa Senhora olhou com amor e não correspondeu?

Que eles notassem e comentassem entre si naquela ocasião é uma prova interessante, que confirma o que eu tinha visto. Se eu tivesse mencionado e eles também notassem, seria sugestão. Eu não tendo dito nada e eles perceberem o que aconteceu comigo, significa haver algo de real.
Assistência prolongada de Nossa Senhora
Desde então comecei a melhorar rapidamente. Afinal de contas, no dia seguinte a esta promessa de Nossa Senhora1 veio visitar-me o médico. Ele examinou a região do corpo operada e, com surpresa para minha irmã, que se encontrava no quarto, e para mim, ele empurrou os panos de lado, sorriu com aspecto satisfeito e disse: “Se ele quiser, pode voltar hoje para casa. Está tão bem como não podia estar melhor. As condições do local estão muito sadias, melhorou tanto que o caso está resolvido”. Era preciso cicatrizar, mas a carne estava se recompondo e a gangrena desaparecera.
Naquela noite mesmo eu estava em casa. O problema não se encerrara, mas levando uma vida regular, de si estava sob controle e, graças a Deus, me refiz bastante bem. A minha cura estava dependendo só de pequenos cuidados; o acesso de diabetes estava vencido – não resolvido porque não é uma doença curável –, os remédios que a coíbem e permitem uma vida mais ou menos prolongada já tinham exercido seu efeito e ela estava circunscrita.
Havia exatamente uma preocupação que era o lado questionável do meu restabelecimento: a parte cruenta comportava uma cicatrização enorme e, ao longo dessa extensa fase, havia naturalmente o risco de a infecção retornar a qualquer momento. E como eu estava naquele tempo com uma taxa de açúcar muito alta, a possibilidade de uma infecção era grande, podendo determinar uma nova amputação de parte da perna. Aí estava o principal risco do momento.
Pois bem, Nossa Senhora assistiu prolongadamente essa enfermidade, de tal maneira que, contra a expectativa dos médicos, graças a Deus, o processo de cicatrização chegou ao seu último ponto sem nenhum inconveniente. Uma nova amputação não foi necessária e as condições em que fiquei me permitiram caminhar sem muleta.
A interferência de Nossa Senhora de Genazzano veio quando a situação era duvidosa e crítica, e eu ignorava. Foi a coisa mais inesperada, na hora mais imprevista e quando eu nem entendia bem um aspecto dessa graça. Há toda razão para supor que Ela, além da graça espiritual, também tenha dado uma graça física.
Os efeitos da graça: tranquilidade, serenidade…
Qual foi o papel dessa graça posteriormente, em minha existência?
Eu fiquei muito animado: “Graças a Deus eu encontrei o meu caminho! E devo andar para frente porque a solução veio, e esta é a ‘avenida dos becos sem saída’”. Aquela palavra celeste cicatrizava a ferida no que ela tinha de mais profundo e iniciava o processo de cura, pela recomposição da certeza de que a missão se realizaria e de que, portanto, eu podia estar tranquilo porque Nossa Senhora me assegurava de levar a minha vocação até o fim.
Ou seja, ainda que eu tivesse alguma culpa, porque as palavras não faladas da imagem não elucidaram esse ponto, em todo caso, é verdade que a missão se realizaria.
O resultado é que me invadiu uma paz, me inspirou uma serenidade extraordinária, uma distensão fabulosa em apuros os mais agudos, situações das mais vertiginosamente pontiagudas. Nesses apuros, sempre me lembro da promessa, a qual foi taxativa, não condicional: “Se você for fiel…” Não, não! “Não se incomode, você chegará ao fim!”

Evidentemente, quando começaram a aparecer as muralhas, eu tinha a promessa que me fazia atacá-las despreocupado, muitas vezes atravessá-las fechadas. Quer dizer, obstáculos que eu não sabia como resolver, mas que transpunha e estava acabado. Obstáculos e contrariedades às vezes do outro mundo, coisas grandes e pequenas que a toda hora pareciam caminhar para uma catástrofe, e que me teriam afligido e deixado simplesmente maluco. Estou com oitenta anos e jamais me viram triste, na “baixa”. Uma expressão que nunca ouviram é a seguinte: “Hoje é bom não mexer com Dr. Plinio, porque ele está na ‘baixa’”. Nunca! Entretanto, tenho atravessado vales e montes, coles e colinas, mas sempre animado por essa graça…
Foi algo tão profundo, que me deu a possibilidade de tocar o nosso barco para frente com muito mais serenidade, distensão, do que antes de adoecer.
Sustentação da confiança
Antes eu tinha simplesmente a calma da resignação, mas perturbada, alvoroçada pelo receio de ser infiel; era uma calma de nível muito inferior, uma calma real, mas feita de bom senso, de determinação, de olhar logo para os piores horizontes e me adaptar a eles de forma a varrer os sustos do meu caminho, pulando para devorar a pior hipótese e me aclimatar a ela, para poder evitá-la. Isso muitos não compreendem, mas não é pessimismo, é preparar-se para vencer.
Quando se luta, convém preparar-se de tal maneira para o pior que não se sofra as ciladas das surpresas, porque se está pronto para tudo. Eu vi muita gente na vida não ter vencido porque não se preparou para o pior. Veio uma ameaça longínqua, amoleceu. Tais pessoas pensam que prevejo o pior por pânico. Não é por pânico, mas pela determinação de vencer, de destruir a possibilidade que tem meu inimigo de criar-me a surpresa. Vou imaginá-lo desde já com um punhal na minha garganta e prever tudo até lá. Aí eu cobro uma certa calma.
Agora, eu desse modo teria vencido sem a diabetes… É preciso dizer: também entrava o contributo de uma muito boa saúde. Eu nunca acordava à noite, nunca perdia o sono, nunca nenhuma dessas provações me causou distúrbios. Quando era mocinho, vivi ocasiões de especial risco de ser cercado, sitiado pelo adversário; eu passava por tantos apertos nesse sentido, que por vezes sentia meu coração bater dentro da garganta. Anos depois, fiz exames cardíacos, e estavam os mais regulares possíveis.
A “graça de Genazzano” deixou, daquele tempo até hoje, uma atmosfera de tranquilidade, de paz tão grande em minha alma, que fez um bem para minha saúde maior do que todos os remédios. Sem ela eu não teria aguentado e estaria, senão morto, inválido… Não morri porque a confiança em Nossa Senhora me sustenta. E tenho certeza de que, se eu tivesse recebido essa graça antes da diabetes, não teria ficado diabético.
Posso dizer: devo a minha sobrevivência à “graça de Genazzano”.
Grande tranquilidade e distensão
Recordo-me de que a distensão foi tão grande, que alguns dias ou semanas depois eu estava em casa, já bem melhor, e veio me visitar uma prima minha com quem tinha intimidade e que há muito tempo não via. Aliás, me chamou a atenção que ela, muito discreta, durante toda a minha doença não apareceu. Ela mandava flores de vez em quando, mas não vinha.
Quando penetrou no meu escritório onde eu estava convalescendo, deitado num sofá, ela me disse:
— Então, Plinio, o que aconteceu? Você parece dez anos mais moço do que era!
Eu disse
— Mas como remocei de dez anos?
— Você estava cansado, opresso, fatigado. E agora o encontro desanuviado, sereno, outro homem! Você tinha um sulco na testa de tanto se preocupar. Não tem mais!
E pensei com meus botões: “Você não sabe o que aconteceu. Se soubesse…” Foi a grande distensão que tive por causa dessa promessa. Houve uma tranquilidade na alma extraordinária.
Recordação comovida e perene
A última vez que fui consultar o médico… Eu não sou muito de ir a médicos, gosto deles como amigos, mas aquela história de auscultar… meu temperamento não é disso. Ele ligou aqueles aparelhos para ver o coração, fez um exame cardíaco detido. Deixei-o fazer, pois não posso dizer a ele que as pancadas de meu coração são secretas. Se ele está disposto a me examinar, vamos!
E me lembro: era um consultório na região dos Jardins, que ficava bem no fundo da casa, longe do barulho da rua. Eu olhava para o médico e ele para mim, não tínhamos grandes coisas a nos dizer. Quando terminou ele me disse: “Dr. Plinio, o seu coração funciona com a regularidade de um relógio suíço”.
Nossa Senhora de Genazzano! Porque essa regularidade vinha da confiança n’Ela, que atendeu tantos pedidos, me socorreu em tal situação e não me desassistirá em nenhuma ocasião, de maneira que eu entro com confiança dentro da tempestade.
Disso eu conservo uma recordação comovida e perene. Eu sou gratíssimo a Nossa Senhora de Genazzano, mas muitíssimo grato!
1) No dia 17 de dezembro de 1968, Dr. Plinio recebeu alta.