Ainda antes de completar 23 anos de idade, já granjeara Dr. Plinio renome nacional como um dos mais influentes líderes católicos do Brasil. Esse merecido prestígio, todo ele oriundo de abnegados esforços em prol da Santa Igreja, o levaria a se firmar, entre outras posições diretivas, como redator-chefe do jornal “O Século”.
Seu primeiro artigo para esta folha católica — a propósito de uma Carta Pastoral dos Bispos da Bahia — é uma fervorosa profissão de fé na insubstituível primazia da Igreja, como Mãe e Mestra da verdade, como fonte de solução para as graves crises que nosso País e o mundo possam enfrentar:
Ecoou finalmente, no Brasil, a única voz que o pode salvar. É a voz da Igreja Católica Apostólica Romana, que mais uma vez se eleva entre nós, para nos corrigir em nossos desvios, nos reerguer em nossos desfalecimentos, nos animar no momento angustioso em que parece que o próprio solo desaba sob nossos pés.
E neste brado que, partido da Bahia, estende suas vibrações por todo o Brasil, as nossas selvas, os nossos rios, nossos campos e nossas montanhas hão de ter reconhecido as mesmas inflexões que modularam a voz dos primeiros missionários quando catequizavam os índios, acendendo-lhes nos corações selvagens a chama doce e luminosa da Fé; a mesma voz que morigerou os bandeirantes, exprobando-lhes a ganância, maldizendo-lhes as rapinas, abençoando-lhes o heroísmo; a mesma voz que, num murmúrio de conforto, meigo como uma carícia de mãe, ou num grito lancinante de alarma, previdente e cauteloso como o desvelo de um pai, soube ligar o negro, o branco e o vermelho, para atirá-los contra um mesmo inimigo comum (…) que queria destruir a raça, atacando-lhe o cerne: a Fé; a mesma voz que, aos ouvidos dos escravos, pronunciava palavras de esperança em uma vida futura, abrindo-lhes uma nesga de Céu em plena noite de cativeiro; e que, aos senhores, murmurava palavras de clemência e de doçura.
Só a Igreja, nas circunstâncias atuais, poderia falar ao Brasil. (…) Ela mergulha suas raízes no nosso mais remoto passado. Quando, em seu regaço maternal, acolhia os primeiros vagidos de nossa nacionalidade, já quinze séculos de luta lhe davam a respeitabilidade das instituições que o engenho humano não pôde destruir. E hoje a Igreja olha serena para o futuro, certa de que poderão cair as nações, poderão cair as repúblicas e os governos, mas que não cairá Ela, porque veritas Domini manet in aeternum.
Com a sobranceria de quem contempla nossa situação, não arrancando-a da haste do passado, da qual brotou, mas tomando a realidade atual como simples desenvolvimento inevitável de fatores anteriores e, de certo modo, superiores à geração atual, a Igreja mais uma vez nos indica o porto a que nos devemos recolher, se não quisermos naufragar nos escolhos em que muitas nações anteriores à nossa, e muitas outras que lhe sucederão talvez hão de naufragar, se não quiserem reconhecer os princípios básicos em que se têm de estribar. (…)
Por que não confiar, portanto, a esta força, o reerguimento da nação? Por que não fazer dela o reduto supremo da nacionalidade periclitante e o parapeito solidíssimo que nos resguardará do abismo?
(Extraído de “O Século”, de 28/6/1931)