No âmago da vida e gesta de Dr. Plinio brilhou sempre sua devoção amorosa ao Papa, o “doce Cristo na Terra”, segundo a feliz expressão de Santa Catarina de Siena. Neste mês em que a Cristandade comemora os 25 anos de Pontificado de João Paulo II, é-nos sumamente grato — como forma de nos unirmos a esta celebração — apresentar aqui alguns reluzimentos desse amor de Dr. Plinio ao Sucessor de Pedro.
Nada me comove mais do que ser chamado “romano”, no sentido de súdito do Soberano Pontífice e Bispo de Roma.
Nós nos dizemos romanos porque pertencemos totalmente ao Papa. Seja ele quem for, e sob quaisquer condições em que nos encontremos, devemos estar dispostos a tudo, a ir até mesmo de um pólo a outro da Terra, a pé se tal for necessário, para fazer a vontade dele.
Característica essencial de nosso espírito
Essa dedicação sem limites à Santa Sé é a característica de nosso espírito, o que há de mais essencial em nossa alma, juntamente com outras duas devoções: a Nossa Senhora e, acima de tudo, à Sagrada Eucaristia.
Nossa devoção a Maria segue o ensinamento de São Luís Maria Grignion de Montfort, sem lhe subtrair uma palavra, um jota, um til, e sem lhe poupar um instante de nossa vida. Em todos os momentos de nossa existência, nossos corações palpitam como escravos de Nossa Senhora.
É em Maria, com Maria, por Maria que chegamos a Jesus; e é em Pedro, com Pedro e por Pedro que chegamos a Jesus. Pelo fato de cada uma dessas duas vias ser complementar da outra e conduzir à plena união com Nosso Senhor Jesus Cristo, é que somos tão firme e inteiramente mariais, tão firme e inteiramente devotos da Santa Sé.
Coroamento dessa cadeia de devoções é o amor que consagramos ao Santíssimo Sacramento do altar.
Amor intensíssimo — e que deveria ser ainda maior —, alimentado pela certeza de que, sob as formas aparentes do pão e do vinho, ali está realmente presente Nosso Senhor, aquele Cristo Jesus que morreu por nós na cruz, aquele Cristo Jesus que é a alegria e contentamento de nossas almas, o fim último e a razão de ser de todos os instantes de nossa vida.
Circunstâncias em que Nosso Senhor instituiu a Eucaristia e o Papado
Nós conhecemos bem as circunstâncias admiráveis em que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Sagrada Eucaristia e o Papado. Como anteriormente recordamos, quando Ele anunciou aos apóstolos e discípulos que quem não comesse seu corpo e não bebesse seu sangue não teria a vida eterna, muitos dos que O ouviram afastaram-se d’Ele, por terem ficado escandalizados com suas palavras. Nosso Senhor perguntou, então, aos que permaneceram: “E vós, também não me deixais?” E São Pedro teve uma linda frase: “A quem iremos, Mestre, se só Vós tendes palavras de vida eterna?” Como quem arfirmava: “Nós não iremos, nós acreditamos na vossa palavra.”
Que magnífica manifestação de fé de São Pedro!
Em outra circunstância, quando Nosso Senhor perguntou aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”, o mesmo São Pedro, adiantando-se, disse: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”.
E Jesus lhe respondeu: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não é a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos Céus. E Eu te tigo que tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Essas extraordinárias palavras significam que a Igreja jamais será destruída pelas investidas do inferno, e jamais cairá em erro, porque está baseada sobre a rocha que é Pedro, e nos Papas, seus sucessores.
Precisa haver um homem que, em matéria de Fé e de moral, não caia em erro
Ora, Deus instituiu a Igreja a fim de instruir os homens a respeito das verdades nas quais devem crer para se salvar. Pois a nossa fragilidade é tal que seria moralmente muito difícil não cair em erro, se não tivéssemos um mestre infalível que nos ensinasse essas verdades.
Pensemos numa cidade como São Paulo, com quinze, talvez dezessete milhões de habitantes. Pode-se dizer que, uns pelos outros, cada paulistano tem pelo menos um relógio. Portanto, grosso modo falando, a cidade tem dezessete milhões de relógios. São muitos instrumentos para indicar hora para muita gente.
Contudo, de nada adiantariam, se não existisse um relógio posto por Deus, chamado sol, pelo qual os homens pudessem saber a hora certa. Porque os relógios particulares facilmente entram em desacordo: um adianta um pouco mais, outro um pouco menos, gerando disputas, pois um indivíduo não quer reconhecer que o relógio dele está errado e o do outro, certo. E, se não houvesse o sol, acabaria sendo que ninguém saberia a hora exata, por falta do relógio perfeito, segundo o qual todos os demais têm de se regular.
O mesmo se passa com a mente humana.
Nós trazemos dentro dela um certo relógio, não para marcar horas, mas para conhecer a verdade: é a nossa inteligência. Porém, cada qual pensa de um modo. Os homens discutem, tentam convencer-se uns aos outros, mas acabam não se convencendo inteiramente.
Por isso, é necessário existir um homem que, em matéria de Fé e de costumes, não caia em erro no interpretar a Revelação, ou seja, a Sagrada Escritura e a Tradição oral que vem acompanhando a Igreja ao longo dos séculos. Este precisa ser um homem infalível, de cujos lábios só possa sair a verdade.
Ele é o “relógio” que regula a humanidade em matéria de Fé e moral. É o bispo dos bispos, o pastor dos pastores, o rei da Igreja e de todas as almas. É a mais alta criatura na Terra: não há rei, não há imperador, não há presidente da república, não há prêmio nobel, não há milhardário, não há ninguém que valha tanto quanto o homem a quem Deus garantiu: “Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
Pode haver um Papa ruim — Nosso Senhor não prometeu aos Papas a impecabilidade — mas não pode haver um Papa que ensine o erro.
No Romano Pontífice, não devemos considerar a vida privada, mas seguir o que ele diz, o que ele ensina oficialmente, enquanto usando a prerrogativa da infalibilidade. Isso é um dogma da Fé Católica: quando fala ex-catedra, enquanto Papa, ensinando a Fé e a moral para todos os fiéis, ele é infalível, pois tem a assistência do Espírito Santo para não errar.
Sem o Papado, a Terra seria um antro de confusão e horror
Nós devemos ser meticulosos no amar o Papado acima de todas as coisas da Terra. Porque esta seria um antro de confusão, de caos e de horror, se não fosse a Cátedra de Pedro. A própria Igreja, fonte da luz no mundo, seria um antro de confusão se não existisse o Papa, que é como a presença de Cristo no mundo.
As considerações acima nos mostram como a devoção a Jesus Sacramentado, a Nossa Senhora, Maria fons, Maria mons, Maria pons, Mãe de misericórdia, nossa “vida, doçura e esperança”, e ao Papa, são os três pilares da vida espiritual de todo verdadeiro católico.