Para ajudar-nos a louvar devidamente a Mãe do Céu, no mês especialmente consagrado a Ela, Dr. Plinio nos sugere uma oração, diversas reflexões e uma conveniente atitude de alma.
S egundo a bela tradição católica, o mês de maio é dedicado a Nossa Senhora, e nada de mais próprio do que seus filhos e devotos festejarem-Na. É a ocasião de Lhe tributarem, de modo especial, toda a veneração, amor e carinho que lhes inunda o coração. É também a época de se solidarizarem de maneira mais profunda com Ela em suas apreensões de Mãe pela salvação das almas e pelo bem da Santa Igreja.
Provas de nosso amor
Para Lhe render essa homenagem, devemos começar por dizer a Nossa Senhora que reconhecemos ser Ela uma razão constante de alegria para os católicos, em todas as circunstâncias. Maria Santíssima é de tal maneira a Causa nostrae laetitiae — “causa de nossa alegria”, como A invoca a Ladainha Lauretana —, que o foi até mesmo na mais triste das situações, ou seja, quando seu Divino Filho padeceu e morreu pela redenção do gênero humano. Durante a Paixão, a presença d’Ela era um elemento de alegria e de satisfação para nós.
Devemos compreender, além disso, que o nosso preito filial não pode consistir meramente em comemorar as alegrias que Nossa Senhora nos dá, mas tem de comportar igualmente a consideração do que Ela sente ao ver as almas em perigo, ao ver a imensidão dos pecados que se alastram sobre a face da terra, ao ver filhos que Ela tanto ama, extraviados nos caminhos da perdição. Daí a nossa repulsa vigorosa ao mal que A entristece, e o nosso desejo de repará-La, e a seu adorável Filho, ser o termômetro de nossa entranhada veneração a Ela.
Pedir as graças que os outros recusam
Se, porventura, tomamos consciência de que esse nosso amor mariano é débil e fraco, devemos fazer um pedido a Nossa Senhora.
Por sua onipotente intercessão, a Santíssima Virgem faz chover de modo contínuo sobre o mundo graças de devoção e de fidelidade a Ela, assim como graças de repúdio ao mal e às tentações do demônio. E, infelizmente, essas graças não são recolhidas nem correspondidas da maneira tão ampla como deveriam ser. Muitas delas caem em chão arenoso ou em pedras onde não desabrocham. Devemos, então, ser sensíveis a essa prodigalidade de dons celestiais, não permitir que se desperdicem, e dirigir a Nossa Senhora esta súplica:
“Ó minha Mãe, por vossa insondável misericórdia, concedei-me todas as graças que os outros não aproveitam. Enchei minha alma com as dádivas divinas que reservastes para terceiros e que foram recusadas. Desse modo, correspondendo eu, amparado por vosso maternal auxílio, poderei reparar em algo a tristeza que representa para Vós a visão dessa caudal de graças sem aproveitamento. E que assim, ao menos neste vosso mísero escravo, resplandeça o dom feito aos homens. Amém.”
É uma prece a ser feita em todos os dias do mês de maio, por aqueles que se sentirem movidos interiormente a isso. Por exemplo, ao recebermos a Sagrada Eucaristia, expressemos a Nosso Senhor, por meio de sua Mãe Santíssima, o nosso desejo de que essas graças se recolham em nossa alma, que sejamos tochas ardentes de amor a Eles, e o receptáculo de todo espírito de incompatibilidade com o pecado e o mal, que devem caracterizar o verdadeiro católico.
Maria jamais nos abandona
Para aproveitarmos de modo útil o mês de maio, além de conservar essas intenções, seria interessante dedicar cada dia a alguma reflexão sobre Nossa Senhora, que alimente nosso Rosário e nossa piedade.
Nesse sentido, evoco aqui um fato passado numa antiga cidade polonesa, na ocasião em que estava sendo invadida por cruéis inimigos da religião católica.
Não podendo mais resistir, os habitantes fugiram, abandonando tudo. Ali vivia São Jacinto, digno filho de São Domingos de Gusmão e ardentíssimo devoto de Nossa Senhora. Antes de escapar dos agressores, foi se despedir da Padroeira da cidade, uma bela imagem da Virgem Santíssima, talhada em alabastro. Enquanto se recomendava a ela, ouviu-a distintamente murmurar: “E eu? Tu me abandonas? Leva-me contigo!”
O santo não sabia o que fazer. A imagem era muito pesada, não a podia carregar sozinho. Porém, apenas a tentou tomar em seus braços, sentiu-a leve como uma pena. A imagem perdeu todo o seu peso, por um milagre da poderosíssima Mãe de Deus. Surpreso e admirado, São Jacinto a estreitou devotamente e tomou com ela o caminho da fuga.
Este episódio nos mostra como Nossa Senhora preza suas imagens, como se sente representada dignamente por elas, e como não deseja que se faça a elas o que não é respeitoso nem correto fazer a Ela mesma. Maria obrou um prodígio para que sua imagem fosse levada embora de um local onde provavelmente seria profanada pelos que ameaçavam a cidade.
Por outro lado, vemos como Nossa Senhora se compraz em nos acompanhar através de suas imagens, e quer que as imagens d’Ela nos acompanhem. E assim operou um verdadeiro milagre para que a Padroeira acompanhasse seus filhos ao longo do êxodo que se viram obrigados a empreender. Uma imagem de alabastro, pesadíssima, além de se fazer ouvir pelo santo, torna-se leve e facilmente transportável. É um modo de Nossa Senhora nos dar a entender como deseja estar presente no meio de seus filhos.
Que aplicação colhermos desse fato para a nossa vida cotidiana?
Em todos os instantes de nossa vida, Maria Santíssima estará sempre ao nosso encalço, amparando-nos e nos protegendo, na sua qualidade de Mãe e divina Pastora
(ao lado, Nossa Senhora Divina Pastora, Espanha)
Manifestando esse desejo de que suas imagens sejam de seus filhos, Nossa Senhora quer fazer notar quanto nos acompanha em todas as vicissitudes e em todas as circunstâncias de nossa existência. Se um símbolo d’Ela não nos abandona, quanto menos nos abandonará a própria Simbolizada!
Quer dizer, em qualquer situação em que estejamos, em todas as latitudes, em todas as longitudes, nas maiores elevações como também nos períodos mais tristes de nossa vida espiritual, há um olhar de Nossa Senhora que nos segue. Há uma proteção e uma providência particular de Maria Santíssima que nunca nos perde de vista e jamais nos abandona.
E essa certeza nos deve dar exatamente uma sensação de tranqüilidade em relação às vicissitudes desta vida. E o pensamento que deve nortear nossos dias, especialmente ao longo do mês de maio, é este: Nossa Senhora é minha Mãe e não me deixará sozinho. Ela nunca desvia de mim seu olhar maternal, sobretudo naqueles momentos em que tanto preciso das graças que Ela alcança, para progredir ou para não regredir na minha piedade, ou para qualquer outra necessidade, seja espiritual, seja temporal.
Cumpre insistir, a Virgem jamais nos desampara. Pois se uma imagem de alabastro — que, afinal, não é senão alabastro — vai ao encalço dos devotos dela, mais ainda velará Maria, em pessoa, por todos e cada um de seus filhos.
Nossa Senhora irá ao meu encalço como a divina Pastora que Ela é. E posso ter, portanto, essa serenidade e essa segurança no transcurso de minha vida: a todo instante pairam sobre mim a proteção e o olhar de nossa Mãe Santíssima.
Eis algumas piedosas considerações que nos ajudarão a celebrar o mês de Maria.