Vários santos e pessoas virtuosas, especialmente a partir do século XIX, destacaram a estreita vinculação entre as devoções à Eucaristia, a Maria e ao Papa. Contudo, não temos conhecimento de que alguém relacionasse, mais precisamente, Lourdes e a Infalibilidade Pontifícia com o Santíssimo Sacramento. Aliás, à primeira vista não se percebe que nexo possa haver entre esses valores. Mas ele existe, e muito importante.
Era o que mostrava Dr. Plinio em um memorável artigo, publicado em 19581, na comemoração dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadete Soubirous.
Vejamos seu raciocínio. Apenas quatro anos antes dos acontecimentos em Lourdes, o Beato Pio IX, através da bula Ineffabilis Deus, definira o dogma da Imaculada Conceição. Ora, Nossa Senhora declarou a Bernadete ser a Imaculada Conceição, chancelando o dogma, e passou desde então a realizar milagres numa quantidade nunca vista. Mas os efeitos das graças então espargidas sobre os católicos do mundo inteiro não pararam aí. Elas levaram a um movimento de fervor que praticamente “exigiu”, em 1870, a proclamação do dogma da Infabilidade Pontifícia.
Temos, portanto, interrelacionados o dogma da Imaculada Conceição (1854), Lourdes (1858) e o dogma da Infalibilidade Pontifícia (1870).
Nesse arrazoado, Dr. Plinio não estava só. Mostra ele que tinha consigo a autoridade de um Papa: “Na Encíclica ‘Ad Diem Illum’, comemorativa do cinqüentenário da promulgação do dogma da Imaculada Conceição, lembrou São Pio X os frutos admiráveis que esse fato produziu: principalmente os milagres de Lourdes e a definição da Infalibilidade Papal”.2
Entretanto, no sagrado conjunto constituído por Lourdes e pela Infalibilidade Pontifícia, Dr. Plinio introduzia um terceiro elemento pelo qual foi responsável precisamente esse Papa:
“Veio o pontificado de São Pio X, e com ele o convite aos fiéis para a comunhão freqüente e até diária, bem como para a comunhão das crianças. E a era dos grandes triunfos eucarísticos começou a brilhar radiosa, para toda a Igreja.”
Eis reunidas as três condições indispensáveis, segundo Dr. Plinio, para haver um reflorescimento da Igreja: “Nosso Senhor presente no Santíssimo Sacramento é o sol da Igreja. D’Ele nos vêm todas as graças. Mas estas graças têm de passar por Maria. Pois é Ela a Medianeira universal […]. Sua voz [de Jesus] se faz ouvir para nós através do Sumo Pontífice. De onde a docilidade ao Sucessor de São Pedro é o fruto próprio e lógico da devoção à Sagrada Eucaristia e a Nossa Senhora”.
Tem-se a impressão de que, ao ser proclamado o dogma da Imaculada Conceição, Deus tanto se comprouve que resolveu abrir, de maneira excepcional, as fontes de graças do Céu sobre a terra. Apesar do que possam dizer as aparências, 1854 marcou o início da derrocada dos adversários da Igreja — assevera Dr. Plinio. Desde então, Nossa Senhora vem conduzindo os acontecimentos de modo a desembocarem na realização de sua promessa em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
Devemos ter isto em vista — conclui ele — quando os meios humanos de salvação se mostrarem impotentes. Esta será a hora de esperarmos, com maior confiança do que nunca, uma intervenção da Mãe de Deus.
1 “Catolicismo”, nº 86. Salvo indicação em contrário, todas as citações são deste artigo.
2 “Catolicismo”, nº 48.