Se tivermos “um exército composto de soldados que observem fielmente os ensinamentos de Jesus; e assim também os governadores; e os maridos e as esposas; e os pais e os filhos; e os patrões e os criados; e os reis e os súditos; e os juízes, e até os contribuintes e os cobradores de impostos, todos sendo segundo quer a doutrina de Cristo, veremos se [os filósofos anticatólicos] ainda ousarão dizer que essa doutrina é nociva ao Estado, ou se, pelo contrário, terão de reconhecer que é um valioso sustentáculo para o Estado”(Santo Agostinho, Ep. 138 ad Marcellinum, 2, 15).
Uma nação assim, onde todos os cidadãos cumprissem os Mandamentos de Deus, não seria uma nação perfeita? Sim, dizia Dr. Plinio, que em muitas de suas conferências recordava essas palavras do Bispo de Hipona. E tanto as apreciava que, às vezes, fazia exclamações como esta: “Não há quem leia esse trecho e não sinta uma pulsação de coração mais acelerada. É impossível! Com aquele talento no qual há, também, cintilações da graça, Santo Agostinho evoca algo que nos coloca diante de uma sociedade idealmente católica, e nos extasiamos”.
De fato, depois de o Verbo de Deus ter-se encarnado e habitado entre nós, só numa sociedade baseada no espírito cristão encontra-se a solução para a crise terrível do mundo contemporâneo. Do contrário, podem as constituições nacionais serem diversas vezes modificadas, ou multiplicadas as leis às centenas de milhares; pode-se aumentar o efetivo policial nas ruas, ou espalhar escolas por cada rincão do país, de nada adiantará.
Dissemos “sociedade”, e não “indivíduo”, porque — assinalava também Dr. Plinio — não basta que cada particular seja um bom católico. É preciso todos se empenhem em “sacralizar” a sociedade temporal na qual estão imersos.
Nos últimos tempos, os documentos do Magistério eclesiástico vêm acentuando a obrigação dos leigos de vivificar com o espírito cristão a ordem temporal. Afirma-o explicitamente o Código de Direito Canônico promulgado pelo Papa João Paulo II: “Têm também o dever peculiar, cada um segundo sua própria condição, de impregnar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito evangélico…” (225 § 2).
E o Sumo Pontífice, em diversas oportunidades, tem enfatizado a necessidade do compromisso cristão dos leigos na sacralização da sociedade temporal: “Devem impregnar as realidades humanas do espírito do Evangelho, de modo a oferecer o seu contributo específico para a promoção do bem comum. Esta é a sua obrigação de consciência, que deriva da vocação cristã”, afirmou por exemplo no discurso diante do Parlamento polonês em junho de 1999.
Foi esta uma das questões mais examinadas e desenvolvidas por Dr. Plinio, que a abordou por ângulos ainda inexplorados. Entre os escritos que nos deixou a tal respeito encontra-se o estudo que vimos publicando na seção “O pensamento filosófico de Dr. Plinio”, cuja linha-mestra poderia ser assim sintetizada: “O espírito católico deve marcar a fundo e inteiramente todas as manifestações da vida social; onde está a alma verdadeiramente cristã, aí está o espírito da Igreja, pois christianus alter Christus”.