O período litúrgico da Quaresma prepara as almas para estarem mais unidas a Jesus Cristo nos passos de sua Paixão e degustarem as castas alegrias da Ressurreição.
Como podemos contemplar neste número de nossa publicação, o sofrimento e a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo eram temas que tocavam profundamente a Dr. Plinio. Não menos, porém, a Ressurreição, a qual marcou a definitiva vitória do Redentor sobre o poder das trevas. Sobre este tema, vejamos os seus comentários após uma cerimônia de Sábado Santo.1
A maior alegria que houve na Terra, comparável talvez apenas com a Noite de Natal, foi a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
São as três grandes alegrias: Natal, Ressurreição e Ascensão, mas esta última já marcada pelas saudades.
Considerando as alegrias da Páscoa e as da vinda do reino de Nossa Senhora — que, a meu ver, estão quase na mesma linha — podemos imaginar o que nos espera.
Temos que atravessar vales profundos e descer até os extremos do inopinado, mas também subir até as culminâncias do inesperado. Porque também muitos inesperados bons nos aguardarão, para a alegria de nossas almas.
Assim passou-se também na vida de Nosso Senhor.
Ele estava na Santa Ceia durante e após a qual tudo foi acontecendo, ao contrário do que se poderia humanamente esperar: explodiu a traição, seguida da indiferença, da incompreensão e, por fim, da fuga dos Apóstolos. Jesus permaneceu sozinho. Os episódios foram sucedendo no sentido oposto do que, segundo nossos critérios, pareceria correto, se Ele não fosse o Redentor do gênero humano.
Após sua morte, vem a Ressurreição, maravilhosamente celebrada na Liturgia da Vigília Pascal, num misto de alegrias que começam a luzir nas trevas.
Ao ser aceso o Círio Pascal, dir-se-ia que o dia começou a raiar. Porém, a cerimônia se desenvolve sem pressa, com todas as lentidões próprias à Igreja que tem diante de si a eternidade. Assim, tem-se a impressão de ter sido um engano, e que a noite dominou novamente. Que longa espera até a luz bruxuleante do Círio atingir a sua plenitude!
Ficamos com vontade de perguntar ao Círio: “Tu prenuncias a vitória, mas não te cansas de prenunciá-la? Quando chega essa vitória que tu profetizas, ó Círio venerável? Tu pareces retardar o que anuncias, quando deverias apressá-lo!”
Até que, afinal, a explosão de luzes e cânticos anuncia a Ressurreição.
Podemos conjecturar que Nosso Senhor, ao ressuscitar, apresentou-Se a Nossa Senhora e que Ela, por exemplo, cantou para louvá-Lo. Se isso de fato ocorreu, podemos bem imaginar o “ranger de dentes” do demônio e o ódio suscitado no Inferno!
Nesse momento, Satanás teria se sentido estraçalhado, compreendendo como tudo quanto ele havia conseguido com o pecado de Adão e Eva estava derrotado, pois o Redentor perfeito operara a Redenção perfeita para o gênero humano. E, portanto, substancialmente falando, o domínio do mal estava partido.
E Lúcifer deve ter estertorado, enquanto havia da parte de Nosso Senhor e de Nossa Senhora o aspecto de vencedores triunfais, terríveis para os demônios.
1) Extraído e adaptado de conferência em 2/4/1983.