Qual é o fundamento racional, religioso e moral de tudo quanto Dr. Plinio sustentava, e que temos paulatinamente publicado em nossa revista, ao longo de 15 anos? As reflexões feitas por ele a respeito do Absoluto fornecem importantes elementos para responder a essa questão.
Como se sente o Absoluto e quais são as ocasiões em que o sentimos? De que maneira podemos caracterizar que o estamos sentindo?
A importância destas perguntas é a seguinte: se nos dermos inteiramente conta disso, poderemos fincar a nossa atenção naquilo que é absoluto, e nos defender muito mais contra as mil ciladas do relativismo. Estaremos em condições de refletir maduramente sobre qual é o fundamento racional, religioso e moral de tudo quanto sustentamos. E, portanto, adquirir outra solidez que não teremos se ficarmos em impressões flutuantes, por mais ricas e indispensáveis que sejam.
Aliás, é o caminhar normal do espírito humano, que tem essas várias impressões, e depois ele mesmo tenta ordená-las. O processo mental é esse e nós estamos, portanto, numa ordenação, da qual faz parte definir cada coisa para ver qual a relação entre os diversos elementos constitutivos.
Discernindo o Absoluto em um episódio histórico
Devemos afastar a ideia de que sentir o Absoluto é algo que se dá só em determinadas ocasiões muito características.
Alguém que, de repente, presencie um acontecimento histórico de um porte muito especial e perceba ali a ação da Providência, sem ter nenhuma visão ou revelação — estou falando intencionalmente, por enquanto, numa linguagem natural —, a pessoa discerne algo de Deus ali.
Por exemplo, a famosa descrição de Chateaubriand1, passeando pelo campo nos arredores de Gand, na Bélgica, acompanhando Luís XVIII, enquanto Ministro das Relações Exteriores do governo. O poviléu de Gand estava desavisado da batalha que transcorria, e Chateaubriand andava como um romântico qualquer, quando ele começou a ouvir troar os canhões de Waterloo2, que parece ficar a uma pequena distância de Gand.
Chateaubriand descreve, então, o troar dos canhões e como ele percebeu tratar-se de uma grande batalha, que decidiria o destino do mundo. Ele insere umas expressões românticas pelo meio, de cuja autenticidade não podemos estar certos, mas o que nos importa no momento é que o autor compõe um quadro, no qual descreve um sentir do Absoluto.
Quer dizer, ele notou que o futuro do mundo, no troar daqueles canhões, estava sendo resolvido. E que aquela era uma dessas horas, a seu modo “sagradas”, em que Deus faz a História dos povos virar e deixa entrever, pelo feeling3 natural, o seu braço onipotente que determina rumos.
Conhecendo a situação histórica, compreendemos que uma ocasião como essa pode levar um homem a ter um certo discernimento natural do Absoluto.
Sede de grandeza e sede do Absoluto
O que vem a ser Absoluto aí? À luz de uma determinada situação, algo transparece e nos faz ver Alguém enormemente transcendente representado pelos acontecimentos, e que tem uma plenitude de ser, de poder, de sabedoria, de vontade muito maior do que a nossa, e cuja consideração e contemplação matam uma peculiar sede de grandeza existente em nós, sem a qual nada é nada.
Faço notar que a sede de grandeza está na raiz da sede do Absoluto. Não estou falando de grandeza humana, como de uma linda carruagem, por exemplo; nada disso. Mas é a sede de algo que, existindo e sendo percebido por nós apenas na ordem natural, entretanto, é tão maior do que nós, e sacia a nossa sede.
Porém, o que é esta sede? O que a satisfaz?
É uma sede de contemplar um Ser que nos resgata de nossas inseguranças, de nossas penumbras, de nossas limitações, de nossas incertezas. Indo bem ao fundo da questão, sentimos que se este Ser não existisse, nós também não existiríamos. E que se há Alguém que é com essa plenitude de ser, na consideração d’Ele eu escapo de mim e tenho minha sede saciada, tenho meu “Céu”. Isso é a sensação do Absoluto nesse episódio.
Temos em nós uma crônica e irremediável insegurança, decorrente de nossa condição de criatura. E só corrigimos isso quando entendemos que Alguém é, e com Ele temos um nexo. Então as inseguranças desaparecem, as limitações passam, e encontramos nossa razão de ser em olhar para Aquele.
Um palácio do Imperador da China
Há uma série de sensações do Absoluto que, em ponto maior ou menor, se ligam a isso.
Eu compreendo que alguém entrando sozinho, pela primeira vez, num dos palácios do Imperador da China e, vendo aquilo tudo arranjado para receber personalidades, tivesse uma sensação de Absoluto, porque é o Império, a China, uma coletividade enorme, um destino da Providência que paira e se afirma lá, e de algum modo nos fala a respeito de tudo quanto Deus quis que fosse a China, no plano natural. Se ela realizou ou não, é outra cogitação; mas um plano imenso da Providência aparece.
E por detrás desse plano, a grandeza se manifesta, não enquanto beligerante, mas dispondo, alinhando com um poder enorme e uma sabedoria colossal, para finalidades que excedem nossas cogitações e que, portanto, nos deixam embevecidos. É compreensível, por exemplo, que se entrássemos lá, falássemos baixo e andássemos nas pontas dos pés, a impressão do Absoluto nos colheria, sob a figura da Providência, da disposição das coisas e dos altos desígnios.
Contemplando uma andorinha, uma borboleta, um beija-flor
Estou me referindo às coisas grandes, mas poderia falar também das pequenas. Conforme variem legitimamente os estados de espírito, é possível que em determinado dia, vendo esvoaçar um muito bonito beija-flor, tenhamos uma sensação de Absoluto. Porque existe, no fundo, o contato com algo que, a este título, nos excede enormemente; e todas as agilidades aparecem assim aos nossos olhos.
Seria errado afirmar: “Veja a andorinha, o beija-flor e notará automaticamente o Absoluto!” Assim automático não é. Mas muitas vezes vendo a andorinha, o beija-flor, a garça, contemplando esse ou aquele panorama, de repente há um fenômeno qualquer que emite uma luz, por onde dizemos: “Aqui algo nos passou e nos transcendeu.” É o Absoluto.
O colorido nacarado de certas borboletas, o desdobrar-se de uma cor na outra — uma cor, por assim dizer, emite outra e nela se contempla; é muito bonito! — lembra um pouquinho o sobrenatural: “Deum de Deo, Lumen de Lumine, Deum verum de Deo vero; genitum, non factum…”4.
Uma pessoa que compreenda o significado desse momento em que, contemplando a andorinha, por via natural, Deus a visitou, e que o fim de sua vida consiste em estar o mais possível compenetrada desse Absoluto para o Qual ela existe, acaba povoando sua alma de imagens ideais. Por assim dizer, foi um estado místico que lhe proporcionou uma como que visão natural que a arrebatou, encantou ou empolgou, por fugidio que tenha sido.
Esse é o movimento natural do espírito do qual devemos ser sedentos e ao qual precisamos dar cidadania, porque não é loucura, mas bom senso. E tendo experimentado isso alguma vez, ao revermos uma borboleta, uma andorinha ou um beija-flor, é possível que discirnamos algo contendo um eco do que vimos, e pela memória revivamos aquela impressão mística.
O filho pródigo que sente uma brisa proveniente da casa paterna
Há, portanto, categorias inteiras de seres que ficam meio polvilhando, em determinados casos, um certo absoluto que se relaciona com a percepção que tivemos do Absoluto ao ver esses mesmos seres em outras ocasiões. Notamos a participação no Absoluto e degustamos essa participação, que nos faz especialmente recordar e reviver aquela sensação.
Se assim pudéssemos nos exprimir, seriam como visitas que o Paraíso nos faz na Terra. De quando em quando, temos a impressão de sermos os filhos pródigos, e que uma brisa proveniente da casa paterna sopra sobre nós. E devemos ser ávidos de povoar nossos espíritos com esses eflúvios, com esses aromas, porque isto é viver. Acrescento mais: creio que isso favorece o equilíbrio mental, enormemente.
Às pessoas desejosas de felicidade nesta Terra, eu recomendaria com empenho que procurassem isso. Entretanto, como elas se extraviam… Pois aquilo que o demônio promete é o que ele vai tirar. Então elas se põem no delírio e na agitação: “Olhe, não se deixe pisar, não seja menos do que aquele, conquiste, torça!…” Uma pessoa assim diria a um de nós: “Você, com toda essa filosofia, será um homem menosprezado, porque não conseguirá montar uma grande fábrica. Suas considerações nem entram no painel dos meus valores; elas ficam do lado de fora, não tenho o que fazer delas.”
Movimento da alma inocente à procura do Absoluto
Poderíamos nos perguntar se o senso do Absoluto — que não é senão uma excelência do senso do ser — consiste só no que dissemos. E aqui deve entrar em consideração o papel da inocência.
Na formação originária do princípio de contradição numa criança, o espírito dela vai adquirindo noções do ser e de uma porção de outras regras, de um modo vivo, embora ela não saiba exprimir-se abstratamente. E, se agiu com inocência, a criança ama mais esses princípios do que todas as outras coisas sensíveis e transitórias da vida. Quando lhe apresentam uma subversão de algum desses princípios, ela se sente mais lesada do que se lhe tirassem um doce, por exemplo.
Assim, pode acontecer que, para uma criança reta, uma contradição ovante dos pais faça um mal maior do que o incômodo que alguém causaria a uma criança não reta tirando-lhe, digamos, o travesseiro durante a noite e provocando-lhe, com isso, uma insônia.
Na atitude inocente entra um movimento da alma em busca do Absoluto para fixar-se n’Ele, através desses vários estágios: a consideração do mundo abstrato, depois do angélico até chegar ao divino. É para lá que a inocência tende, sendo esse o curso próprio, específico dela e do senso do ser. A alma sempre tendente a isso acaba percebendo o Absoluto na garça, no leão, na andorinha, na borboleta, etc., porque, seguindo o verdadeiro rumo, colhe esses aspectos da natureza e alimenta com eles aquela procura.
Diante de alguém assim, encontramo-nos na presença de uma alma magnífica, mas que, de outro lado, deixa-nos com a sensação de que essa pessoa teria a mão posta dentro de uma luva, cuja medida não foi feita para ela. Porque todas essas considerações nos levam para a extrema ponta de nós mesmos e nos apresentam como se fôssemos uns caçadores de borboletas, de feras ou de sóis magníficos, que a toda hora estivessem escalando, de grau em grau; seríamos uma espécie de “alpinistas” do espírito, sempre subindo. O que é verdade, mas não a verdade inteira.
O Absoluto ama nossa contingência e nos eleva até Ele
Há um outro lado da questão. Somos pessoas e fomos feitos para tratarmos com pessoas. E esse Absoluto se apresenta a nós, eventualmente, como uma Pessoa, mas que nos fala apenas por meio da borboleta, disso ou daquilo, e não nos atende em nossas debilidades, não nos ampara em nossas insuficiências, em nossas fraquezas, não tem pena de nós, não se interessa por nós e não entra em nossa vida pessoal, jamais se volta para trás para nos abrir os braços e nos afagar; nesse panorama nós não entramos para nada. É tudo muito bonito, mas algo de nós fica de fora e parece não corresponder à máxima “anima humana naturaliter christiana”5. A alma humana pede mais do que isso.
Há momentos em que o homem entra em pane, a prova é superior às suas forças, e ele tem vontade de sentar-se, chorar, soluçar… Por ser pessoa, ele pede reciprocidade. E, por incrível que pareça, a alma humana quer ser tratada com proporcionado apreço pelo Absoluto. Pede que, em sua fraqueza, ela seja considerada e tratada com respeito. E tem razão! Posta diante do Absoluto, a pessoa precisa sentir que a própria contingência dela é amada por Ele, e não considerada como uma nódoa, uma vergonha, um mal, mas Ele a quer e não a despreza. Ele, por assim dizer, entra nela para elevá-la e conduzi-la a Si.
Para essa legítima apetência ser satisfeita, é indispensável ter uma ideia de Deus convivendo conosco nesta Terra, conhecedor exato e meticuloso da alma e da vida de cada um de nós, melhor do que nós mesmos, e querendo nosso próprio bem, mais do que o desejamos.
Um desfilar das magnificências e um inclinar-se das bondades
Essa ideia não leva necessariamente ao sobrenatural, mas encontra nele uma plenitude de contentamento e de satisfação insuspeitada. Em tudo, desde a definição da graça até a União Hipostática, a Encarnação do Verbo, a Redenção do gênero humano, os Anjos que nos assistem, tudo da Igreja Católica, visto por algum lado, é um constante atender desse desejo.
E um dos esplendores da Religião Católica é o fato de ser ela um longo desfilar das magnificências e um contínuo inclinar-se das condescendências, das bondades, das paciências, em quantidades insuspeitáveis. De maneira que a Igreja forma propriamente o Paraíso de nossas almas!
Sente-se isso, por exemplo, no silêncio de uma capela. Em certo momento aquele silêncio parece dizer: “Ego sum!6 Vim estar junto de você, ao seu alcance, na sua proporção.” Alguém poderá pensar que é fantasia de minha parte, mas o mínimo ruído dentro da igreja poderia interromper ou, pelo contrário, intensificar essa impressão. Às vezes uma fagulha, que se desprende da lamparina do Santíssimo ou de uma vela, representa uma maravilha! Quantas coisas desse gênero poderíamos mencionar! Como há a andorinha para o que chamaríamos a vida mística e o senso do Absoluto da Terra, existe isso como o senso do Absoluto do Céu.
Esse é o Absoluto pelo qual nos sentimos penetrados até o fundo de nossas almas, tocados, amados nas nossas contingências, nas nossas limitações, nas nossas insuficiências: “…de stercore erigens pauperem”7, é propriamente isso.
Creio que se conseguíssemos dar estabilidade a isso, poderíamos caminhar realmente para algo que nos abrisse para o Reino de Maria. A devoção a Nossa Senhora situa-se aí, pois é Deus Nosso Senhor exprimindo-se pela figura da mãe. A mãe é muito mais propícia a atender essas mil necessidades do que o pai. É como se Deus assumisse essa face, para nos fazer sentir melhor seu amparo.
Então, a devoção a Ela é o vínculo indispensável, com esses dois aspectos do Absoluto: enquanto Imaculada, a grandeza; enquanto Refúgio dos pecadores e Mãe de misericórdia, o auxílio do contingente. Vejo nisso uma harmonia tão perfeita e tão impressionante como não sei dizer!
Nossa Senhora da Ternura
Tomemos, por exemplo, duas pinturas que muito me agradam: a de Nossa Senhora da Ternura e a de São Domingos meditando ao pé da Cruz, de Fra Angelico.
Olhando para esses quadros, julgo ter presente tudo quanto um bom católico deve possuir. E ficam muito explícitas no meu espírito todas as negações que a Revolução faz a isso, e tudo aquilo por onde eles são contrários à Revolução. Donde propendo a ter uma rejeição à Revolução, alimentada específica e diretamente nesta ideia: porque a Revolução não gosta disto, e eu gosto totalmente, sou contrarrevolucionário.
Tudo quanto está no ícone de Nossa Senhora da Ternura dá a entender que essa ternura resulta de uma posição de alma d’Ela muito estável, contemplativa e atenta, dentro do teor de uma vida que permite isso e faz disso o seu próprio centro.
Amando as virtudes que acabo de enumerar, por serem pressupostos daquele ato de adoração representado ali, são afins com ele, consequentemente detesto o erro que procura arrancar este ato de adoração nos seus pressupostos, extirpando-o no que ele tem de mais prévio, em sua base. Mas isso por ter sentido em minha alma o que um bom católico sente olhando o ícone de Nossa Senhora da Ternura.
Analiso depois a ternura e vejo uma alma que fez da ternura, isto é, da consideração atenta de um Ser — no caso, o Filho d’Ela — que se fez mais fraco e entregue ao cuidado d’Ela, o objeto de uma atitude mental que A abarca por inteiro, a ponto de Ela não ser apenas terna com Ele, mas todas as ternuras de todos os tempos ali se concentrarem e defluírem dos braços e da bondade d’Ela.
E ver que a Revolução é o contrário disso, leva-me a odiá-la especialmente. Ao contemplar esse quadro e considerar como a Revolução faz o oposto, encontro elementos especiais para amar essa devoção. Não é um amor diferente, mas um acréscimo ao amor que tenho enquanto bom católico.
Clamei a Vós, Senhor, na admiração!
Contemplando Nossa Senhora com o Menino Jesus, noto a veneração sem conta com que essa ternura se exerce. Tudo quanto possa representar Moisés adorando a Deus no Sinai, diante da sarça ardente, é uma cena grandiosa, à qual presto minhas homenagens, e gosto dessa grandeza, mas não contém o senso de grandeza que está nessa pintura.
Prestem atenção na posição, no trato com o Menino, o respeito, a veneração, a adoração, quase como quem não sabe por onde mover de tanto adorar, mas adorar do mais fundo para o mais alto.
Quase se poderia dizer que muitas expressões dos Salmos de Davi caberiam nos lábios de Maria Santíssima: “De profundis clamavi…” — não é do fundo do pecado, mas do fundo da admiração d’Ela — “…ad Te, Domine”8. Quem é o “Senhor”? É o Menino que Ela precisa cuidar para dar leite. “Eu clamei a Vós, Senhor, na admiração!” Há uma interpenetração e uma harmonia que me regala inteiro. E me regalo por me sentir um prolongamento de dois mil anos atrás de mim, que vão ter em Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa continuidade me enche inteiro, e dela sou cioso como de minha alma.
Compreendo bem que essa continuidade tem na raiz, não um Deus concebido em abstrato, mas Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, Aquele Homem concreto, cuja natureza humana está hipostaticamente unida à natureza divina, Deus. Portanto, possuindo concretamente aquelas perfeições contidas na expressão “Nosso Senhor Jesus Cristo”. Não preciso dizer mais nada. Maravilhoso, magnífico, empolgante, divino! O católico contrarrevolucionário nota um certo equilíbrio inefável, sacral, nessas palavras, ou mais simplesmente, no nome de Jesus Cristo. E esse equilíbrio a Revolução odeia.
Por ter negado o Absoluto, o demônio é medíocre, desprezível, sujo
Para concluir estas reflexões, digamos uma palavra sobre o demônio e o pecado.
Há representações do demônio que o mostram como um homem vestido de negro, dotado de suma elegância de gestos — indicando seu poder de atração —, que oferece com riso sardônico, mas atraente, um cálice com uma bebida inebriante, enquanto faz a alguém uma reverência bajuladora. São figuras que apresentam o demônio como uma potência extraterrena, ou como um homem superpoderoso.
Essas representações são legítimas e tiveram sua razão de ser, enquanto o desejo puramente carnal do maravilhoso foi o elemento para atrair o homem ao pecado. Mas o demônio não é esse príncipe grandioso, cortesaníssimo e aristocratíssimo das velhas esculturas de Veneza; não é nada disso! Ele é porco, grotesco, arrogante, tímido, poltrão, errado, acumula sobre si tudo quanto pode haver de desprezível em qualquer ente.
A explicação de sua hediondez está no fato de ele ter negado o Absoluto, e se estruturado inteiro como se tudo fosse relativo. Por isso ele é o medíocre, o desprezível, o sujo. E é assim que devemos vê-lo.
Não tenhamos, portanto, a ilusão de que, quando combatemos nossos defeitos, estamos combatendo gigantes. Só são gigantes por causa de nossa fragilidade e mediocridade; porque, violando nossa inocência, nos tornamos anões.
(Extraído de conferência de 4/2/1982)
1) François René de Chateaubriand. Mémoires d’outre-tombe, III parte, I época, livro VI, cap. 16.
2) Batalha travada em 1815, na qual Napoleão foi derrotado.
3) Do inglês: percepção, sentimento, sensação.
4) Do latim: “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado”. Trecho de um dos artigos do Símbolo Niceno-constantinopolitano.
5) Do latim: “A alma humana é naturalmente cristã”. Cf. Tertuliano. Apologeticum, c. 17, 6.
6) Do latim: “Sou Eu”.
7) Do latim: “…levanta o pobre do monturo”. Trecho do Salmo 112, 7.
8) Do latim: “Das profundezas clamo a Ti, Senhor” (Sl 129, 1).
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