Para compreendermos a perspectiva pliniana da História, devemos considerar que os acontecimentos históricos eram analisados por Dr. Plinio sob a luz do dom de Sabedoria, que lhe conferia um particular discernimento dos espíritos aplicado aos povos e às civilizações. Este carisma lhe permitia elaborar uma Teologia da História vista, por assim dizer, de dentro dos olhos de Deus, compreendendo e amando os planos divinos mesmo quando estes parecessem frustrados. Certa ocasião*, comentava ele a este respeito:
Ao analisar a história de certos povos, tenho o conhecimento do que Deus teria querido para eles e de como estava na essência divina ordenar os acontecimentos de determinada maneira. Isso me dá, em relação ao que não se realizou, umas saudades que são o reflexo em mim daquilo que poderíamos chamar incorretamente a “tristeza” de Deus – n’Ele não há tristeza – porque aquilo não se deu.
Esse conhecimento não é uma composição minha, como um romance, mas um descobrir de olhos abertos fazendo a Teologia da História. Quer dizer, metendo-me nas ruínas da História para discernir as fórmulas que ela poderia ter tido, qual era o plano de Deus. Seria uma espécie de emanação – para usar uma palavra não muito adequada – da própria eternidade frustrada e atingida, se a respeito de Deus pudéssemos dizer “frustração”. São expressões antropomórficas para exprimir algo que sabemos não se passar n’Ele como se passa no homem.
As mais nobres cogitações de que o ser humano é capaz nessa ordem de coisas são impregnadas de saudades, porque a História quase sempre não realiza inteiramente aquilo que Deus quis dela. Assim, fica frequentemente uma faixa da História não realizada, não reparada ou não restaurada, que acompanha os passos da humanidade ao longo dos tempos como uma espécie de saudades.
A meu ver, certos planos não concretizados deverão voltar no Reino de Maria com Anjos que realizariam o plano original acrescido de algo.
As graças então recusadas pelos povos voltam aos esplendores do Pai celeste. Mas, o que significa voltar aos esplendores do Pai celeste? Não é cessar de estar presentes no mundo e nos acontecimentos da História. Os fatos se passam como se essa glória recusada, mas asilada nos esplendores do Pai celeste, ficasse representada por Anjos atinentes a essas perfeições, nos lugares por onde ela se irradiou.
De maneira que, rezando-se a esses Anjos, se obtenha um prolongamento da ação iniciada. Há, assim, uma espécie de batalha desses Anjos até o fim, no próprio território do país, contra os demônios, para que essas graças ressurjam. Aliás, nem é ressurgir, porque não estariam mortas, mas tornem-se sensíveis.
Nessa perspectiva, devemos admitir que refloresçam no mundo, até acrescidos, os Anjos que a Revolução foi enxotando. E porque esses espíritos celestes, por assim dizer, pairam no mundo, eles confluem nas nossas almas.
* Excertos de conferências de 6/7/1980 e 13/7/1980.