Neste momento de aflições e de perigos, quando a humanidade inteira geme sob o peso de desditas que se multiplicam a cada momento, crescem nossas necessidades e mais prementes se tornam nossas preces. Poucas verdades da Fé concorrem de modo tão poderoso para valorizar nossas orações quanto a Mediação Universal de Maria, quando a estudamos seriamente e a fazemos penetrar a fundo em nossa vida de piedade.
Ensina a Teologia que todas as graças que recebemos de Deus devemo-las à mediação de Maria. Assim, a Mãe de Deus é o canal de todas as preces que chegam até seu Divino Filho e dos favores que Ele outorga aos homens.
Embora esta verdade suponha que, em todas as nossas orações, peçamos a intercessão de Nossa Senhora, ainda quando não A invoquemos explicitamente podemos estar certos de que só seremos atendidos porque Ela reza conosco e por nós.
Daí se infere uma conclusão sumamente consoladora.
Se devêssemos nos apoiar apenas em nossos méritos, como poderíamos confiar no êxito de nossos pedidos? Contudo, Deus quer que nossas orações sejam confiantes; aliás, essa confiança é mesmo uma das condições de sua eficácia. Mas como teremos confiança se, olhando para nós, sentimos que nos faltam as razões de confiar?
É das tristezas desta reflexão que nos arranca, triunfalmente, a doutrina da Mediação Universal de Maria.
De fato, nossos méritos são mínimos e nossas culpas grandes. Mas o que não podemos alcançar por nós, temos todo o direito de esperar que as preces de Nossa Senhora alcancem. E jamais devemos duvidar de que Ela Se associe às nossas súplicas, quando convenientes à maior glória de Deus e à nossa santificação.
Sendo a Santíssima Virgem nossa Mãe autêntica na ordem da graça, pois gerou a cada um de nós para a vida eterna, a Ela se aplica fielmente a frase que o Espírito Santo esculpiu na Escritura: “Pode uma mulher esquecer-se de seu filho e não se compadecer do fruto de suas entranhas? Mesmo que ela o esquecesse, Eu nunca me esqueceria de ti” (Is 49, 15). É mais fácil sermos abandonados por nossos pais segundo a natureza do que por nossa Mãe segundo a graça.
Assim, por mais miseráveis que sejamos, podemos com confiança apresentar a Deus nossas petições. Convém que meditemos incessantemente sobre esta grande verdade.
Católicos que somos, devemos enfrentar nesta vida as lutas comuns a todos os mortais e, além disso, as que decorrem do serviço de Deus. Mas, ainda que os horizontes pareçam prestes a verter sobre nós um novo dilúvio, mesmo quando os caminhos se cerrem diante de nós, os precipícios se abram e a própria terra se abale debaixo de nossos pés, não percamos a confiança: Nossa Senhora superará todos os obstáculos que forem superiores às nossas forças.
Enquanto esta confiança não desertar de nossos corações, a vitória será nossa e de nada valerão os ardis de nossos adversários; caminharemos sobre as áspides e os basiliscos, e calcaremos aos pés os leões e os dragões (cf. Sl 91, 13).*
* Cf. O Legionário n. 455, 1/6/1941.