A Civilização Cristã que é, ao mesmo tempo, a civilização do sacrifício e do prazer, formou no espírito do homem a consciência de sua dignidade, mesmo depois do pecado original. Ora, em nossos dias, um dos aspectos da Revolução é degradar o ser humano, o quanto possível, através da moda e dos costumes.
Segundo a boa educação, quando recebemos uma visita em nossa casa, tratamo-la com particular deferência, fazendo todo o possível para que o visitante se sinta agradado; por exemplo, destinamos o lugar melhor, servimos alimentos e bebidas que presumivelmente lhe apetecem, discorremos sobre temas de que ele gosta de falar.
Afabilidade própria à Civilização Cristã
Todo homem tem a fraqueza de gostar de falar sobre si mesmo e não a respeito dos outros. Logo, se quisermos ser amáveis com alguém, perguntemos sobre sua vida, suas opiniões, sua pessoa, enfim. Sem dúvida, nosso convidado terá uma porção de coisas para contar. E, por mais banais e insípidas que sejam suas narrações, precisamos demonstrar interesse, fazendo-lhe comentários agradáveis, sem mentir, pois não se deve mentir nunca.
Alguém dirá: “Então, é uma caceteação receber uma visita!”
Eu respondo: Muitas coisas são uma caceteação; entretanto, elas constituem a civilização. Quem procura fazer apenas o que lhe é agradável é um índio botocudo, não uma pessoa civilizada.
Não só ao receber uma visita, mas também quando estamos na rua, conversamos com um colega no colégio, na universidade, no lugar de trabalho, sentados ao lado de uma pessoa no metrô ou no ônibus, é preciso fazer o possível para que nossa presença seja agradável.
Essa preocupação em ser afável para com os outros corresponde a um preceito de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sintetizou os Dez Mandamentos em dois: amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo. Se amamos o próximo, devemos querer ser agradáveis a ele. A civilização que nos leva a ser aprazíveis aos outros, pensando mais neles do que em nós mesmos, chama-se Civilização Cristã, que é, ao mesmo tempo, a civilização do sacrifício e do prazer.
Houve tempo em que o homem era um ser perfeito, formoso, agradável de trato e só dava prazer a si próprio e aos outros, vivendo num lugar de uma beleza perfeita, onde toda a natureza lhe obedecia. Esse lugar de delícias e maravilhas era o Paraíso terrestre, antes do ser humano pecar.
Adão e Eva pecaram, incorrendo no desagrado de Deus e perdendo todos os dons que Ele lhes havia concedido, a começar pelo dom em função do qual eles não morreriam. O homem passou, assim, a ser condenado à morte, além de estar sujeito a doenças, ter o corpo desfigurado, exalando matérias pútridas e malcheirosas.
Dignidade do corpo humano expressa em seu membro mais nobre
Se nós analisamos a natureza humana, constatamos isto: o que o homem tem de mais digno é a alma. A alma tem muito mais dignidade do que o corpo. Mas, por causa disso, quanto mais um membro ou uma parte do corpo é capaz de exprimir a alma, tanto mais é digna.
Por exemplo, a dignidade dos olhos é grande porque exprimem intensamente a alma e apresentam o que o homem tem de melhor: o espírito. O jogo da inteligência, da vontade e da sensibilidade se revela por inteiro nos olhos e, de algum modo, em todo o rosto. Quanto exprime a boca do homem! Enquanto ele fala, o movimento de sua boca manifesta muito de seu espírito. O próprio nariz tem uma expressão particular.
Um elemento que constitui uma moldura normal do rosto humano é o cabelo. Por isso, deve estar sempre limpo e bem ordenado. Quando algum jovem de minha família aparecia em casa com o cabelo desordenado, meu pai, que era pernambucano, usava um termo que não sei se se usa ainda hoje em Pernambuco. Ele olhava com desdém para aquele cabelo e dizia: “Que gaforinha é essa?” Nunca lhe perguntei o significado de “gaforinha”. Mas ficava tão claro o que há de ridículo no cabelo desordenado que a pessoa ia imediatamente se pentear. Ao ver o jovem retornar com o cabelo penteado, ele dizia: “Agora, rapaz, está direito. Gaforinha, não! Cabelo limpo e bem alisado.”
A Providência destinou que na cabeça ficasse o principal centro nervoso do homem, a tal ponto que se tem a ilusão de ali residir a alma. Quando, ainda menino, eu soube que a alma não se localiza no crânio, mas encontra-se difusa no corpo inteiro, fiquei muito surpreso e desapontado. Não obstante, tomei conhecimento também de que é a partir da caixa craniana que todo o organismo é governado. Isso faz com que a cabeça seja a parte mais digna do corpo humano. O tronco e os membros exprimem muito menos a natureza espiritual do homem.
Em nossos dias, a moda procura rebaixar o homem
Tenho a impressão – não é Doutrina Católica, mas também não a contradiz – de que uma das razões pelas quais a pessoa deve ocultar o seu corpo é exatamente porque, depois do pecado original, ele se tornou tão inexpressivo e carnal que fica abaixo da dignidade do homem. Por isso a pessoa tende a mostrar o rosto e a esconder o restante do corpo, por exemplo, o abdômen. Qual é o homem que pode dizer: “Meu abdômen exprime inteligência”? É ridículo, causaria gargalhada. Assim, quando um membro não é susceptível de uma expressão intelectual, causa vergonha, porque parece uma parte mais baixa do homem, mais afetada pelo pecado original. Então, não é só a tentação da impureza, mas a expressão da animalidade que se mostra nisso.
Um dos aspectos da Revolução em nossos dias é uma tendência, uma moda que leva a deprimir, a rebaixar o homem quanto possível, fazendo-o tratar-se e se apresentar como não deve. Por exemplo, com os pés aparentes, por vezes sujos, suados, maculados, deformados pelo contato com o chão. Daí a decadência dos calçados, por onde, do sapato de couro envernizado passou-se para o tênis, do qual se passará para a sandália, com os pés à mostra, e da sandália para a abolição do calçado, para o homem ser como um bicho.
Também a tendência ao nudismo. Antes de tudo tem o inconveniente gravíssimo de despertar a concupiscência, constituindo uma imoralidade por causa disso. Mas também há o fato de que, com isso, a parte mais animal do homem aparece por inteiro, ferindo sua dignidade. Em consequência, a moda que conduz ao nudismo é a moda da degradação.
Eu ainda conheci pessoas de minha família que usavam camisa de linho, engomada e dura na frente, obrigando o homem a estar retesado. Assim, a dignidade do homem era favorecida pelo traje.
Maneiras de comer e de se vestir, no início do século XX
Quando eu era bem pequeno, portanto dos anos de 1910 a 1918, mais ou menos, se uma pessoa estava à mesa comendo tinha uma obrigação rigorosa de não se encostar no espaldar da cadeira. O sumo da falta de educação era colocar o cotovelo na mesa, porque o homem deveria esconder a sua preguiça e mostrar o domínio sobre si.
Outra coisa: nunca se inclinar para pôr a comida na boca. Manter-se teso, e o alimento tinha que subir até os lábios. Também o modo de segurar os talheres, tudo visava a fazer resplandecer a dignidade.
A decadência foi tão rápida que, quando terminei minha infância, certos costumes já tinham sido abolidos. Hoje em dia só falta comer diretamente com as mãos, tal é a vergonha no modo de se alimentar.
Quanto à vestimenta, nos inícios do século XX o paletó vinha até o joelho, e era sempre de uma casimira de cor séria, porque todo varão deve ser sério. Nunca um homem saía sem chapéu à rua. Outro dia vi uma fotografia antiga de uma assembleia de operários fazendo greve. Todos estavam de paletó, de gravata e chapéu. E eram simples operários. Hoje em dia, um patrão, dono de dezenas de fábricas, está vestido como um operário de cinquenta anos atrás não se vestia. Eram horizontes completamente diferentes.
Vemos em tudo isso uma amostra de um dos aspectos da Revolução na sociedade em nossos dias.
(Extraído de conferência de 18/1/1986)