Qual não foi o meu espanto quando, passando de bonde pela Praça do Patriarca, no centro de São Paulo, reparei numa larga faixa estendida à frente da Igreja de Santo Antônio, cujos dizeres eram: “Congresso da Mocidade Católica, de 9 a 16 de setembro. Inscrições nesta praça, prédio tal, número tal.” Pela natureza do anúncio, percebi tratar-se de um congresso de juventude masculina. Fiquei encantadíssimo!
A notícia daquele congresso abria para mim um tão imenso horizonte, que meu primeiro movimento foi de descer e já fazer minha inscrição. Porém, era início de noite e todos os escritórios estavam fechados. Restava-me apenas esperar o dia seguinte, quando então me apresentei no local indicado, inscrevi-me e recebi uma medalha para ser usada durante o evento.
Tal era meu entusiasmo que, na manhã do primeiro dia de reuniões, ao tomar o bonde em direção à Igreja de São Bento, local do congresso, logo que me sentei coloquei a medalha, ostentando-a com ufania por todo o trajeto. Ao entrar na igreja dos beneditinos fiquei verdadeiramente espantado com o número de moços católicos ali reunidos, muito superior ao que eu tinha imaginado. De fato, acabei descobrindo que num setor de São Paulo, estranho aos meus círculos sociais, havia em formação um grande movimento de jovens católicos, praticantes, castos, direitos, sinceros devotos de Nossa Senhora. E eram algumas centenas.
Na presidência do congresso estava o Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, homem bastante cônscio de sua condição de Príncipe da Igreja. Ao lado dele, todos os Bispos do Estado de São Paulo, com seus trajes eclesiásticos de gala, cercados do grande respeito devido à sua alta dignidade. Um coral de vozes masculinas entoava canções de ótimo cunho religioso, como, por exemplo, esta de que ainda me recordo: Mocidade brilhante e sadia, Sai da inércia em que estás. Renuncia à inação criminosa. De pé! De pé! Deu a voz de comando Pio XI, Carrilhonam os sinos de bronze E descem do alto seus brados de fé!
Este hino, utilizado pelas Congregações Marianas, era cantado com um ardor que bem exprimia o voo do espírito e do entusiasmo da mocidade católica por todo o território brasileiro. Compreendi, então, que dali podia sair um movimento católico conforme ao meu ideal.
Resultado de tudo isso: no domingo seguinte ao congresso eu me alistava como membro da Congregação Mariana de Santa Cecília. Tinha início minha dedicação mais efetiva e completa ao serviço da Santa Igreja.
Como costuma acontecer em movimentos desse tipo, os mais fervorosos se destacam e passam a ocupar posições de liderança. Assim sucedeu que, tendo eu me tornado congregado mariano com todo o ardor de minha alma, a generosidade dos que comigo lutavam impeliu-me para situações de realce — sem que nenhuma vez eu as tenha procurado ou disputado. Ademais, tinha eu certa facilidade de me exprimir em público, fazer discursos, etc., e isso trazia como consequência reiterados convites para falar. Rapidamente, tornei-me muito conhecido nos meios religiosos, e passei a ser visto e tomado como um líder católico.
Foi uma ascensão rápida e profícua, sem dúvida por misericórdia e amparo especiais da Santíssima Virgem.
(Extraído de entrevista à Rádio Uruguaiana, de 21/6/1990; e de conferência de 1/9/1980)