Em 15 de novembro de 1958, por ocasião do Congresso da Ordem Terceira do Carmo, coube a Dr. Plinio discorrer acerca dos elementos constitutivos da Consagração a Nossa Senhora.
Foi-me dado, para sobre ele dissertar neste brilhante congresso, o seguinte tema: “O escapulário e a profissão da Ordem Terceira do Carmo constituem um ato de principal consagração a Nossa Senhora. É indispensável que essa verdade seja propagada com grande zelo para um conhecimento mais profundo e mais perfeito da espiritualidade carmelitana”.
O enunciado da tese manifesta o louvável propósito de evitar que, em matéria de Ordem Terceira do Carmo, fiquemos apenas em exterioridades.
Com efeito, o escapulário é um objeto palpável, que simboliza de um modo muito sensível nossa ligação com Nossa Senhora. Mas precisamente porque tal símbolo apresenta essas qualidades, podem certos espíritos facilmente cair na ideia de que sua simples posse, seu mero uso são suficientes para nos manter ligados a Nossa Senhora.
Também a profissão na Ordem Terceira do Carmo, feita habitualmente de modo tão solene e festivo, fala muito aos sentidos e à imaginação. Por isto mesmo, podem certas pessoas facilmente formar a ideia de que o simples fato da profissão estabelece entre nós e Nossa Senhora um vínculo tão profundo, que basta por si mesmo, e para todo o sempre, sem mais deveres, para nos manter unidos a Nossa Senhora como perfeitos Terceiros.
Tal é a condição do homem nesta terra que mesmo as melhores coisas, e as mais louváveis, são susceptíveis de abuso, não porque nelas haja qualquer coisa de mal, mas porque o mal está no homem cuja natureza decaiu com o pecado original. Assim se pode dizer que essas exterioridades tão úteis, tão oportunas, tão sábias, tão necessárias à natureza do homem podem, entretanto, ser usadas de modo errado fazendo com que tudo aquilo que o símbolo significa seja esquecido e apenas a realidade material do símbolo fique, como elemento evidentemente insuficiente para os fins que a instituição do símbolo tivera em vista.
Realmente, é preciso que nos compenetremos bem de que a posse do escapulário ou o seu uso, e o simples ato de profissão na Ordem Terceira do Carmo, não constituem toda a essência de nossa vinculação a Nossa Senhora, e nada seriam se não fosse nossa consagração especial e interior à Virgem do Carmo. Este, sim, é o elemento básico de nossa condição de Terceiros Carmelitas. E o uso do escapulário, bem como a profissão na Ordem Terceira não são senão um objeto material e um ato jurídico – um e outro de grande significação e importância, aliás – que exprimem essa consagração. O principal, portanto, é que o Terceiro esteja consagrado a Nossa Senhora, numa consagração que, feita no ato oficial da profissão, se conserve e aumente em intensidade ao longo da vida inteira.
O Terceiro deve, pois, compreender que é nesse fato interior, o qual em última análise, se desenvolve no terreno misterioso da relação das almas com Deus, indevassável para qualquer olhar humano, e posto diretamente sob os olhos do próprio Deus, é neste fato interior que consiste o liame que nos prende a Nossa Senhora do Carmo e faz de nós, no sentido pleno da palavra, verdadeiros carmelitas.
Assim, portanto, por maior que seja, e o deve ser, o nosso apreço ao escapulário e à nossa profissão na Ordem Terceira, é de capital importância que nossa consagração interior seja por nós reputada o elemento capital de nossa vida carmelitana. É o que bem diz o enunciado da tese que nos foi dado desenvolver na noite de hoje. Afirma ela uma verdade que deve ser propagada com grande zelo, pois assim se evita o inconveniente de que numerosos Terceiros levem uma vida carmelitana completamente desviada do seu espírito, do seu sentido mais verdadeiro e profundo.
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(Extraído do “Mensageiro do Carmelo”, número especial, 1959.)