A partir da graça recebida aos pés da imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, Dr. Plinio tornou-se um grande devoto de Maria Santíssima. A confiança n’Ela fê-lo tomar a resolução de ser congregado mariano desde então, aos doze anos de idade.
Quando se é jovem, a vida se nos afigura como um longo caminho que temos diante de nós. Ao menos para mim, parecia-me um caminho atraente e, ao mesmo tempo, difícil e misterioso. “O que vou encontrar por este caminho? Alcançarei ou não aquilo que devo alcançar? Já em minha jovem idade conheço tantos homens fracassados…”
O mar, a praia, os barcos furados…
Certa ocasião vi um quadro que representava uma praia junto à qual estavam encostados três ou quatro barcos, diante de um vasto panorama marítimo. Notava-se que os barcos estavam avariados, batidos pela tempestade. E o quadro reproduzia só isto: barcos furados, o mar encapelado e a praia. As águas passavam e os barcos ficavam, pois já não prestavam para nada.
Conheci algumas pessoas que me lembravam aqueles barcos. Eram homens, senhoras, que eu via não terem mais futuro, a vida deles estava espandongada. A única coisa que poderiam fazer, não faziam: amar a Deus completamente. Quanto ao resto, as esperanças terrenas defraudadas, não valiam mais nada.
Eu pensava: “Serei também, se facilitar, um desses barcos encalhados?”
Sentia, ao mesmo tempo, uma vontade e um receio de viver e de avançar. A minha grande pergunta era: a batalha é tão grande, os sacrifícios para fazer tão fortes, estarei à altura?
Consultava as jovens profundidades de minha alma e, feita a pergunta a mim mesmo com toda a honestidade, a resposta era negativa no seguinte sentido: “Talvez eu chegue até a não ser dos barcos encalhados, mas, pelo contrário, dos navios gloriosos que atravessam a baía, entram pelo mar e vão combater ao longe… batalhas de glória. É possível que seja isto, porque sinto momentos em que estou bem e animado; mas há ocasiões nas quais sinto a desproporção de minhas forças com a luta. Eu vencerei?”
E nessa indecisão, que chegava a me angustiar, eu me lembrava de um episódio de minha vida, ajoelhado diante do altar de Nossa Senhora Auxiliadora, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Ali era um “barco” bem mais novo, feito há doze anos e já estava com um rombo…
Mas eu rezei: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!” Não sabia latim e entendia que “salve” queria dizer para Ela me salvar, e era o que eu desejava – em latim é uma saudação, como “bom dia” entre nós. Então, suplicava neste sentido: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia!” Pedia de toda a alma e consegui, diante de circunstâncias difíceis, uma força, uma resistência as quais eu não imaginava que teria. Dê no que der, seja como for, n’Ela porei toda a minha confiança: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!’”.
Eu pensava: “Mãe de misericórdia… Tenho em casa uma mãe que tem tanta pena de mim. Mas quando a oração enuncia ‘Mãe de misericórdia’ quer afirmar algo que não se diz de minha mãe, mas sim da Mãe de Jesus, toda feita de misericórdia. N’Ela só há misericórdia da qualidade mais requintada e perfeita, alta e transbordante, capaz de me inundar inteiro. É dessa que eu preciso porque, do contrário, não consigo”.
Passo difícil, grande e glorioso
Com confiança na Mãe de misericórdia eu me ergui alegre. Comecei uma longa caminhada e estou com 76 anos. Não a interrompi durante todo esse tempo e, se Deus quiser, se a Mãe de misericórdia rezar por mim, não a interromperei até o momento do meu último suspiro.
O passo é difícil, grande e glorioso. Mas Nossa Senhora, fazendo-nos sentir a dificuldade desse passo, nos diz: “Meus filhos, perto de Mim nada é difícil! Porque darei forças para vencerem as dificuldades”.
Imaginem uma mãe que pode tudo junto a Deus e recebe d’Ele poderes em todos os sentidos. Ela tem um filho que tem enorme dificuldade para fazer escaladas e ele precisa atravessar um caminho permeado de montanhas… Esta mãe poderia afastá-las do caminho e fazer uma autoestrada reta, ou dar ao filho força e coragem para ele subir todas as montanhas.
O mais bonito seria ela fazer um tanto de cada coisa: tirar algumas montanhas misericordiosamente; mas, em outras ocasiões, o filho pedindo para afastar a montanha, ela não tira. Ele diz:
— Então, o que vou fazer? Eu nem sequer sinto forças!
— Comece a subir a montanha que as forças virão!
Será um dos mais belos lances da caminhada o da montanha que Nossa Senhora não removeu. Algumas dificuldades serão grandes, outras pequenas. Quando as dificuldades forem grandes, grandes seremos nós. Quando forem pequenas, não precisaremos ser grandes. Ela, em todo caso, será grande afastando algumas montanhas e nos fazendo galgar outras.
Neste sentido, minha alegria e consolação, que fizeram do meu passo para me tornar congregado mariano uma satisfação para a minha alma, foi a confiança de que Nossa Senhora não me abandonaria!
Congregado mariano aos 12 anos
Tive duas entradas na Congregação Mariana. Havia uma no Colégio São Luís, onde estudava, e outra na Igreja de Santa Cecília. Primeiro entrei na Congregação Mariana do Colégio São Luís.
Aquele período de aflição que eu tive quando era bem mais moço, com uns doze anos, e durante o qual recorri a Nossa Senhora, deu-se exatamente nessa época em que me tornei congregado mariano do São Luís.
Eu tinha pedido, junto com alguns outros alunos, para ingressar na Congregação Mariana. Mas havia razões para desconfiar que o padre não quisesse receber-me. Certo dia, estavam todos os alunos dentro da sala de aula, sem professor, estudando as lições dadas pelos mestres; um bedel acercou-se da porta, abriu-a e disse: “Plinio Corrêa de Oliveira, o Padre Romani – era o Diretor da Congregação Mariana – está chamando o senhor”.
Entrei na sala dele, ele fez-me sentar e interrogou-me com amabilidade, mas com seriedade:
— O que você acha que eu farei? Vou aceitá-lo como congregado mariano ou não?
Mas ele perguntou-me em termos tais que deixava significado o seguinte: “Se você fosse eu, você se aceitaria na Congregação Mariana?”
Eu achava que não era o caso de me admitir. Mas se dissesse “não”, barrava as portas. Ora, eu não queria fechar as portas que me conduziam a Nossa Senhora.
Lembro-me de ter pensado, com emoção, eu que nunca fui emotivo: “E como é essa história agora?”
Fiz uma fisionomia amável, mas não respondi, para ver se pela amabilidade do rosto eu entrava… Cada um se arranja como pode…
Ele, então, me tocou as mãos e disse:
— Você pode entrar!
Relacionei este fato com a graça que recebera anteriormente de Nossa Senhora Auxiliadora, na Igreja do Coração de Jesus, e fui rezar à imagem da Santíssima Virgem que havia na capela do Colégio São Luís. Era um quadro de uma invocação que mais tarde teria grande papel na minha vida: Nossa Senhora do Bom Conselho.
Assim, entrei para a Congregação Mariana.
Nova admissão na Igreja Santa Cecília
Mas depois saí do Colégio São Luís e estudei durante um ano numa escola leiga. Em seguida, inscrevi-me na Faculdade de Direito e passei mais uns três anos durante os quais não frequentava a Congregação Mariana. Eu não sabia que havia uma na Paróquia de Santa Cecília.
Certo dia, indo à Missa nessa igreja, tomei conhecimento da existência da Congregação Mariana ali. Então pedi ao Diretor para ser recebido, ao que ele me disse:
— Você não pode entrar sem mais nem menos. Tem que fazer um noviciado.
— Faço o noviciado com gosto, respondi; o senhor me receba como noviço e eu entro. Mas quero adverti-lo de que eu já era congregado mariano no Colégio São Luís.
— Sim, mas nós não aceitamos. Ou você refaz seu noviciado, ou em nossa Congregação não pode entrar.
A essas alturas as águas já tinham corrido e, graças a Nossa Senhora, eu estava bem mais firme e animado do que na minha primeira admissão. Mesmo assim, fiquei muito impressionado.
Minha recepção como congregado mariano da Igreja de Santa Cecília foi feita com solenidade, pompa. Lembro-me do que senti nesta ocasião. De lá para cá tenho sido congregado mariano ininterruptamente, pela bondade da Santíssima Virgem.
(Extraído de conferência de 14/9/1985)