Um mistério encantador é-nos revelado através dos sonhos de São João Bosco. O Céu Empíreo em algo se assemelha com esta Terra, porém lá tudo parece ser de outra natureza. Isso nos faz ver esta Terra com olhos muito mais maravilháveis, porque compreendemos o fundamento que as coisas têm em Deus e passamos a buscar o sentido espiritual daquilo que nos rodeia.
Inicio a leitura do sonho de São João Bosco.
Aspecto terreno, porém de outra natureza
São João Bosco viu o pórtico do Céu Empíreo:
“De repente, parecia encontrar-me no alto de uma colina, nos bordos de uma imensa planície, cujos confins se perdiam de vista na imensidade. Era de um azul cerúleo, como o mar calmo; embora a matéria que eu via fosse água, parecia, entretanto, um suave cristal reluzente. Debaixo dos meus pés, por detrás de mim e dos lados, eu via uma região à maneira de um litoral à beira do oceano.”
A descrição é muito bonita, sobretudo vista de dentro dos olhos de um Santo. Mas ela começa por levantar um problema muito interessante, ao imaginarmos a coisa material. A ser verdadeira a interpretação, nos dá uma ideia desta Terra que é completamente nova e, por certo, antimoderna até onde possa ser; chega até os confins da antimodernidade.
Eu levanto apenas o problema, mas não vou resolvê-lo: tais descrições têm o aspecto das coisas terrenas, mas não têm a natureza dela. O que parece mar não é mar nem é água; ele dá a entender que é uma matéria de outra natureza. E aquele litoral não é um verdadeiro litoral, pois, onde não há água, não há litoral. Há um encontro de matérias diversas, parecido com uma praia, mas não é praia.
“Largas e gigantescas avenidas dividiam a planície em vastíssimos jardins de inenarrável beleza…”
Até que ponto não era água e até que ponto não era cristal? É azul, mas possuía jardins em cima. Se o compilador copiou bem, e eu creio que o tenha feito, parece real a coisa.
Um enigma a ser resolvido…
“…todos como que repartidos em pequenos bosques, prados e canteiros de flores de formas e cores diversas.”
O problema aparece de novo. Sabemos que não há plantas no Céu Empíreo. Como, então, há canteiros de flores? E por que se faz canteiro com elas? Qual é a razão de ser disso? Dir-se-ia que esse jardim foi plantado por alguém. Não é a natureza como ela brota. Deus ordenou que essas coisas se dispusessem à maneira de jardim? Entendemos que os homens façam jardins, porque dentro do mato as coisas não tomam toda sua beleza. O mato tem sua beleza específica, mas, por exemplo, um campo não pode ter a beleza de um jardim com uma coleção de rosas; o homem precisa plantá-las. O jardim tem para nós uma razão de ser, está ligado à natureza das coisas. Entretanto, no sonho, o jardim parece não estar ligado em nada à natureza das coisas. Não se vê o que justifique um jardim no Céu. E como entender um jardim que fica em cima de uma água que não é água? Ora, deve haver um pulchrum dentro disso para ser Paraíso. Qual?
“Nenhuma de nossas plantas pode dar-nos a ideia daquelas, ainda que alguma semelhança tenha. As ervas, as flores, as árvores e as frutas eram vistosíssimas e de belíssimo aspecto. As folhas eram de ouro. Os troncos e ramos de diamantes, correspondendo o resto a essa riqueza.”
Assim como o mar era de uma água que não é água e de um cristal azul que não é cristal, assim também as flores, os frutos e as folhas eram de uma consistência não vegetal, porque a criatura vegetal não entra no Céu. Eram da matéria de lá, mas com as formas que se explicam de acordo com as necessidades da matéria desta Terra.
Há aqui uma charada. Que uma árvore tenha folhas é a coisa mais natural do mundo. A folha é necessária para a árvore, não é um puro enfeite, como os de uma árvore de Natal. Também está na natureza da árvore dar a fruta. No Céu Empíreo, aqueles seres semelhantes aos minerais – eu hesito em dar essa qualificação – têm as formas dos seres daqui, mas não são os daqui. Qual é a razão de ser dessas formas?
A pergunta vai mais além, é uma análise. Por que a matéria lá tem semelhança com a nossa? Alguém dirá: “Para o homem se sentir bem lá.” Então Deus fez uma espécie de loja de brinquedo para o homem estar no Céu? Isso não é sério. A razão não é essa. Daqui a pouco eu lanço uma hipótese que tem exatamente o atrativo do incógnito. Nós devemos ser ortodoxos lobos do mar das hipóteses, sempre com o espírito obediente a Roma.
Eu estou procurando dar, na descrição, mais a beleza da incógnita do que da árvore de ouro com brilhantes. Porque uma árvore de ouro com brilhantes, um fabricante de joias falsas faz e qualquer um a toma como verdadeira. O problema é discernir o sentido espiritual e, ir em busca disso mais do que da pura descrição material.
“Impossível é contar as diferentes espécies…”
Portanto, há espécies diversas dessas “plantas”.
“E cada espécie e cada flor resplandecia com uma luz especial.”
Cada um desses seres deita focos luminosos não só de acordo com sua natureza, mas com sua individualidade, como na Terra as rosas são belas, mas cada espécie de rosa tem um tipo de beleza própria; assim também é a variedade prodigiosa dessa criação celeste, desse pequeno universo celeste. Cada uma com uma luz própria, que simboliza uma perfeição de Deus. É para nos falar de Deus, de Nossa Senhora, dos Anjos e dos Santos.
“No meio daquele jardim e em toda a extensão da planície, eu contava inúmeros edifícios de uma ordem, beleza, harmonia, magnificência e proporção tão extraordinárias, que para a construção de um só deles não poderiam ser suficientes todos os tesouros da Terra.”
São João Bosco viu uma planície magnífica, um jardim de uma cidade com palácios incontáveis. É uma cidade. Pode até ser uma praça pública de uma cidade. Ora, sabemos que ninguém mora em casas no Céu. Qual é o sentido dessas casas, dessas fachadas? Por que isso é assim? Qual é o mistério encantador, mas meio desconcertante, dentro do qual caminhamos?
Um bonito problema: a relação da natureza celeste com as formas geométricas
“Eu dizia de mim para comigo: se meus meninos tivessem uma só dessas casas, como gostariam, como seriam felizes e com quanta alegria viveriam dentro dela! E isso eu pensava quando só podia ver esses palácios por fora. Como não seriam por dentro?”
Esses palácios, que não são palácios, têm um interior. Não são meras fachadas, porque não pode haver engano no Céu. E se eles têm ar de possuir um interior, é porque o possuem. Para que serve o interior desses edifícios? Haverá uma arte decorativa lá? Haverá espelhos? Haverá quadros pintados por Anjos? Haverá tapetes de alguma Pérsia indescritível, ou serão diretamente criados por Deus?
A resposta não é muito fácil de dar, porque sou obrigado a responder em termos puramente geométricos.
Tomemos as figuras geométricas: um quadrado, um losango, um círculo. Pensando bem, a natureza humana não vive sem ter coisas que representem formas geométricas para ela. De tal maneira são feitos nosso intelecto e nossos sentidos, que precisamos ter contato e viver dentro de um universo definível em formas geométricas. Fora disso nós estaríamos mais ou menos como quem avança em voo cego dentro de uma nuvem. É como viajar de avião. Tem-se a impressão, completamente sem graça, que se está passeando dentro de uma garrafa de leite. Nuvem, nuvem, nuvem, não se vê a paisagem, nem a cidade, é um elemento gasoso e molhado que se condensa em gotinhas sujas na asa do avião, que depois o vento leva e que se desintegram dentro da massa úmida da qual se destacaram pela pancada da asa do avião. O que é isso? Eu olho com tédio e digo: “Oh, caceteação! Se ao menos ali se desenhassem figuras geométricas, se aquilo tivesse o aspecto de um caleidoscópio, onde as formas passeiam diante do homem, como para o encantar… Sou o menos geométrico dos homens, mas como a natureza humana tem avidez da geometria!
E aqui entra um problema bonito: qual é a relação dessa natureza com a geometria? Entra ainda um outro problema: essas formas geométricas, de que a alma humana é tão sequiosa, não representam simbolicamente propriedades de Deus, sem cuja consideração o homem não pode viver?
Então, as coisas não são redondas, quadradas ou losangulares, principalmente por causa da natureza delas, mas elas são assim porque nos dão uma ideia de Deus? E Deus as criou com essa natureza, em primeiro lugar, para nos dar uma ideia d’Ele mesmo e, em segundo lugar, atendendo às necessidades naturais delas. Mas a razão de ser dessas formas todas é muito menos a natureza das coisas do que o próprio Deus.
Está dito no Gênesis: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26) e “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). A razão de ser profunda pela qual as coisas têm as formas que têm não é a natureza delas, mas é porque Deus quis que tivessem aquelas formas para Ele contemplar. E isso porque elas têm uma certa semelhança com Ele. Uma semelhança inefável, que não se pode exprimir em palavras humanas.
Semelhanças de Deus no Céu e na Terra
Quem sabe, então, se todo o Céu Empíreo é uma imensa repetição, de forma magnífica, de puras formas, puras cores, puros sons, puros deleites que têm seu fundamento em Deus e que ali nos deixam vê-Lo melhor? Olhando para as coisas desta Terra, nós devemos também não nos contentar com a explicação científica, mas pensar: por que a laranja tem, vagamente, a forma de uma esfera? Não é pelas razões que a natureza da laranja explica, mas é porque Deus queria que houvesse seres esféricos e houvesse esferas cor de laranja, com gosto de laranja, para melhor assemelharem-se a Ele. É mais ou menos como um jogo de espelhos.
O caldo da laranja está dentro dela e ele se explica mais em função de Deus do que de si próprio. Como Deus, sendo infinitamente superior à laranja, de algum modo Se reflete nela? Porque há uma semelhança ali. Como é essa semelhança? É dificílimo ter uma ideia. Mas vale a pena aguçar o espírito pensando nisso e como que procurando prelibar.
Dessas considerações vem o verdadeiro prazer da vida, pois isso nos faz ver esta Terra com olhos muito mais maravilháveis, porque compreendemos o fundamento que essas coisas têm em Deus.
Certas aulas de ciência natural quase amputam isso, dando a pura explicação botânica da forma de uma laranja; não oferecem uma formação pela qual se dá o complemento filosófico, metafísico e até, eventualmente, com algum fundamento na Revelação a respeito da natureza da laranja. Então, fica-se com a ideia de que o mundo é assim, só porque ele é assim.
Ora, ele é assim para ser semelhante a Deus, que no mais alto do Céu é assim.
E nós temos outra noção de tudo quanto nos cerca. Quando se vê um homem construir casas – Felipe II construindo o Escorial, ou levantar-se em Paris a Catedral de Notre-Dame –, nós pensamos em tudo quanto deu razão de ser àquilo; mas esses homens, agindo retamente segundo seu senso artístico, faziam coisas que espelhavam a Deus. Era uma semelhança nova de Deus que vinha nascendo.
Daí compreendemos que todo esse Céu Empíreo é muito mais semelhante a Deus do que o nosso. E nisso tem uma beleza que não podemos imaginar como é, mas da qual podemos ter uma ideia através desta reflexão.
Então as coisas se explicam mais por Deus do que pela Terra.
Harmonia celeste e uma orquestra de cem mil instrumentos
A laranja não é um exemplo bem escolhido. Outro exemplo melhor é a música, porque é muito mais espiritual do que uma coisa que se come. Os comestíveis não continuarão no Céu, porque o homem não terá fome. Mas a música continuará, como veremos em breve. A música da Terra é um reflexo da música do Céu, que é um reflexo da música dos Anjos, que é, por fim, reflexo da harmonia interna e insondável das Três Pessoas da Santíssima Trindade.
Quem estudasse harmonia musical, por exemplo, deveria pensar como tudo quanto está aparecendo ali é, de algum modo, um reflexo das Três Pessoas da Santíssima Trindade, de sua vida interna ou da glória extrínseca dessas Três Pessoas Divinas. Aí apareceria para os músicos a verdadeira inspiração.
Fizemos assim uma espécie de digressão pelos mistérios do Céu Empíreo, vimos o habitat; veremos agora os que moram ali. O sonho vai começar a se encher de gente nesse ambiente maravilhoso. Como são essas pessoas e que tipo de felicidade gozam lá?
“Enquanto eu contemplava extasiado tão estupendas maravilhas que adornavam aquele jardim, chegou-me aos ouvidos uma música dulcíssima, de tão grata harmonia, que eu não vos posso dar uma ideia adequada de como era. Eram cem mil instrumentos que produziam cada um som diverso do outro.”
A música devia ser harmônica com as impressões que o jardim produziu. São João Bosco, à medida que prestava atenção, distinguia e caracterizava os instrumentos, mas que não são os nossos miseráveis violinos e pianos. Tudo isso é nada em comparação com essa orquestra. E vem aqui algo de que eu gosto muito:
“A esses uniam-se os coros de cantores.”
O mais belo instrumento que há é a voz humana. Por causa do pecado original não se nota isso. Ao ouvir uma harpa julgamos que é mais bela do que qualquer cantor. Mas no Céu a voz humana dos coros gloriosos é mais bela do que todos os instrumentos. E esse cântico maravilhoso é mero fundo de quadro para o cântico dos bem-aventurados. Aí compreendemos bem o papel da música instrumental com canto.
Gáudio da simpatia e da plena compreensão mútua
“Então, havia uma multidão de gente que naquele jardim se encontrava e que se regozijava, alegre e contente.”
Dom Bosco via uma multidão proporcionada com a capacidade dele de prestar atenção em cada um; eles andavam sem se comprimir, tão em harmonia uns com os outros que, quando se viam, se agradavam, cheios de gáudio.
Esse gáudio da simpatia mútua e da plena compreensão não existe nesta Terra. É exatamente como se deve ver a Terra. Um de nossos grandes erros na fase da adolescência é procurar gente que seja consonante conosco segundo esse modelo ideal. Porém, recebe-se cada pontapé de sair chiando! A razão é porque o trato como descreve São João Bosco só se encontra no Céu. Na Terra nós te mos que tolerar cada casca-grossa e cada imperfeição do arco-da-velha! Essa é a vida. No Céu o convívio é outro.
“Alguns cantavam, outros tocavam. Cada nota fazia o efeito de mil instrumentos reunidos.”
Imaginar um instrumento que faça o efeito de mil…!
Faço aqui um parêntese todo pessoal: um dos encantos que eu tenho pelo órgão. Ao tocar cada nota, ele me dá a impressão de haver uma porção de instrumentos que tocam ao mesmo tempo. Por isso acho-o, a perder de vista, superior a qualquer outro instrumento. Lembro-me de que quando comecei a prestar atenção nele eu pensava: “As pessoas não percebem que isso é um concerto de concertos? Falam em dó, ré, mi. No órgão há isso, mas sobretudo existe mais. No piano existe um “lá”, mas no órgão existe um universo de “lás”, acentuado ainda por aqueles registros que dão uma ideia global do universo dos sons.” É a perfeição das perfeições em matéria de harmonia.
“Ouviam-se os vários graus de escala harmônica, desde os mais baixos aos mais altos que se possa imaginar. Mas tudo em acordes perfeitos. Ah! para descrever essa harmonia não bastam comparações humanas! Via-se pelo rosto daqueles felizes habitantes dos jardins que os cantores não só experimentavam extraordinário prazer em cantar…”
O que torna o canto particularmente deleitável: quando a pessoa canta um canto perfeito e notam-se nela as harmonias perfeitas da alma perfeita, na alegria perfeita.
“…mas, ao mesmo tempo, sentiam um imenso gáudio em ouvir cantar os demais.”
Isso é um senso de harmonia pouco comum. Um cantor gostar de ouvir outros cantores ao invés de fazer solo, não é comum… Um músico gostar de ouvir os outros tocarem tão bem ou melhor do que ele na orquestra onde apenas ele tenha um clarinete… No Céu é diferente: “Este, como canta bem! E aquele, como é estupendo! Canta ainda melhor!” É um universo sem inveja.
“Mais um cantava, mais se acendia nele o desejo de cantar e quanto mais escutava, mais desejava escutar.”
É a convivência e a harmonia perfeitas da alma descrita de modo a impressionar a imaginação. Está contido aqui um verdadeiro tratadozinho de Filosofia ou de Moral.
Cântico sobrenatural cheio de pensamento
“Este era um dos cantos: Salus, honor, gloria Deo Patri omnipotenti, Auctor sæculi, qui erat, qui est et qui venturus est, judicare vivos et mortuos, in sæcula sæculorum.”
Podemos imaginar um pouco as inflexões. “Saudação, honra, glória a Deus Pai onipotente, Autor de todos os séculos, que era, que é e que será, e que virá julgar os vivos e os mortos nos séculos dos séculos.”
Ora, cada palavra dessas contém um pensamento; e cada pensamento desses é susceptível de ser musicado. Porque não há um pensamento que não seja susceptível de ser musicado. É questão de ter talento e saber musicar.
Podemos imaginar esse “salus” contendo a nobreza de todas as reverências, a humildade de todas as genuflexões e o élan de alma de todas as orações que nos ritos orientais católicos se fazem de pé.
“Honor”, falando da honra de Deus, que repercussões tem! A palavra honra, nas línguas que eu conheço, como no francês “honneur”, é sempre muito bonita. Mesmo nas línguas de origem não latina, como o alemão, “Ehre”, com h, porque sem h a palavra não valeria nada. É solene, superior, honorífica. Como é bonita honneur! E como é bonita honra! Algo do pulchrum da ideia da honra se musica na própria palavra.
E eu tenho a seguinte impressão: que na linguagem que se perdeu na torre de Babel, mas que ainda vinha do Paraíso, as palavras musicavam os conceitos. E isso desapareceu para castigo nosso e deu nessa Babel em que vivemos. Mas isso cantado deveria ser assim: “salus”, uma profunda reverência; “honor”, um temor reverencial e um respeito; “gloria”, uma explosão diante da manifestação de Deus. Três estágios da representação da música.
Agora, não sei como pronunciar essa palavra “Deo”, porque a palavra Deus é tudo: é inefável, é perfeita. Quem poderá musicá-la? Talvez os lábios da Santíssima Virgem e, assim mesmo, à maneira de uma criatura. Entretanto, podemos ter uma ideia. Ouve-se um pouco desse som no Evangelho quando Nosso Senhor reza: “Meu Pai.” Aí transparece algo da vida trinitária. Mas é algo, não conseguimos atingi-la.
Em seguida cantam: “Patri omnipotenti”: Deus Pai; Pai, enquanto gera o Filho e procede d’Eles o Espírito Santo, mas também porque é Pai de todos nós. Depois de pronunciar a palavra inefável “Deus”, pronunciar a palavra “Pai” demonstra a intimidade, a junção, o afeto. Onipotente é uma exclamação que eu imaginaria quase militar da glória de Deus.
Depois eu imaginaria uma cadência: “Auctor sæculi”; o tempo foi criado por Ele. Isso deixa ver uma eternidade misteriosa para trás e uma outra para frente. “Auctor”, Aquele que fez. E fez o quê? Os séculos, procissão grandiosa das centúrias andando pela História! Isso deve ser musicável.
Para indicar bem o tamanho desses séculos, o cântico continua: “qui erat, qui est et qui venturus est” – que foi, que é e que será. Abrange tudo, e, no fim, um misto de glória e de castigo: virá para julgar os vivos e os mortos. Encerram-se os séculos com chave de ouro. Acaba o tempo e o destino é eterno. Os bem-aventurados do sonho já estão julgados. Esperam no Céu apenas os seus próprios corpos. Isso é uma beleza!
E termina “in sæcula sæculorum”, a melodia se esvai de repente e se dilui numa música diferente.
(Extraído de conferência de 8/9/1979)