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“Martelo” contra a heresia protestante

São Roberto Belarmino foi um Santo onímodo, recebendo de Deus a tríplice vocação de ensinar os fiéis, de orientar a piedade das almas sendo diretor espiritual exímio e de confundir os heréticos protestantes de sua época. Foi um homem de autêntica ação contrarrevolucionária, uma fortaleza que combateu pela Santa Igreja Católica em todas as direções.

Temos aqui dados sobre São Roberto Belarmino, bispo, confessor e Doutor da Igreja, tirados da Vida dos Santos do Pe. Rohrbacher1, do L’Année Liturgique de Dom Guéranger e de Schamoni, O verdadeiro rosto dos Santos2.

Santo com uma tríplice vocação

Desde as origens da Igreja até nossos dias, jamais a Providência deixou de suscitar homens ilustríssimos pela ciência e santidade, pelos quais foram conservadas e interpretadas as verdades da Fé Católica e refutados os ataques com os quais os heréticos refutavam essas mesmas verdades.

Entre tais homens brilha São Roberto Belarmino, tão célebre pelo seu ensino e suas obras polêmicas, como por seu zelo pela reforma da Igreja e por suas virtudes. De fato, parece que o Santo cardeal recebeu de Deus a tríplice vocação de ensinar os fiéis, de orientar a piedade das almas e de confundir os heréticos protestantes de sua época, que era o século XVI, o século da plena efervescência do protestantismo.

A vida de São Roberto Belarmino nos oferece um espetáculo diferente das dos Santos de hoje e de seu tempo. O modo de este Santo atuar é diferente dos Santos de duzentos anos antes dele, porque ele é, ao mesmo tempo, um misto de pastor de almas, de homem de ação e de teólogo, consagrando toda a sua vida a uma luta contra um adversário que tomou uma consistência e um porte que nenhuma das heresias anteriores havia tomado.

Se os Santos anteriores lutaram contra heresias, poucos foram os que consagraram toda a sua vida à luta exclusiva contra uma heresia.

Nascido a 4 de outubro de 1542, em Montepulciano, Toscana, de uma fina família de alta nobreza, Roberto Belarmino ingressou em 1560 na Companhia de Jesus. Foi decisiva para sua atividade científica posterior que a Ordem o enviasse a Louvain, em 1569, para que realizasse estudos na famosa Universidade, então um dos principais bastiões contra o protestantismo.

Lavinia Fontana (CC3.0)
Vista de Montepulciano, cidade natal de São Roberto Belarmino, Itália

Entre 1570 e 1576, Belarmino aí pregou com grande êxito como professor de Controvérsia Teológica.

Gregório XIII o chamou, então, para Roma, quando já se havia convertido numa grande figura europeia, para que tomasse a seu cargo os alu nos que frequentavam os colégios alemães e ingleses, preparando-os para as batalhas espirituais que deveriam enfrentar em seus respectivos países.

A Santa Sé deu-lhe apoio para formar, em Roma, os seminaristas dos países protestantes muitas vezes fugidos para a Cidade Eterna, onde iam estudar para serem sacerdotes, a fim de depois voltarem ao local do protestantismo e ali desenvolverem seu apostolado.

Ele os formou, deu a eles livros de sua autoria para refutar o protestantismo, e é um dos Santos aos quais se deve este fato importantíssimo, que é a preservação da Áustria da gangrena protestante e a recuperação de mais ou menos um terço da Alemanha para a Religião Católica.

Chensiyuan (CC3.0)
Papa Gregório XIII

O que isto representou para o futuro da Igreja foi algo fabuloso, porque todo o curso da História teria mudado se São Roberto Belarmino e outros Santos não tivessem obtido essa recuperação da Alemanha.

Herói na luta contra o Protestantismo

Possuía uma grande inteligência, graças à qual lhe era possível ordenar e dominar o imponente número de matérias que cultivava. Uma memória tal que lhe permitia reter tudo quanto havia lido numa só vez. Um conhecimento dos Padres da Igreja e dos teólogos mais famosos que despertava um verdadeiro assombro. Um domínio dos vários idiomas e um estilo ameno e fluído. Tudo isto, capacitando o Santo para empreender as obras mais brilhantes.

O Geral da sua Ordem, que viu em Belarmino o seu sucessor, colocou-o à frente das tarefas administrativas com a finalidade de dar algum descanso ao Santo, que sentia terríveis dores de cabeça.

Clemente VII o nomeou cardeal. Disse o Papa na ocasião: “Nós o nomeamos cardeal porque ninguém na Igreja de Deus se iguala em saber, e por ser sobrinho de Marcelo II.”

Em 1602, entretanto, o mesmo Papa o designou Arcebispo de Cápua. Em 1605, Paulo V voltou a chamá-lo para Roma.

São Roberto Belarmino fez outras coisas que não a luta contra o protestantismo. Mas a nota fundamental de sua vida foi a de ser um grande herói na luta contra essa heresia.

Ele foi herói em dois sentidos da palavra: em primeiro lugar, porque a Providência lhe deu qualidades intelectuais extraordinárias para pôr a serviço de sua missão de polemista. Qualidades intelectuais que não só lhe facilitavam a polêmica, mas lhe davam muito prestígio, numa época em que, para ter glória, valia a pena ser inteligente. Hoje não é necessário ter cultura ou inteligência, mas é preciso ser demagogo, vulgar.

Luigi Santoro(CC3.0)
Colégio Romano, escola fundada pelo Papa Gregório XIII onde São Roberto Belarmino lecionou

Por outro lado, ele tinha todos esses dons para que sua obra fosse profunda e certeira. Com efeito, as devastações que ele fez contra o protestantismo foram tremendas, especialmente nos países já protestantes.

Recebeu o título elogioso de “martelo da heresia”

Foi grande como pregador, professor e polemista, tendo recebido de Bento XV o título de “martelo da heresia”. Escreveu muito e sobre o valor de seus livros nada é mais necessário do que transcrever o que deles dizia São Francisco de Sales, seu contemporâneo e amigo: “Preguei em Chablais durante cinco anos sem outros livros que a Bíblia e as obras de São Roberto Belarmino.”

Sua obra mais famosa é Controvérsias, compilação de suas aulas dadas no Colégio Romano. Nelas, recolhendo o testemunho dos Padres, dos Concílios e do Direito da Igreja, defende vitoriosamente os dogmas atacados pelos luteranos. Clara, equilibrada, enérgica, esta obra é tão magistral que muitos consideram nunca ter sido superada nos séculos posteriores. Na época de sua publicação, provocou tanta satisfação no campo católico, quanto cólera no campo adversário, onde o protestante Teodoro de Beza dizia, referindo-se a ela: “Eis o livro que nos perdeu.” Sua leitura foi proibida na Inglaterra pela Rainha Isabel I a quem não fosse doutor em Teologia, sob pena de morte, tal o número de conversões que operava.

Não se satisfazendo em convencer os hereges de seu erro, queria também prevenir os simples fiéis contra a propaganda dos hereges e, para este fim, compôs seu notável e pequeno catecismo, que fazia questão de ensinar, ele mesmo, às crianças e às pessoas simples, por mais importantes que pudessem ser suas ocupações. Tal catecismo ainda hoje se utiliza na Itália e foi traduzido em sessenta idiomas.

Vamos considerá-lo enquanto homem que luta contra as heresias. São Roberto Belarmino era uma pessoa chamada, elogiosamente, pelo Papa Bento XV, “o martelo dos hereges”, alcunha que a Igreja tem dado a alguns grandes Santos, os quais produziram contra a heresia danos muito particulares.

Como “martelo dos hereges”, escreveu uma porção de livros demonstrando a verdade e atacando com dureza os hereges. Esses duros ataques converteram muitos deles. Primeiro testemunho disso é o de Teodoro de Beza, protestante máximo e sucessor de Calvino; foi o famoso protestante com quem São Francisco de Sales teve sua célebre discussão. Depois também o pânico de Isabel, a não-católica, a horrenda, a tal ponto que quem não fosse doutor em Teologia seria morto se lesse o livro dele, tal o número de conversões que operava.

Não basta ensinar o bem, é preciso também atacar o mal

São Roberto Belarmino entendeu que não se pode destruir a heresia apenas ensinando a verdade, mas é preciso também atacar o erro. Além de propugnar o bem, é preciso atacar o mal. Ele entendeu que por essa forma se operavam conversões e, portanto, se trabalhava pela união da Igreja.

Ele foi canonizado, ou seja, agiu de acordo com as quatro virtudes cardeais: a justiça, a prudência, a temperança e a fortaleza. Ora, se o método dele fosse errado, ele não teria sido justo, porque teria feito ataques inúteis; ele não teria sido prudente porque teria adotado uma tática que chegava ao resultado oposto àquela que ele devia seguir; ele não teria sido forte porque não teria sabido dominar o seu desejo de atacar os adversários; ele não teria sido temperante pela mesma razão.

A vida dele é uma prova viva do princípio de que não basta ensinar o bem e a verdade, mas se deve atacar o mal e o erro, e isso é o eficiente. Quem quiser trabalhar pela conversão das igrejas à Igreja Católica, trabalhará de um modo sumamente eficaz se fizer a mesma coisa; e se houvesse em nossa época cem São Robertos Belarminos fazendo obras tão eficazes quanto as dele, poderia decerto converter a maior parte dos hereges.

Gabriel K.
Relíquias de São Roberto Belarmino – Igreja de Santo Inácio, Roma

Isso serve para nós nos defendermos do erro espalhado com tanta frequência de que toda polêmica e todo ataque ao adversário é prejudicial à união das igrejas, e de que toda a obra de apostolado só consiste em elogiar e em aplaudir, nunca em ata car, porque atacar é inútil e até contraproducente, pois afasta as pessoas. Esse argumento pode ser usado de boca cheia, porque aqui está um Santo de altar cuja vida não foi outra coisa senão ininterruptamente isso.

Delicadíssimo burilador de almas

É preciso dar mais um dado empolgante de sua vida que aqui não está mencionado: São Roberto Belarmino foi um grande diretor de consciências. Coube-lhe a glória de ser o confessor e o diretor espiritual de São Luís Gonzaga, a alma virginal, delicadíssima que deveria servir de modelo às cortes e às várias classes sociais da Europa que, mais do que nunca, estava afundada na impureza.

Vejam a beleza dos contrastes harmônicos dentro da Igreja. Um tal campeão contra a heresia, um tal campeão da ortodoxia, ao mesmo tempo que era um grande lutador, era um burilador de almas delicadíssimo. A alma tão varonil, mas tão delicada de São ­Luís Gonzaga – difícil de compreender –, como ele soube orientar e como ele fez dessa alma uma verdadeira obra-prima de santidade! Por que difícil de compreender? Era tal a virtude de São ­Luís Gonzaga que, naqueles tempos áureos da Companhia de Jesus, os biógrafos contam que alguns achavam que a pureza dele era a de um desequilibrado, quando era a de um Santo.

São Roberto Belarmino, com um olhar de verdadeiro Santo, soube ver até o fim o valor dessa alma, dirigiu-a de acordo com sua própria via. De suas mãos saiu essa obra-prima que é a alma de São Luís Gonzaga, levando-a até a honra dos altares, depondo até em seu processo de canonização. Só isso bastaria para encher a vida de um homem.

Santo onímodo e grande contrarrevolucionário

Chegando ao fim de sua vida, retirou-se São Belarmino ao noviciado que sua Ordem tinha em Roma, com a ideia de preparar-se para bem morrer.

Samuel Hollanda
São Luís Gonzaga – Paróquia Thannenkirch, Alsácia

Além de outras famosas publicações e de uma numerosíssima correspondência, escreveu, no fim de sua vida, notas espirituais, frutos de suas meditações e de seus retiros, que foram cinco pequenos tratados ascéticos, reveladores da beleza da alma do autor. Sua última produção foi, simbolicamente, A arte de bem morrer.

Vemos nele, então, uma grande figura, que nos mostra como a Igreja conseguiu pôr diques ao protestantismo e até fazê-lo recuar em uma parte, porque, hélas, as correntes protestantes ainda vivem. A vida de São Roberto Belarmino é também uma obra-prima de serenidade abacial, dentro do auge da luta.

Cardeal ocupadíssimo, entretanto, ele sabia de tal maneira temperar o uso do tempo, dispor bem das suas coisas, que ele encontrava momentos de calma, de lazer, para pensar e para escrever obras tão profundas, que ele chegou a ser Doutor da Igreja. Vê-se que foram horas e horas de serenidade, de meditação e de estudo, enquanto rugia a batalha contra o protestantismo. Que linda ilustração do livro de Dom Chautard, A alma de todo o apostolado!

Pouco depois de seu falecimento, em 1621, deram-se os primeiros passos para a sua canonização que, entretanto, só foi conseguida em 1923.

Em São Roberto Belarmino temos um modelo de grande contrarrevolucionário. Que ele reze por nós e nos ensine a praticar a sua virtude.

(Extraído de conferências de 12/5/1966 e 12/5/1967)

1) Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. v. VIII, p. 318-325.

2) Cf. SCHAMONI, Wilhelm. El verdadero rostro de los Santos. Ed. Ariel, 1952.

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