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Beleza e esplendor da consagração a Nossa Senhora

A Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, pelo método de São Luís Grignion de Montfort, comporta uma espécie de intimidade com a Santíssima Virgem na qual Ela aceita, benignamente, o modo de ser de cada um dos que a Ela se consagram. Nada é padronizado. Nisto se revela a beleza da obra d’Ela, fazendo-Se conhecer de modo íntimo e diversificado, de acordo com cada alma.

Meus caros, saúdo a todos com afeto muito especial, nesta noite tão bela e de tanta significação para nossas vidas.

Magnífica cerimônia de consagração

Participamos de uma linda cerimônia. Vimos a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso entrar triunfalmente neste auditório, precedida e seguida por eremitas de São Bento e Præsto Sum.

Cerimônia em que, de modo verdadeiramente magnífico, os jovens que acabaram de se consagrar a Nossa Senhora evoluíram sobre este espaço livre, manifestando por várias formas, não só por seus cânticos, não só por sua atitude, mas também por todo o cerimonial que se realizava, o seu entusiasmo. Foi recitado o Ofício, há pouco foi cantado o Magnificat, para agradecer à Santíssima Virgem o ato de benevolência que Ela teve no momento em que ratificaram, aceitaram a consagração como escravos d’Ela, para todo o sempre.

As luzes coloridas do teto arrancaram exclamações de alegria, as músicas estiveram magníficas, o cântico esteve excelente; tudo esteve ótimo.

Entretanto, quando o católico considera essas coisas à luz da Fé, quão mais belas elas são! Quão mais bela é a vida, quão mais belos são os espaços que se desenvolvem diante da mente do católico quando ele sabe considerar, à luz da Fé, os objetos que ele vê com a luz elétrica ou com a luz do dia.

Samuel Holanda
Nascimento da Virgem Maria – Museu do Louvre, Paris

O significado deste ato de consagração, entretanto, tão bem simbolizado, lucrará ainda mais se ele for definido bem exatamente nesta noite.

Um ato belo, revestido de realidades sobrenaturais

O que se passou aqui?

Na aparência foi isso: alguém de boa vontade, verdadeiramente devoto de Nossa Senhora, fez uma exposição a respeito do que era a devoção a Ela segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, um dos maiores santos mariais de todos os tempos. Jovens, vindos de mais de um país, de mais de um recanto do Brasil aceitaram essa exposição, num ato de confiança à Santa Igreja Católica Apostólica Romana, uma vez que foi dito e foi constatado no Tratado da verdadeira devoção, que essa doutrina é aprovada pela Santa Igreja.

Além do mais, pela exposição, pôde-se realizar que esta é a atitude razoável, a posição verdadeira, inteiramente coerente, que o católico toma com aquilo que a Igreja lhe ensina a respeito da devoção a Maria. A levar esta devoção às suas consequências lógicas, últimas, o homem entrega a Nossa Senhora “sua alma e seu corpo, seus bens interiores e exteriores”, para que Ela disponha de cada um como bem entenda. Maria Santíssima se torna Senhora dos que a Ela se consagraram, dirigindo um a um, por toda a vida, no tempo e na eternidade.

Como tudo isso se fez belamente na Terra! Quanto mais isto é belo se nós atentarmos para as realidades sobrenaturais que estão aí.

Quando se vê uma pessoa jovem, com vida, disposta, caminhando pela existência, com força, energia, ênfase e resolução pensa-se: “Como é bela a vida!” Mas a Fé nos ensina que esta é a vida dada por Deus a cada homem. Ele criou o primeiro casal, Adão e Eva, eles se multiplicaram, encheram a Terra; essa vida se transmite de pai para filho. Mas, no primeiro momento da concepção, Deus incute uma alma espiritual, imortal, feita à imagem e semelhança d’Ele. Primeira maravilha.

Segunda maravilha: o homem é um compêndio, um resumo de tudo quanto existe na Criação, ele é o rei da Criação visível. E quando uma criança nasce e pouco depois, como costuma acontecer nos países católicos, é levada para o Batismo, aí uma outra vida misteriosa se soma àquela que o homem já tinha em si.

Se Nossa Senhora é, como sabemos que é, a Mãe de Deus; se a Ela nós devemos o Corpo sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo, gerado nas suas entranhas puríssimas; se nesse corpo Deus infundiu a alma humana de Nosso Senhor Jesus Cristo e, pela união hipostática, o uniu à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, e Ela O amou com todo o amor que nós podemos imaginar, quer dizer, nunca ninguém teve um Filho tão perfeito como Ela; nunca ninguém teve um Filho tão digno de ser amado como Ela.

Esse Filho não era apenas Filho, mas era o Deus d’Ela! Sublime paradoxo! Aquele que era Filho d’Ela criou-A antes de todos os séculos! Ou, por outra, destinou-A, antes de todos os séculos, a ser criada no momento exato em que São Joaquim e Sant’Ana A trouxeram à vida.

Flávio Lourenço
À esquerda, Anunciação – Museu do Palácio Barberini, Roma. À direita, encontro de Nosso Senhor com Maria Santíssima, a caminho do Calvário – Catedral de Notre-Dame, Antuérpia, Bélgica

Flávio Lourenço

Se isso é assim, Ela adorou, no sentido próprio e exato da palavra, o seu Divino Filho. Nosso Senhor Jesus Cristo é o oceano infinito de todas as perfeições, Ele está ressurrecto e sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso, à espera do momento de descer à Terra e de proclamar o fim do mundo e o juízo dos homens, e levar ao Céu todos aqueles que Ele escolheu.

Dois convites recebidos por Nossa Senhora

Adão e Eva pecaram. Era preciso que alguém pagasse o pecado deles. E Nosso Senhor Jesus Cristo entregou-Se à morte por desígnio do Padre Eterno para redimir o gênero humano.

Entretanto, o Padre Eterno não teria aceitado essa entrega se, consultada Nossa Senhora, Ela não tivesse dito que estava de acordo. São os dois convites que Ela recebeu: primeiro para ser Mãe de Deus. Ela disse “Sim!”; ato contínuo o Divino Espírito Santo gerou n’Ela Nosso Senhor Jesus Cristo. Pode-se imaginar como Ela O adorou, como O amou!

D’Ela, a quem Deus deu tanto – o que o próprio Deus, que tem tudo, pode dar mais a uma pessoa do que a condição de Mãe de Jesus Cristo? –, Ele também pediu d’Ela algo que vai além de toda cogitação e de todo limite: o Filho que Lhe tinha dado!

Portanto, o outro convite recebido por Ela foi o de concordar em que esse Filho que Ela adorava fosse entregue à morte por verdugos miseráveis, para o bem do gênero humano. E Ela sabia que se Ela dissesse “não”, isso não aconteceria. O gênero humano não estaria resgatado… A Santa Igreja Católica não existiria, nós não nos conheceríamos… Tudo isso seria nada! Tudo existe porque Ela disse: “Eu estou de acordo. Mate-se o meu Filho!” E na dor, Ela O acompanhou até o alto do Calvário.

Incomparável ato de amor

E, como sabemos, todos fugiram, todos O abandonaram, Ela não! Ela estava de pé! São João Evangelista, que no momento de fraqueza no Horto das Oliveiras também fugiu, tinha voltado. E Nosso Senhor antes de morrer pôde dizer a Nossa Senhora: “Mãe, eis aí teu filho” (cf. Jo 19, 26). E a ele: “Filho, eis aí tua Mãe” (cf. Jo 19, 27).

No momento em que, com dores indizíveis, no alto do Gólgota, Nosso Senhor expirava; no momento em que Ele dizia: “Eli, Eli, lamma sabactani? – Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?!”(Mt 27, 46), e depois, inclinando a cabeça disse: “Tudo está consumado!” (Jo 19, 30) expirou, morreu por nosso amor, conseguiu de Deus o perdão pelo pecado cometido por Adão e Eva. Ele nos resgatou do pecado original e abriu para nós as portas do Céu. Nessa ocasião trágica, terrível, Ele obteve para nós um dom maravilhoso: a graça.

Arquivo Revista
Dr. Plinio com alguns discípulos, em 1991

Aí o sacrifício de Nossa Senhora chegou ao máximo, porque Ela viu morto o seu Filho, que era o Autor da vida! E Ela teve em vista na hora desse sacrifício todos os homens, mas individualmente. Ela pensou em mim, Plinio, e em cada um dos que se encontram aqui. E teria concordado com esse sacrifício, ainda que fosse para a salvação de um só de nós.

À vista de tanto amor, de tanta bondade, há algo de mais razoável do que nós “pagarmos” a Ela, dando-lhe toda nossa vida? Parece algo de extraordinário nós darmos a Ela nosso corpo, nossa alma, nossos bens interiores e exteriores. Ela deu por nós o seu Filho! O que somos em comparação com isso? O presente que nós damos: as nossas pessoas… Não há comparação!

Se se tomasse a menor das formigas e se comparasse com todo o universo, a distância seria menor do que entre o maior dos homens que houve, haja e haverá, e Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque Ele, como Homem-Deus, paira infinitamente acima de todas as criaturas. Esse foi quem Ela nos deu! Nós nos damos e achamos que damos muito?

Nesta noite praticou-se um ato de gratidão, um ato de amor.

O papel da graça

Houve mais. Quando ouviram falar pela primeira vez da devoção a Nossa Senhora, da escola de espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort, julgaram estar se passando uma coisa natural.

A Doutrina Católica nos ensina que nenhum homem é capaz de qualquer ato baseado na fé, sem o auxílio da graça. É por causa desse auxílio que nós cremos, amamos. E para cada passo que damos na fé e no amor de Deus, vem antes a graça e nos dá conhecimento e vontade de realizá-lo. Isso se passa em nossas almas sem que nós o percebamos.

Como é belo ver meus filhos que estão aqui e que acabam de se consagrar a Nossa Senhora! Quantas dificuldades tiveram para chegar até esse passo. Como chegaram até aqui? Foi a graça que os fez conhecer outros “enjolras” que os convidaram para este ato.

Como foi isso? Quem os levou a se aproximarem de um jovem que possivelmente fez uma abordagem na rua, convidou-os para ir para a Sede, como foi? Cada um procure se lembrar como foi o primeiro contato, a primeira conversa. Naquele momento, viam apenas um rapaz da mesma idade que lhes dirigia a palavra. Mas, de fato, o Anjo da Guarda pairava sobre cada um e ajudava no íntimo da alma a que recebesse bem a palavra daquele “apóstolo”.

Gostaram, aceitaram o convite, foram pela primeira vez às Sedes, acharam interessante, sentiram-se agradados com o ambiente, voltaram para casa entusiasmados, com saudades… “Quando chegará o próximo domingo?” Pensavam que eram saudades dos amigos. Não! Era Deus, pela sua graça, a rogos de Maria, que atuava na alma de cada um.

Em certo momento, ouviram a exposição da doutrina de São Luís Grignion de Montfort. E lhes foi perguntado: “Querem isso?” E responderam: “Queremos!” Nesse momento houve uma graça para quererem, resolverem vir para fazer essa consagração. Foi uma graça que os levou a isso. E há uma graça que os mantém aqui, contentes, alegres, satisfeitos, com vontade de se dedicar!

Quantas graças! Lembrem-se de quanto mudaram. Meus filhos, permitam que eu diga: lembrem-se de quanto subiram. Não percebiam, mas amando o que se lhes dizia como Doutrina Católica, amavam a Deus! Amando-O, por razões de fé, era a graça que trabalhava suas almas.

Pelas orações de Nossa Senhora tudo se obtém

Na Sede, quantos entraram e quantos não ficaram… Eles também, pobres coitados, receberam a graça, mas não tiveram a coragem de travar as batalhas. Vontade de ficar vendo televisão, vontade de ir ao cinema, vontade de mau encontro, preguiça de sair de casa, vontade de não renunciar a uma viagenzinha para tal lugar, para tal outro; com isso deixando de lado as companhias que chamam para o Céu.

Arquivo Revista
Dr. Plinio durante uma cerimônia de Consagração a Nossa Senhora, em 1985

Imaginem que beleza a vida de um homem que vai cada vez mais crescendo na graça e que vai dizendo sim. Pode ser que às vezes diga não. Até, por vezes, peque. A miséria humana vai até lá. Mas a graça se debruça sobre ele. E, cometido o pecado, diz: “Meu filho, tu não te lembras mais de mim…? Eu sou a graça de Deus! Estás desanimado? Não há razão, porque Deus é Juiz! Como pecador, tu és réu; mas tu tens a melhor advogada do Céu e da Terra! Uma advogada que, quando a defesa do réu não tem saída, Ela ainda ganha a causa! Porque Ela diz ao Juiz: ‘Se ele não merece, seja por mim!’”

Como essa advogada é Mãe do Juiz, o Juiz sorri e diz: “Assim a partida está ganha!” Ela diz: “Meu filho, vem!”

Pelas orações de Nossa Senhora nós obtemos todas as graças. Tudo o que nós pedimos por meio d’Ela nós obtemos. Tudo o que pedimos rejeitando sua intercessão não obtemos. Assim, é por intermédio de Maria Santíssima que os senhores obtiveram essas graças que a cada passo os acompanharam.

Alegria no Céu pela cerimônia de consagração

É a graça. E eu mencionei outro fator: canal da graça, o Anjo da Guarda de cada um. Todos nós temos um Anjo da Guarda. Há talvez umas quatrocentas pessoas neste auditório, pairam pelo menos o mesmo número de Anjos aqui.

Nós não os vemos, mas a Fé em nós vê. A Igreja ensina, logo é! E basta a Igreja ensinar, que eu creio mais do que se eu visse!

Considerem quanta coisa bonita há por detrás desse ato de consagração no qual vemos apenas realidades materiais. A Fé nos ensina a ver realidades superiores, espirituais, sobrenaturais de uma outra ordem, e que conferem a esse ato uma beleza extraordinária.

Podem imaginar, no momento em que se realizava esta cerimônia nesta Terra, que alegria havia no Céu! As três Pessoas da Santíssima Trindade, Nossa Senhora, todos os Anjos, todos os Santos do Céu tinham sua atenção voltada para ela. E Nossa Senhora rezava por cada um, e quando osculavam a imagem que ganharam de lembrança, os Anjos em espírito – porque eles não têm boca – osculavam os pés de Nossa Senhora no Céu.

Nossa Senhora velará por cada um de um modo especial

Que magnífico ato acaba de se passar aqui! Ele dá um primeiro termo às batalhas travadas. Começa, a partir deste momento, uma verdadeira maravilha: a grande batalha da vida de cada um de nós.

Alguém dirá: “Mas, Dr. Plinio, batalhas de menino, batalhas de mocinho…”, vai a alma inteira nisso! Eu fui menino, e depois fui mocinho e sei o que isso custou!

Qual é o dia de amanhã? Nossa Senhora não sabe que terão dificuldades, lutas, problemas? Se há quem sabe é Ela, que já está maternalmente velando por cada um. Está dizendo aos seus Anjos da Guarda: “Para este, atenção especial! Este se fez meu filho a um título singular; eu velo por ele de modo particular. Ele se deu a mim, ele se tornou coisa minha, e eu não vou cuidar do que é meu?!”

O Anjo, deslumbrado diante de tanta bondade, diz: “Ó Rainha e Mãe, vós mandais, e eu obedeço na alegria de minha alma! Tomarei conta dele especialmente!”

Ao nos darmos a Nossa Senhora, o que Ela está dando a nós? A abertura das portas que levam ao Céu! É verdade que através das lutas nesta Terra. Há um grande poeta francês, Corneille, que diz: “Quem vence sem esforço, triunfa sem glória”.1

Não se iludir quanto ao futuro

Meus caros, eu os felicito! Mas não basta felicitar. Isto é o passado, isto é o presente. E o futuro? Não se iludam! As batalhas não se tornarão menores. Pelo contrário, vão ficar maiores! E é próprio do homem que, à medida que ele cresça, queira lutas cada vez maiores. Afundar dentro da seriedade, do esforço… Afundar não! Subir aos píncaros da seriedade, galgar as culminâncias do esforço, ser fiel à Lei de Deus, mesmo nas horas em que se tem a impressão de que tudo nos convida para o mal, nós dizermos: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia…”

Arquivo Revista
Dr. Plinio durante uma cerimônia de Consagração a Nossa Senhora, em 1990

Sejamos reais: cada qual tem todos os meios para não pecar, mas nenhum pode garantir que não pecará. Devemos nos preparar. Se acontecer essa desgraça, essa catástrofe que é um pecado mortal, devemos aprender o que fazer: é confiar, não desesperar, não perder a cabeça. Imediatamente ir junto aos pés de uma imagem de Nossa Senhora; e se não tiver uma imagem perto, pegar o Rosário, imediatamente dizer: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia…”

Ou aquela dulcíssima e belíssima oração: “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer – nunca se ouviu dizer! – que alguém que tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós desamparado… gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés…” Essa é a oração, não só do homem puro, mas também do pecador. Ele geme sob o peso dos pecados, mas se volta para Nossa Senhora e diz: “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer… Não se desminta no meu caso: eu só, o infeliz, em que sobre mim se desminta a vossa misericórdia, ó mil vezes não! Eu confio minha Mãe! Reerguei-me! Dai-me ânimo para ir me confessar e para eu continuar de novo e de novo, e de novo, essa luta que me levará ao Céu!”

Enfrentando o mundo revolucionário

O mundo revolucionário também precisa ser enfrentado. Ele odeia as virtudes que devemos praticar. Odeia e despreza a pureza, da qual ele não é digno; ele a odeia por inveja, por incompatibilidade. Esse ódio pousará sobre quem é puro. Rirão, caçoarão , falarão mal dos senhores, os isolarão, os perseguirão porque são puros.

Está escrito no Evangelho, no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça, deles é o Reino do Céu” (cf. Mt 5, 10). A Santíssima Virgem lhes dará forças para enfrentar todas essas coisas e, diante do impuro, ostentar a sua pureza de cabeça alta! “Miserável, insolente! Tu te glorias do teu pecado, e eu não me gloriarei da virtude que Nossa Senhora me concede de praticar? Nunca!” A pureza não abaixa a cabeça diante da impureza! Ela olha de frente, sem medo e com altaneria!

Aqui, juntos, peçamos aos Anjos, aos Santos, peçamos aos nossos padroeiros que nos deem essa pureza que nunca conheça manchas, essa confiança por onde, se uma mancha de desgraça tisnar a pureza de nossa alma, nós não percamos a nossa confiança e voltemos mais uma vez: “Minha Mãe, vossa misericórdia é maior do que a minha miséria; tende pena de mim!” E voltamos à carga contra o pecado…

Assim vão se habilitando a lutar as grandes lutas de Nossa Senhora. São grandes, não são pequenas. Eu passei por elas. Magnificamente passou por elas o meu caro João Clá quando era estudante. Todos sabemos por experiência própria que são lutas grandes.

Eu não os estou convidando para um caminho insignificante. Estou convidando para um grande caminho rumo a um grande fim, a serviço de uma grande Senhora! Uma Senhora, entretanto que, na hora das nossas provações, das nossas aflições, das nossas perplexidades, como toda mãe, sabe tornar-Se pequena, sabe quase tomar o nosso tamanho e falar com as nossas tristezas, falar com as nossas misérias, com uma bondade tal que ficamos pasmos!

A escravidão a Maria comporta uma intimidade extraordinária com Ela

Como Nossa Senhora fala? Ela não aparece. A mim nunca apareceu. Mas, como Ela fala? São movimentos internos da graça, em que constatamos: realmente alguma coisa que eu senti, foi Nossa Senhora que me fez sentir.

Por exemplo, uma boa mãe de uma família numerosa. Sabe-se se é boa mãe vendo como ela trata com cada filho, tendo um teor de relações que é próprio ao feitio daquele filho; e ela agrada, ela trata, estimula, desenvolve conforme aquele filho é. Assim Nossa Senhora com cada um de nós, individualmente, tem um teor de relações. E se nós tomarmos a devoção ensinada por São Luís Grignion de Montfort bem a sério, compreenderemos isso. Ela saberá desenvolver essa relação.

E a Sagrada Escravidão a Nossa Senhora comporta essa espécie de intimidade em que cada um trata a seu modo com Ela e Ela aceita benignamente o modo de ser de cada qual. Não se pode padronizar isso, porque seria diminuir a beleza da obra d’Ela. Exatamente a beleza da obra d’Ela é fazer uma coisa incontavelmente diversificada e, em cada um, dar um certo matiz.

Se soubermos pedir essa intimidade, se pedirmos muito, Ela dará. A Sagrada Escravidão a Nossa Senhora tem um aspecto que se poderia chamar a sagrada intimidade com Nossa Senhora. Ou, o sagrado e personalíssimo trato com Nossa Senhora, no qual Ela é toda inteira, como se existisse só para nós, e como se Ela fosse inteirinha, como se revela para nós. Aqui está a beleza e o esplendor de Nossa Senhora.

Arquivo Revista
Plinio no início da década de 1930

No Inferno, ruge de ódio os demônio, pois os que se consagraram a Nossa Senhora são presas que os Anjos arrancaram da garra dele. Ele está fervendo de ódio e pensando em planos para perdê-los. Mas Maria Santíssima, a Imaculada Conceição, que na invocação de Nossa Senhora das Graças está calcando aos pés a cabeça da serpente, esmaga e esmagará sempre Satanás!

Que os senhores possam levar a vida esmagando o demônio! Em si, pela rejeição das tentações; fora de si, que é o demônio da Revolução, pela vitória da Contra-Revolução, pela vinda do Reino de Maria.

Eu termino estas palavras com esta exclamação: glória seja dada à Mãe de Deus por tê-los trazido aqui! Glória a Ela por levá-los até a realização dos grandes desígnios que Ela tem para cada um!

O encontro com o “Tratado”

Quando jovem, fiz uma novena a Santa Teresinha do Menino Jesus para obter duas coisas muito diferentes que eu estava querendo muito: uma era eu obter ou encontrar um bom livro de vida espiritual e outra era tirar uma loteria e ficar rico.

Eu tinha nisso uma boa intenção: eu queria ficar com todo o tempo livre para apostolado. Santa Teresinha atendeu logo o primeiro pedido. Até hoje não atendeu o segundo!

Na ocasião, entrei numa livraria católica e comecei a procurar livros, e encontrei um muito bonitinho e bem impresso: Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem.

Havia um outro livro; eu hesitei entre os dois, hoje eu nem me lembro qual era. Como um deles era muito bonitinho, muito agradável de manusear etc. – eu não tinha nenhuma outra razão para preferir um ao outro –, peguei o mais bem acabado. Levei para casa, sentei-me e comecei a ler. Era o “Tratado” de São Luís Grignion de Montfort. Eu percebi, na leitura desse livro, que era chamado àquela inteira união com Nossa Senhora que tinha começado a vibrar em mim.

Li! Eu o li como se lê um livro para passar num exame: tomei notas, apontamentos. Quando a doutrina ali exposta estava bem no meu espírito, fiz a consagração. Eu tinha mais ou menos 21 anos. Eu estou com 76. De lá para cá, com a graça de Deus, não se passou um dia em que, por culpa minha, eu tivesse deixado de rezar o ato de Consagração.

(Extraído de conferências de 15/8/1970, 5/1/1985, 13/4/1985)

1) “A vaincre sans péril, on triomphe sans gloire”. Théàtre de Pierre de Thomas Corneille: avec notes et commentaires – Volume 1, p. 42, Pierre Corneille, Firmin Didot frères, 1853.

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