As grandes realizações sobrenaturais são frutos de grandes sofrimentos. Ao longo da História pululam os fatos que no-lo demonstram.
Entre muitos, tomemos o exemplo por excelência: Nosso Senhor Jesus Cristo no cimo do Calvário, pregado a uma Cruz, escarnecido, mal tratado, Homem de dores acostumado ao sofrimento. Porém, com este doloroso ato, comprou nossa redenção, apagando os efeitos da culpa original.
É bem verdade que — se o próprio Deus feito Homem passou pela Paixão e imolou-se na Cruz, a fim de obter a vitória sobre o pecado e a morte — também o homem que se ponha a militar nas fileiras de Jesus Cristo, deve, sem pesar nem tristeza, cheio de garbo e decisão, preparar-se para os sofrimentos que lhe hão de vir.
Não foi diverso o que se passou com Doutor Plinio. Notando ser necessário algum sacrifício particular, para que seu apostolado desse frutos agradáveis à Santa Igreja, logo se dispôs espiritualmente a receber os sofrimentos que fossem da vontade de Deus. E em 3 de Fevereiro de 1975, dois dias após haver feito tal oferecimento,foi vítima de um grave desastre de automóvel:
Para que nosso Movimento fosse adiante, era necessário um sacrifício que conquistasse graças diante de Deus. Eu pensei: “Não posso oferecer minha vida, porque sei que Nossa Senhora não quereria isto, mas posso oferecer qualquer outra coisa que Ela queira me fazer sofrer.”
Dois ou três dias depois, eu partia para uma sede nossa, na cidade de Amparo, interior de São Paulo. Antes desta viagem, eu atendi a um membro de nosso Movimento e saí da conversa com muito mal-estar, não pelo que tínhamos conversado, mas por um imponderável que sentia no ar — não me lembrava do oferecimento que havia feito. Tive a seguinte impressão: “Se eu viajar no banco da frente, vou acabar dormindo e assim, caso aconteça um acidente, vou escangalhar-me num desastre de automóvel sem dar-me conta. Seria melhor viajar atrás para vigiar melhor.” Mas concluí: “Não se deve dar atenção a esses pressentimentos; eu vou na frente.” E dormi, acordando no hospital de Jundiaí…
Alguém que estava comigo no carro, no banco de trás, disse-me que eu acordei na hora do choque, vi o carro da frente derrapando de um lado para o outro e perguntei: “O que é isso? É com nosso carro?”
Eu havia sofrido um desastre de automóvel gravíssimo, estava com dificuldade de raciocinar — minha cabeça levara um trauma horroroso —, não sabia o que tinha me acontecido.
Lembro-me que, estando no hospital, confusamente eu emergia do subconsciente para o consciente, e percebia, por momentos, gotas claras e grandes de realidade, de um lado; mas, de outro, gotas fugidias que rolavam pelo abismo das circunstâncias pré-operatórias e pós-operatórias.
Nos momentos de consciência eu percebia — por todas as condições de meu corpo — que eu talvez imergisse no subconsciente logo mais, e que assim seriam as coisas indefinidamente, enquanto Nossa Senhora dispusesse.
A Providência havia aceito meu oferecimento.
(Extraído de conferências de 29/9/1980, 6/2/1982 e 25/4/1992 )