Jovens participantes do movimento fundado por Dr. Plinio, comemoraram com grande demonstração de afeto, em 21 de abril de 1993, a data sobremodo especial em que Dona Lucilia completaria 125 anos. Assim dizia o texto por eles declamado:
Reportemo-nos ao dia 21 de abril de 1968.
Em seu apartamento, Dona Lucilia encontrava-se desde há dias em seu leito, assistida por um médico. Dr. Plinio achava-se, no quarto ao lado, ainda convalescente, devido a uma terrível crise de diabetes.
Por volta das 10 horas da manhã, o enfermeiro procurou o médico, avisando que Dona Lucilia não estava passando bem.
Manifestando certa estranheza, pois às 8:20 lhe aplicara uma injeção e nada fazia prever que a morte estivesse próxima, o clínico dirigiu-se imediatamente ao quarto dela.
Deitada, sem apoio em travesseiros, com os olhos fechados e movendo os lábios como quem rezava, Dona Lucilia tinha as mãos uma sobre a outra, no peito.
Ao tomar-lhe o pulso e verificar quão lenta e fracamente batia, o médico percebeu a proximidade dos últimos momentos. Pediu então ao enfermeiro que avisasse logo Dr. Plinio. Era necessário que ele se locomovesse sozinho e com enorme esforço até o quarto de sua mãe que partia para a Eternidade.
Nesse meio tempo, Dona Lucilia, que não deixara de mover os lábios — sentindo em seu coração haver chegado a hora da solene despedida desta vida — com decisão retirou a mão segura pelo médico, e com um gesto delicado, mas firme, sem manifestar esforço ou dificuldade, fez um grande e lento sinal da cruz.
Depois, repousou no peito suas mãos alvíssimas, uma sobre a outra, e serenamente expirou na véspera do dia em que completaria 92 anos…
Tocado pela recordação destes momentos, assim manifestou-se Dr. Plinio:
Esta cena — do encontro com minha mãe, que Deus acabava de chamar a Si — foi a que mais me emocionou na vida. Imediatamente fui avisado para ir ao quarto dela, contíguo ao meu, mas quando cheguei, ela já não estava lá. Não a alcancei! E senti a imensidade que nos separava.
Deus e Nossa Senhora nos uniam, e isto bastava. No entanto… quando entrei no quarto e vi o corpo dela já sem vida, senti que aquelas mãos, que tanto me haviam abençoado e acariciado, não me acariciariam mais, aqueles lábios, que tantas coisas me haviam ensinado, não me ensinariam mais, aqueles lábios, enfim, que tanto haviam orado por mim, não se moveriam mais…
Senti então, naquele momento, passar-se algo comigo que me sacudia de modo profundo e por inteiro, como seu eu fosse uma corda que arrebentasse, e algo, que era quase eu mesmo, separar-se categórica e drasticamente de mim.
Na véspera, eu havia passado o dia inteiro junto de mamãe, no quarto, não saindo, a bem dizer, para nada. Eu sabia que ela estava prestes a morrer, e a razão de eu permanecer ali era a consciência plena disso. Mas — fato singular — o drama da morte só se pôs, para mim, no instante em que ela expirou e senti a ausência do seu carinho… e então chorei copiosamente…
(Extraído de conferência de 22/4/1993)