A igualdade total é um bem? Em que sentido a Revolução explora o falso mito de um igualitarismo completo, para afastar da sociedade a imagem de Deus?
Dr. Plinio nos responde, mostrando como uma visão harmônica e ordenada do universo deve se basear na desigualdade hierárquica dos seres, cujas legítimas diversidades espelham as infinitas excelências do seu Criador.
Por que a Revolução promove a igualdade nos aspectos exteriores da existência?
Porque “a variedade redunda facilmente em desigualdade de nível. Por isso, diminuição quanto possível da variedade nos trajes, nas residências, nos móveis, nos hábitos, etc.” (p. 69).
Desaparece o povo e surge a massa
Como atua a Revolução para favorecer a igualdade de almas?
“A propaganda como que padroniza todas as almas, tirando-lhes as peculiaridades, e quase a vida própria. Até as diferenças de psicologia e atitude entre os sexos tendem a minguar o mais possível.
“Por tudo isto, desaparece o povo que é essencialmente uma grande família de almas diversas mas harmônicas, reunidas em torno do que lhe é comum. E surge a massa, com sua grande alma vazia, coletiva, escrava” (p. 70).
Por que a Revolução deseja fundir todos os Estados num só?
“O Estado é constituído por um povo independente exercendo domínio pleno sobre um território. A soberania é, assim, no Direito Público, a imagem da propriedade. Admitida a idéia de povo, com características que o diferenciam dos outros, e a de soberania, estamos forçosamente em presença de desigualdades: de capacidade, de virtude, de número, etc. Admitida a idéia de território, temos a desigualdade quantitativa dos vários espaços territoriais. Compreende-se, pois, que a Revolução, fundamentalmente igualitária, sonhe em fundir todas as raças, todos os povos e todos os Estados em uma só raça, um só povo e um só Estado” (p. 70).
A fim de promover o igualitarismo, a revolução procura diminuir o quanto possível a variedade dos trajes, dos hábitos, etc.: desaparece o povo e surge a massa
Por que o igualitarismo é um mal?
“São Tomás ensina1 que a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador. E diz que tanto entre os anjos quanto entre os homens, no Paraíso terrestre como nesta terra de exílio, a Providência instituiu a desigualdade.
“Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre criaturas e Criador. Odiar, em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus” (p. 71).
Quando a desigualdade contraria a ordem da Providência
A desigualdade é sempre um bem?
“De toda essa explanação doutrinária não se pode concluir que a desigualdade é sempre e necessariamente um bem.
“Os homens são todos iguais por natureza, e diversos apenas em seus acidentes. Os direitos que lhes vêm do simples fato de serem homens são iguais para todos: direito à vida, à honra, a condições de existência suficientes, ao trabalho, pois, e à propriedade, à constituição de família, e sobretudo ao conhecimento e prática da verdadeira Religião. E as desigualdades que atentem contra estes direitos são contrárias à ordem da Providência. Porém, dentro destes limites, as desigualdades provenientes de acidentes como a virtude, o talento, a beleza, a força, a família, a tradição, etc., são justas e conformes à ordem do universo2” (p. 71 e 72).
1) Cf. Contra os gentios II, 45 e Suma Teológica I, q. 47, a. 2; I, q. 50, a. 4 e I, q. 96, a. 3 e 4.
2) Cf. Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1944, Discorsi e Radiomessaggi, vol. VI, p. 239.