Não foram as massas que fizeram a Revolução. Elas se moveram num sentido revolucionário porque tiveram atrás de si elites que as influenciaram nessa direção. Também a Contra-Revolução, embora deseje influenciar as massas, não se deve deixar fascinar por esse objetivo. Poderá ela, então, aliar-se a alguns revolucionários para alcançar determinadas metas? Dr. Plinio nos responde.
Diante da Revolução e da Contra-Revolução pode haver neutros?
“Em face da Revolução e da Contra-Revolução não há neutros. Pode haver, isto sim, não combatentes, cuja vontade ou cujas veleidades estão, porém, conscientemente ou não, em um dos dois campos. Por revolucionários entendemos, pois, não só os partidários integrais e declarados da Revolução, como também os ‘semi-contra-revolucionários’ (pp. 108-109)1.
Desmascarar a Revolução
Qual o meio mais eficaz de refutar a Revolução, junto aos revolucionários?
“A Revolução tem progredido, como vimos, à custa de ocultar seu vulto total, seu espírito verdadeiro, seus fins últimos. O meio mais eficiente de refutá-la junto aos revolucionários consiste em mostrá-la inteira, quer em seu espírito e nas grandes linhas de sua ação, quer em cada uma de suas manifestações ou manobras aparentemente inocentes e insignificantes. Arrancar-lhe, assim, os véus é desferir-lhe o mais duro dos golpes. Por esta razão, o esforço contra-revolucionário deve entregar-se a esta tarefa com o maior empenho” (p. 109).
Nunca se deve discutir com um revolucionário?
“Secundariamente, é claro, os outros recursos de uma boa dialética são indispensáveis para o êxito de uma ação contra-revolucionária” (p. 109).
Colaboração imprudente
Existe possibilidade de colaborar com algumas categorias de revolucionários?
“Com o ‘semi-contra-revolucionário’, como aliás também com o revolucionário que tem ‘coágulos’ contra-revolucionários, há certas possibilidades de colaboração, e esta colaboração cria um problema especial: até que ponto é ela prudente? A nosso ver, a luta contra a Revolução só se desenvolve convenientemente ligando entre si pessoas radical e inteiramente isentas do vírus desta” (pp. 109-110).
Qual a causa da maior parte dos fracassos contra-revolucionários?
“Que os grupos contra-revolucionários possam colaborar com elementos como os acima mencionados, em alguns objetivos concretos, facilmente se concebe. Mas, admitir uma colaboração onímoda e estável com pessoas infectadas de qualquer influência da Revolução é a mais flagrante das imprudências e a causa, talvez, da maior parte dos malogros contra-revolucionários” (p. 110).
Interrogai o silêncio…
O que sucede ao revolucionário quando alguém o enfrenta com ufania e arrojo?
“O revolucionário, em via de regra, é petulante, verboso e afeito à exibição, quando não tem adversários diante de si, ou os tem fracos. Contudo, se encontra quem o enfrente com ufania e arrojo, ele se cala e organiza a campanha do silêncio. Um silêncio em meio ao qual se percebe o discreto zumbir da calúnia, ou algum murmúrio contra o ‘excesso de lógica’ do adversário, sim. Mas um silêncio confuso e envergonhado que jamais é entrecortado por alguma réplica de valor. Diante desse silêncio de confusão e derrota, poderíamos dizer ao contra-revolucionário vitorioso as palavras espirituosas escritas por Veuillot em certa ocasião: Interrogai o silêncio, e ele nada vos responderá” 2 (p. 110).
Bons frutos com poucos meios materiais
O objetivo principal da Contra-Revolução é conquistar as multidões?
“A Contra-Revolução deve procurar, quanto possível, conquistar as multidões. Entretanto, não deve fazer disso, no plano imediato, seu objetivo principal, e um contra-revolucionário não tem razão para desanimar pelo fato de que a grande maioria dos homens não está atualmente de seu lado. Um estudo exato da História nos mostra, com efeito, que não foram as massas que fizeram a Revolução. Elas se moveram num sentido revolucionário porque tiveram atrás de si elites revolucionárias. Se tivessem tido atrás de si elites de orientação oposta, provavelmente se teriam movido num sentido contrário. O fator massa, segundo mostra a visão objetiva da História, é secundário; o principal é a formação das elites. Ora, para essa formação, o contra-revolucionário pode estar sempre aparelhado com os recursos de sua ação individual, e pode pois obter bons frutos, apesar da carência de meios materiais e técnicos com que, às vezes, tenha que lutar” (p. 111).
1) Como de costume, as citações desta seção se referem ao livro Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.
2) Obras Completas, P. Lethielleux Librairie-Éditeur, Paris, vol. 33, p. 349.