“É na esperança de podermos batalhar pela nossa santificação e de morrer na paz de Deus, confiantes em Nossa Senhora, que devemos atravessar nossos dias neste chão de exílio. E o homem que santificou sua alma, no instante de transpor os umbrais da eternidade, poderá dizer as palavras mais magníficas que imagino postas nos lábios de um moribundo, repetindo São Paulo: combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé; resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele dia (2 Tim 4, 7-8).”
Em diversas ocasiões ao longo de sua batalhadora e edificante existência, sulcada pelo sofrimento e o denodo apostólico, comprouve-se Dr. Plinio em recordar e aplicar ao católico essas palavras de São Paulo, tão consoladoras para quem procurou viver, autenticamente, conforme os preceitos e ensinamentos da fé cristã, defendendo-os com intrepidez a cada passo, face à maré montante do relativismo e às “modas” revolucionárias (ideológicas e tendenciais). Contra estas lutara desde o tempo em que irrompia o artificial frenesi de Hollywood e a Primeira Guerra destruía nos alicerces da Belle Époque, um status quo precário onde as aparências de um cristianismo oco de princípios ainda rendiam um fraco culto externo à virtude.
As palavras do Apóstolo dos Gentios, bonum certamen certavi…, Dr. Plinio as poderia reafirmar — referindo-se a si próprio — naquele 3 de outubro de 1995 quando, por volta das 18h20, rendeu seu espírito ao Criador, confortado pelos Sacramentos e indulgências da Santa Igreja, à serviço da qual combateu seu bom combate.
Sim, era o sereno e piedoso termo de 87 anos transcorridos à luz da graça recebida no Batismo, sob o influxo de uma constante devoção aos Corações de Jesus e Maria, à Sagrada Eucaristia e ao Papa, Vigário de Cristo na Terra.
Por mais de seis décadas, desde seu ingresso nas Congregações Marianas, Dr. Plinio dedicaria todo o vigor de sua inteligência, todo o empenho de sua vontade, todas as suas disposições físicas e morais para fazer triunfar, nos mais variados campos de ação, os direitos de Deus e da Igreja Católica, bem como a harmonia da sociedade temporal.
Formou almas, discípulos, constituiu uma sólida escola espiritual, fundou uma obra apostólica cujos frutos não só perduram até hoje, como não fazem senão se multiplicar no Brasil e em muitos outros países, com a força renovada que lhe vem do Espírito Santo e do carisma do fundador. Lutou sem medir esforços, sacrificou-se sem se impor limites, determinado a seguir o que ele mesmo escreveu:
“Para a Igreja, quer Deus toda a minha vida, quer organização, sagacidade, intrepidez; quer a inocência da pomba mas a astúcia da serpente, a doçura da ovelha mas a cólera irresistível e avassaladora do leão. A Deus devemos dar tudo, absolutamente tudo, e depois de ter dado tudo ainda devemos dar nossa própria vida” (cfr. Via Sacra, 9ª estação).
E, em verdade, cumpriu à risca essa heróica disposição. Deu de si tudo, depositando sua existência nas misericordiosas mãos de Maria Santíssima, para que dela se servisse de acordo com seus superiores desígnios. Dessa sorte, naquele anoitecer de outubro, prestes a partir para a eternidade, poderia Dr. Plinio se lembrar também destas suas outras tocantes palavras:
“A grande imolação de nossa vida espiritual é o querermos deixar de ser o que somos e nos transformarmos inteiramente naquilo que a Igreja deseja que sejamos. O resto — doenças, provações, etc. — são meios para nos fazermos generosos a fim de praticar esse holocausto.
“Santa Teresinha, por exemplo, a santa da ‘pequena via’, morreu como vítima do amor misericordioso, tendo sofrido muito com a tuberculose que lhe tirou a vida. Porém, o melhor do sacrifício dela não é o fato de ter morrido, e sim o ter querido morrer e, portanto, desejado em toda a medida o que se abateu sobre ela.
“O centro do holocausto de um homem é a integridade com que ele o almeja e realiza.
“Pois bem, quando jovem, lendo a biografia de Santa Teresinha, pareceu-me seria muito mais útil à causa católica se me oferecesse como vítima expiatória, tal qual ela o fez. E eu sempre nutri a vontade de desejar por completo esse meu holocausto. Considerei sempre que ter o meu espírito preparado por meio da coerência doutrinária, da previsão, para ser um todo, uma fortaleza no meio das trevas ou um navio no meio da tempestade, que isto era a essência da minha imolação.
“Sem deixar, entretanto, de me voltar a Nossa Senhora, conformando-me aos planos d’Ela e rogando sua proteção: ‘Minha Mãe, quereis que eu sofra? Se quiserdes, preparai minha alma. Dai-me forças para esse sofrimento, tornai-me capaz de carregar a cruz de vosso Divino Filho’.
“E assim, em poucos anos, pelo efeito desse sacrifício — misericordiosamente aceito por Nossa Senhora — a Contra-Revolução conheceria a vitória. Eu estaria enterrado no Cemitério da Consolação, mas sobre a minha sepultura, pelo favor da Santíssima Virgem, teria brotado a árvore do Reino de Maria e de uma nova Civilização Cristã.”