Certa feita, Dr. Plinio encontrou uma frase de Santo Agostinho que sobremaneira lhe agradou: “Nossos corações foram criados para Vós, Senhor, e só estão em paz quando repousam em Vós”. Compreende-se a razão do júbilo que sentiu. Consoante a vocação para a qual se sentia chamado — de trabalhar pela consecratio mundi, quer dizer, pela sacralização da ordem temporal —, ele viu em tal sentença não apenas um convite à contemplação e à prece no sentido estrito, mas um incitamento a fazer de todos os instantes da vida uma oração. Aliás, Dr. Plinio já vivia desse modo: constantemente na presença de Deus.
E um corolário importante de sua fidelidade a esse ideal, conservado até o último suspiro, é que em tudo ele se reportava a fatores sobrenaturais, não se limitando aos aspectos meramente humanos. Basta repassar suas palavras regularmente publicadas nesta revista, qualquer que seja o tema abordado, para comprovar isto.
Por exemplo, logo nas primeiras páginas deste número, uma menção à última viagem de Dr. Plinio à Europa é bastante ilustrativa a tal respeito. Nunca ele percorreria o Velho Continente como um mero turista moderno, à procura apenas do que lhe pudesse agradar os sentidos, por mais honestas e recatadas que fossem as distrações. Um passeio pelos países onde a ação civilizadora da Igreja Católica mais impregnou os ambientes e as instituições, onde o Sangue Precioso de Cristo fez brotar, na organização e na vida social, seus primeiros e mais belos frutos — para Dr. Plinio só podia constituir uma peregrinação, como ele próprio afirma na seção “Datas da vida de um cruzado”.
Do mesmo modo, nunca ele admitiria estudar história sem um olhar posto nas intervenções do Céu. Assim, assevera na seção “Perspectiva pliniana da história” que a grandeza da sociedade civil só se alcança quando a generalidade do povo é observante dos Mandamentos da Lei Divina: “Deus auxilia a grandeza dos povos fiéis, não só pelo jogo natural das causas segundas, mas por uma multidão de graças especiais e por vezes miraculosas, de que está cheia a história das nações cristãs”.
Continuando a correr as páginas da presente edição, em cada uma das seções é fácil notar o caráter preponderantemente religioso da cosmovisão “pliniana” — nada mais que um “eco fidelíssimo” da doutrina da Igreja —, refletida em todos as suas cogitações. Por isso, ao comentar o famoso Coliseu romano, ele não ignora tratar-se de ruínas de uma majestosa obra arquitetônica, mas sua admiração voa toda, de imediato, para os católicos que verteram o sangue nas areias desse “anfiteatro de tragédias e heroísmos”.
Um último exemplo, quiçá o mais ilustrativo do que asseveramos no início, encontra-se na seção “Dr. Plinio comenta”. O tema é a festa da Exaltação da Santa Cruz, comemorada em setembro. Qual a mensagem encontrada ali? Esta é “a festa pela qual a Igreja recorda e proclama aos olhos do mundo que ela ergue o símbolo da Redenção acima de todas as coisas, colocando-o na sua devida e suprema altura”. Dr. Plinio afirma, portanto, a necessidade de sobrepor a tudo os valores religiosos — da única Religião verdadeira, já se entende. Quem desejar encontrar a paz de alma, não encontrará outro caminho senão este, uma vez que “Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso” (Catecismo da Igreja Católica, I.27).