Levantando-se para defender a Igreja da acusação de ser inimiga do progresso, Dr. Plinio cita dados pouco conhecidos a respeito das fontes de inspiração de Cristóvão Colombo.
Os historiadores anticatólicos empreenderam a ingrata tarefa de alterar a verdade histórica, para submetê-la aos interesses de seus ódios religiosos. Assim é que, freqüentemente, penas autorizadas não têm hesitado em sustentar que a Igreja é uma adversária sistemática de todo progresso humano.
O desmentido da história
No entanto, a história em geral, e a da Idade Média em particular, desmentem categoricamente tal asserção: a Idade Média foi um período fecundo de trabalho intelectual e material incessante, que preparou todos os frutos que a Renascença pagã veio colher.
No descobrimento da América, ainda não foi suficientemente divulgada toda a importância da contribuição valiosa que os elementos do Clero trouxeram a Cristóvão Colombo.
De um modo geral, pode-se afirmar que este, embora constituindo um dos vultos mais eminentes da história, não fez outra coisa senão coordenar genialmente os conhecimentos geográficos de sua época, dando-lhes, graças à sua coragem, a seu arrojo, uma aplicação a cujos resultados felizes deve toda a sua glória.
Colombo, segundo o depoimento de Rocha Pombo na sua História do Brasil (Vol. I, Parte I, Cap. II, p. 45), foi movido no seu grandioso empreendimento pelo ardente desejo que tinha de propagar a Fé católica entre os povos das terras distantes, cuja existência lhe parecia incontestável.
Influências de um Cardeal sobre Colombo
Um de seus grandes inspiradores foi o Cardeal Pedro d’Ailly, o famoso Petrus de Alíaco. O Instituto Histórico e Geográfico, que possui um documento a esse respeito, assim se exprime, na sua Revista (Tomo 85, Vol. 139, p. 9):
Alíaco, Petrus de — Incunábulo do século XV, apenas citado por Hain, in Repertorium bibliographicum. Em uma página em branco, por letra de D. Pedro II, a cuja biblioteca particular pertenceu o exemplar do Instituto Histórico, consta a seguinte inscrição: “avant-coureur de Colombo”.
Petrus de Alíaco é o célebre teólogo Cardeal Pierre d’Ailly, águia dos doutores da França, martelo dos heréticos, como lhe chamaram seus contemporâneos. Nasceu em Compiègne em 1350. Foi Bispo de Cambrai em 1393 e recebeu o chapéu cardinalício em 6 de junho de 1411. Faleceu em Avignon, entre 1420 e 1425.
Representou papel importante nos negócios eclesiásticos de sua época. Suas obras cosmográficas resumem tudo o que se sabia e ensinava em fins do século XIV e princípios do século XV.
O Dr. L. Salembier, em monografia recente — “Pierre d’Ailly et la découverte d’Amérique” (Paris, 1912) —, refundindo pesquisas anteriores, fixa definitivamente a influência exercida sobre Cristóvão Colombo pelos escritos de Pierre d’Ailly. Corroborando esse fato, cita os documentos existentes na biblioteca do Capítulo de Sevilha, cujos livros mais curiosos são os que pertenceram ao almirante, cheios de notas suas. Entre os autores favoritos, aquele ocupa o primeiro lugar. No volume que contém a principal obra cosmográfica do Cardeal, a Imago mundi e outros tratados, contam-se 898 notas, escritas por Cristóvão Colombo e por seu irmão Bartolomeu, a quem pertencia o exemplar.
Vemos aí uma influência curiosa e decisiva do elemento clerical, dos mais representativos, sobre a obra de Colombo.
Como sustentar, ainda, a incompatibilidade da Igreja com o progresso humano?
(Transcrito do “Legionário”, nº 103, de 4/9/32. Título e subtítulos nossos.)