Lá pelos confins da Noruega, na província da Lapônia, durante o solstício do verão setentrional (pelos meados de junho), renova-se ano após ano um deslumbrante espetáculo atmosférico. Devido à proximidade dessa região com o Pólo Norte, o dia ali tem uma duração de quase 24 horas. Assim, ao final de um longo entardecer, enquanto as luzes e sombras do crepúsculo ainda misturam-se no horizonte, já as primeiras claridades da aurora vão colorindo uma parte do céu. A evocação desse quadro feérico nos ocorre ao contemplarmos a situação do mundo contemporâneo.

A propósito, alguns leitores têm expresso sua perplexidade com determinadas matérias que vimos publicando, notadamente a transcrição de conferências e aulas sobre o mundo antigo, na seção “Perspectiva pliniana da história”. Nelas, Dr. Plinio discorre sobre a degradação geral na qual caíra o mundo antigo, antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em seguida, aponta a influência da doutrina cristã, pregada contra ventos e marés pela Igreja Católica, como a força que livrou a humanidade daquela devassidão. E que mazelas do mundo antigo Dr. Plinio cita para ilustrar sua afirmação? Entre outras, o infanticídio, o adultério, a escravidão, a depravação moral, a tirania, a ferocidade contra o semelhante, a impiedade, o banditismo, os festejos públicos diante de figuras obscenas, as orgias, o egoísmo regendo as relações humanas… Ora — afirmam nossos perplexos leitores — não está aí descrita a situação de hoje? E não vivemos numa sociedade que em grande parte professa o cristianismo? Isto não é um desmentido cabal à tese de Dr. Plinio?

Não. O mundo moderno abandonou a lei de Cristo, tornando-se na prática neo-pagão. Daí haver caído numa depravação pior que a dos povos antigos, pois corruptio optimi, pessima (a corrupção do ótimo é o péssimo), como diz o provérbio latino. “Quanto mais alto, maior o tombo”, confirma o ditado popular.

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Foi quando a antiga civilização pagã atingia uma situação de extrema miséria moral que a boa nova do Evangelho passou a trabalhar incontáveis almas, terminando por regenerar não apenas os indivíduos, como também as sociedades.

Não estará a história se repetindo? Não estará de novo a luz mortiça e as sombras do ocaso se misturando aos brilhos matutinos de uma aurora que desponta? Não estaremos assistindo à sobreposição de um extremo de decadência com um início de regeneração? Pelo menos é o que fazem supor muitas notícias e comentários na mídia, sobre o renascer do catolicismo em ponderáveis faixas da população, que estariam ávidas de uma religiosidade autêntica.

Por isso, lamentando embora o abismo no qual as nações de hoje se afundam, nossos olhos devem antes estar atentos à luminosidade que parece crescer no firmamento. Se a hora presente é de apreensões e de tragédias, é também de esperança “no triunfo ainda maior da Igreja Católica”.

É essa a mensagem que, no presente número, as palavras de Dr. Plinio procuram nos transmitir com calor (ver especialmente as seções “Denúncia profética”, “Perspectiva pliniana da história” e “Luzes da Civilização Cristã”)