Castelo de Chambord (França)

Em geral, uma pessoa imbuída de elevados sentimentos encontra es­pecial agrado na admiração por algo que seja verdadei­ramente admirável. Ela possui o que po­demos chamar de espí­rito épico, ou seja, um espírito propenso a de­sejar e a se entusiasmar por tudo o que é ma­ravilhoso.

Uma alma assim, impulsionada pe­las gra­­ças que recebeu no batismo, e por aquelas que Deus derrama sobre todo católico, ten­de a ver as alturas épi­cas do pensamento. Mais ainda, as alturas épicas da ordem do universo, as alturas épicas da história, as alturas épicas — quão mais sublimes e mais extraordinárias — da Religião Católica e da Civilização Cristã.

Que maravilhoso conglomerado de torres! Quanta força nessas torres, quanta solidez nesse conglomerado! Que harmonia misteriosa: uma sensação de delicadeza, contrastando agradavelmente com o que têm de forte, de vigoroso, de guerreiro!

Imaginemos, à guisa de exemplificação, que essa pessoa seja colocada diante de uma das mais belas constru­ções do século XVI: o castelo de Cham­bord, no Vale do Loire, Fran­ça. Contemplando o magnífico monumento ex­posto a seus olhos, tomar-se-ia de entusias­mada admiração.

Que maravilhoso conglomerado de torres! Quanta força nessas torres, quan­ta so­lidez nesse conglomerado! Que harmonia misteriosa naquilo que faz com que, ao mesmo tempo, elas pa­reçam estar colocadas um pouco ao acaso, mas dêem, no seu conjunto, uma sensação de delicadeza, contrastando agradavelmente com o que têm de for­te, de vigoroso, de guerreiro!

Há qualquer coisa de nobre nesses tetos azulados, que descem tão harmo­nicamente até a parte de cantaria. Há algo de robusto nessas pedras atarrachadas, agarradas ao chão de tal maneira que parecem dizer: “Quem quiser derrubar-me se espatifa, quem quiser arrancar-me do solo tem que tirar o mundo dos seus próprios gon­zos, porque eu sou uma torre do cas­telo de Chambord e ninguém me leva daqui.”

Dessas análises ainda se poderia su­bir mais alto: como é bela a conexão entre a for­ça e a delicadeza, entre o planejado do cas­telo e o aparente es­pontâneo da dispo­sição daquelas torres! Como é belo, portanto, o ver juntas qualidades antitéticas.

E por que oferecem uma beleza especial as qualidades antitéticas juntas?

Porque o princípio de toda beleza é a unidade na varie­dade. E nada de mais varia­do do que a antítese completa entre a delicadeza e a força, e nada de mais belo do que ver os elementos dessa antítese se reunirem numa só harmonia. A unidade na variedade é bela porque é a melhor imagem de Deus na criação natural. É um dos princípios de perfeição e excelência que o Altíssimo pôs no universo. É uma das exi­gências da alma humana. Esta tende ao que é uno e bem-ordenado, mas também ao que é vário, diverso e movimentado.

Ora, nesse castelo há a unidade na varie­da­de, e minha alma ali repousa e ao mesmo tempo pensa em Deus.

Sim, considerando os esplendores de Chambord, poder-se-ia fazer uma meditação que che­gasse até Nosso Senhor. Admirando-os, vem-nos ao es­pírito este pensamento: “Que beleza, que elegância, que distinção, que nobreza, que grandeza, que raffinne­ment ! Como isso nunca se conseguiu, a não ser na Civilização Cristã! Como, ó Senhor Jesus Cristo, vosso sangue é fecundo de toda graça e de todo bem, de maneira que mil e quinhentos anos depois de vossa mor­te, ainda nasce essa flor de beleza, ainda de­sa­brocha esse encanto de civilização, porque ela é cristã nas suas raízes!

“Ó Senhor Jesus Cristo, Vós sois a fonte de toda graça, de toda glória e de toda beleza! Eu Vos adoro!”                                                           v

Reunindo em si beleza, elegância, distinção, força e grandeza, em Chambord encontra-se a unidade na variedade, e a alma humana ali repousa, ao mesmo tempo em que pensa nos esplendores infinitos do Criador