Conta-se que, durante a Primeira Grande Guerra, numa noite de Natal, o ensurdecedor estrondo das armas de repente se calou. Ao longo das extensas trincheiras que opunham frente a frente as tropas inimigas, estabeleceu-se um impressionante silêncio. Em certo momento ergueram-se algumas vozes tímidas e tateantes, que aos poucos foram sendo incorporadas por centenas, milhares, centenas de milhares de outras, cantando em vários idiomas, procurando encaixá-los no ritmo e na melodia, de modo a não quebrar a harmonia: “Noite feliz, noite feliz! ó Senhor Deus de Amor! Pobrezinho nasceu em Belém; eis na lapa Jesus, nosso bem! Dorme em paz, ó Jesus!”
E essa paz reinou algumas horas sobre aquele quadro tétrico de aço, suor e sangue, suavizando as almas enrijecidas nos duros combates, superando as inimizades e ódios surgidos dos interesses humanos.
Esta é a força das graças que aquele Menino veio trazer ao mundo quando, dois milênios antes, nascera numa gruta em Belém.
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Ao se aproximar o primeiro Natal do terceiro milênio, verificamos a realização das previsões sombrias feitas por Dr. Plinio ao longo de sua vida: agravou-se a crise na qual a civilização de há muito vem mergulhando. Não há onde o olhar pouse e não encontre uma ruína, um abalo, um iminente desastre. O senso do bem e do mal está amortecido, quando não completamente obnubilado em grande parte das almas. O senso do pudor foi exilado. O crime não mais conhece limites, e o terrorismo ousou abater, na cidade-símbolo de hoje, o monumento do poder e da riqueza.
No entanto, o mesmo Dr. Plinio que advertia o mundo para a difícil situação da qual se aproximava, incutia-nos a esperança de uma grande recuperação. E o Natal era uma ocasião das mais propícias para destacar as graças que, do mais alto do Céu, continuavam a se derramar misericordiosamente sobre os corações, como que obrigando os homens a serem melhores.
“Numa noite estrelada, naquela cidade de Judá”, escreveu Dr. Plinio, “todos viram os céus rasgados e os Anjos que entoavam: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens de boa vontade’ (Lc 2,14). Esta era a promessa feita aos homens na noite de Natal! Devemos esperar que tal promessa se aplique, de modo especial, aos pobres homens de nosso século”.
Com o olhar de perdão para nossas infidelidades e pecados, vem Jesus oferecer-nos a sua paz. Para nós se voltam “a misericórdia do Menino recém-nascido, as preces que em nosso favor partem de Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças, e de São José, patrono da Santa Igreja Católica Apostólica Romana”.
No fundo de cada matéria sobre o Natal, estampada na presente edição, sigamos o conselho de Dr. Plinio: aproximemo-nos do presépio, com o coração contrito e humilhado, mas transbordante de confiança, e imploremos ao Menino Jesus, por meio da Santíssima Virgem, que, desde já e para sempre, faça sua paz reinar dentro de nós, e em torno de nós. Amém.