“De Ecclesiam Catholicam nunquam satis!” (Não há o que baste para glorificar a Igreja Católica). Essas palavras de louvor, inspiradas na conhecida expressão de São Bernardo a respeito de Nossa Senhora, procuram sintetizar o amor que Dr. Plinio expressava de modo habitual pela Santa Igreja. Nestas páginas, ele comenta algumas características dessa divina Instituição.
Se tomarmos todas as belezas materiais do universo e as somarmos a todas aquelas de ordem intelectual que apresentou e apresentará o conjunto das produções da inteligência humana ao longo dos séculos, ainda assim não chegaremos a nada que se compare com o esplendor da Igreja Católica.
Compreende-se, que assim seja, porque a Cabeça mística da Igreja é Nosso Senhor Jesus Cristo. E o Divino Mestre, considerado na sua humanidade santíssima — através da qual reluz a infinita formosura da divindade — é o ápice da Criação. Todas as excelências do mundo criado não são senão representações d’Ele, e conhecendo-O, conhece-se a verdadeira obra-prima de Deus. O sol é um pedregulho, a multidão das estrelas um farelo, e a totalidade dos mares uma gota d’água diante de Jesus.
E, se depois de considerarmos a inefável magnitude da Cabeça desse corpo místico, pensarmos ainda na Igreja Gloriosa — constituída por Nossa Senhora, pelas coortes dos Anjos e dos Santos — nas almas fiéis que se acham na Igreja Penitente, e em todas as almas piedosas que vivem pela terra, tudo isso representa uma tal soma de belezas, que dificilmente língua humana encontrará palavras para descrever.
Tentar fazê-lo, só o podemos através da análise de certos aspectos da Santa Igreja, determinados ângulos em que ela nos aparece iluminada de modo particular, e pelos quais percebemos seu papel no mundo.
Por exemplo, a imensidade de obras belas e santas que edificou no desenrolar da História, promovendo e estimulando a virtude da caridade, levando os homens a serem benfazejos uns com os outros, por amor de Deus. Se remontarmos a um passado mais longínquo, veremos que as instituições de caridade não existiam antes de a Igreja começar a se expandir. Quer dizer, elas nasceram da Esposa Mística de Cristo, e assim como ontem, hoje, e até o fim do mundo, hão de ser uma das suas maiores glórias.
Já por outro ângulo, discerniremos o extraordinário senso social da Igreja, sob cujo bafejo germinaram e cresceram instituições das mais variadas espécies — políticas, econômicas, culturais, etc. — com uma inteira adequação à realidade contemporânea dos povos, e totalmente apropriadas a cumprirem com os desígnios e finalidades para que foram criadas. Numa palavra, a Igreja inspira um senso social perto do qual a sabedoria oca, ultra-erudita e farfalhante dos tecnocratas de hoje pouco e nada vale, porque não contém na concha da mão aquela percepção da realidade, verdadeira, inteira e iluminada pelo alto, que só a Igreja Católica possui.
Uma percepção que tem, ela também, seu vínculo com a caridade, pois deve muito à postura contínua da Igreja de procurar analisar os homens, para compreender como são e do que precisam; sempre voltada, em tudo quanto for lícito, a adaptar-se a eles, de maneira a servi-los e ajudá-los.
E nos deparamos aqui com outra de suas maravilhas: toda essa solicitude materna da Igreja faz dela a melhor das sociólogas, como numa família a mãe é a melhor das pedagogas. Se tomarmos uma boa mãe, posta em casa e cuidando de seus filhos, educando-os de modo exímio com seu instinto materno, passar-nos-ia pela cabeça de lhe oferecer um tratado de pedagogia? Para quê? Basta-lhe que seja simplesmente mãe.
Ora, a Igreja, muito antes dos sociólogos, foi mãe. Mãe de todos os povos e de todas as nações. Por mais diversos que sejam, ela entra a fundo no coração e na mentalidade deles. Evidentemente é amparada e dirigida pela graça divina. Sem este auxílio sobrenatural, não agiria assim. Mas uma das grandezas da Igreja é exatamente esse conúbio com a graça divina, que faz com que ela, tendo por missão e ofício cuidar da vida social, realize isso como ninguém imagina que pudesse ser feito, sempre de modo surpreendente e novo.
Uma vez mais: que verbo humano é capaz de exprimir o âmago desse universo de belezas, e não apenas tangê-lo em suas periferias?
A formosura da Igreja não está só nela e na graça, e na ordem natural enquanto embebida e ordenada por ela. Qual é o grau de verum, bonum e pulchrum da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, considerados num grande conjunto? Qual será a palavra que a resume?
A meu ver, só há uma palavra, e foi mencionada acima. Aliás, é um nome: Jesus Cristo. Sim, a Igreja é o reflexo mais cabal, mais global e mais perfeito do Homem-Deus, é o espelho límpido e luzidio em que contemplamos o Filho Adorável de Maria Santíssima.