A desorientação e a confusão crescem de modo assustador. Não apenas nas ruas, no noticiário, na vida particular, nos negócios públicos e privados, mas mesmo nos cenáculos intelectuais, para onde muitos olhavam até poucos anos atrás, à espera de palavras criteriosas.
Nos centros universitários, nas academias, nas instituições voltadas para estudos e pesquisas históricas, antropológicas e sociológicas, multiplicam-se as tentativas de explicar a balbúrdia atual: teoria do acaso, teoria do caos, determinismo, universo linear; tecnologismo, mundialismo, estruturalismo, funcionalismo, modelo histórico dialético, mecanicismo, fenomenologia, teoria da complexidade…
Derivando às vezes para hipóteses bem pouco científicas, mas antes fantasiosas e absurdas, ou mesmo para delírios panteístas, tais doutrinas se chocam e se confundem, se ridicularizam e se acusam pelo fracasso, sem conseguir apontar uma saída satisfatória para a situação do mundo. Suas falhas são insanáveis, porque se assentam em bases superficiais e arbitrárias.
Falta-lhes aquilo sem o qual o universo, o homem, a sociedade humana e, portanto, o rumo dos acontecimentos são incompreensíveis: o alicerce sólido da Fé católica.
“O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor, e mediante isto salvar a sua alma” — diz Santo Inácio de Loyola nos seus célebres “Exercícios Espirituais”. “E as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para o ajudarem a conseguir o fim para que é criado”. São as palavras iniciais da meditação chamada “Princípio e fundamento”, que dá o único critério verdadeiro para medir as coisas deste mundo.
Era por esse padrão que Dr. Plinio guiava seu pensamento. Daí aquela sua certeza tranqüila, o olhar límpido, a orientação clara, os acertos contínuos que tanto causavam admiração. Fitando o caos atual de cima desse patamar, ele discernia seu desembocar e sua solução, e escrevia: “A Igreja é, nos planos de Deus, o centro da História. É a Esposa Mística de Cristo, que Ele ama com amor único e perfeito, e à qual quis sujeitar todas as criaturas. Claro está que o Esposo nunca abandona a Esposa, e que é sumamente cioso da glória d’Ela. Assim, na medida em que seu elemento humano se conserva fiel a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja nada deve temer. Até as maiores perseguições servirão à sua glória”*.
Ao longo do presente número de nossa revista, quer Dr. Plinio fale sobre a “questão social”(p. 12), quer sobre a estética do universo (p. 20) ou os documentos de Leão XIII sobre a História (p. 6), ele insiste nesta visão cristocêntrica e eclesiocêntrica da existência humana, como a chave para a resolução dos problemas de hoje.
Era o que ele afirmava também, ao concluir as palavras acima: “No plano temporal, se os homens abrirem sua alma à influência da Igreja, estará franqueado a eles o caminho de todas as prosperidades e grandezas. Pelo contrário, se a abandonarem, estarão na trilha de todas as catástrofes e abominações”.
* Catolicismo, nº 86, 2/1958