Foi na tarde de 14 de outubro de 1988: Dr. Plinio realizava seu sonho de visitar o Castelo de Chambord, e quis colocar-se a uma distância adequada para abarcar com a vista toda a fachada principal. Ali ficou longo tempo em silêncio, sozinho, a contemplá-la.
Sete anos mais tarde, em 13 de setembro de 1995, quando ele se encontrava num leito de hospital, a poucos dias de partir para a eternidade, alguém lhe recordou aquela visita, e lhe perguntou de repente que pensamento lhe perpassara o espírito durante aqueles momentos em que seus olhos pousavam sobre o feérico castelo.
Sem titubear, Dr. Plinio respondeu: “Eu pensava ser impossível que ele fosse tão belo, tão perfeito, e Deus não estivesse ali”.
Essas palavras causaram funda impressão nos ouvintes, tanto mais que o diálogo se passava num dos momentos em que o avanço rápido da doença provocava lapsos de memória em Dr. Plinio. Apesar disso, do fundo da alma partiu límpida e cristalina essa convicção de uma presença especial de Deus num edifício maravilhoso, reafirmação de um dos pilares da espiritualidade pliniana.
“Deus fala ao homem por intermédio da criação visível”, diz o Catecismo da Igreja Católica. “O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu Criador”. E logo adiante aduz: “Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar da expressão da ação de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus” (nº 1147, 1148).
Para Dr. Plinio, as obras humanas que primam pelo pulchrum constituem por excelência “lugares da expressão da ação de Deus”, atraindo-nos para o nosso Criador e preparando-nos para o Céu.
Compreendemos então seu comentário, ao findar a contemplação de Chambord, na hora do pôr-do-sol, naquela tarde de 1988: “O meu desejo era de permanecer aqui até o último momento de minha vida; depois jogassem meu corpo no fosso [que contorna o castelo], e ainda, de dentro da água, continuaria a contemplá-lo”…