Corria o ano de 1251 numa Europa toda católica e cheia de fé. Nesse continente, os frades do Carmo começaram a vaguear como membros de uma Ordem quase desconhecida, mal-admirada e à beira do desaparecimento. Assemelhava-se então a um tronco seco e velho, fadado a se desmanchar em pó. Era o instante esperado por Nossa Senhora para fazer desabrochar, no alto da ressecada vara, uma flor: São Simão Stock. Esse inglês de reconhecida virtude, eleito para o cargo de Geral da Ordem, dirigiu fervorosas preces à Santíssima Virgem, implorando-Lhe não permitisse a extinção da estirpe carmelitana. E a Mãe de Deus não tardou em socorrer seu bom servo. No dia 16 de julho daquele ano, aparece Ela a São Simão e lhe entrega o Escapulário do Carmo, “como sinal distintivo daquela confraria e selo do privilégio que obteve para todos os Carmelitas”. E prometeu: “O que com ele morrer, não padecerá o fogo eterno. Este é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos e prenda de paz e de aliança eternas.”
Assim nos recorda Dr. Plinio a misericordiosa intervenção de Nossa Senhora em favor da Ordem carmelitana a qual, a partir daquela data, refloresceu, expandiu-se e acentuou por todo o orbe católico a devoção à Santíssima Virgem.
Como já tivemos oportunidade de salientar (1), o próprio Dr. Plinio nutriu profunda vinculação com o Carmo, sendo membro de sua Ordem Terceira, Prior do sodalício Flos Carmeli, em São Paulo, ademais de lhe prestar importantes serviços advocatícios durante vários anos. E no intuito de tornar ainda mais forte esse liame, Dr. Plinio procurou estimular entre seus filhos espirituais a piedosa prática de receber a imposição do Escapulário do Carmo. Dessa maneira, participariam das inestimáveis graças espargidas sobre a família carmelitana, conforme lembrou recentemente o Papa João Paulo II: “Quem veste o Escapulário é introduzido na terra do Carmelo, para que ‘coma os seus frutos e produtos’ (cf. Jr 2,7), e experimente a presença doce e materna de Maria, no empenho cotidiano de se revestir interiormente de Jesus Cristo e de O manifestar vivo em si para o bem da Igreja e de toda a humanidade” (Carta por ocasião dos 750 anos de devoção ao Escapulário, 16/7/2001).
Além de nos evocar esse maravilhoso privilégio, a festa de Nossa Senhora do Carmo nos convida igualmente a admirarmos outra preciosa manifestação da solicitude de Maria para com seus filhos. É Dr. Plinio quem no-lo ressalta:
Ao salvar a Ordem do Carmo, Nossa Senhora, a par de sua insondável bondade, mostrava também a confiança que se deve ter n’Ela, bem como seu primordial papel nas obras que ama de modo particular. Ainda que estas cheguem ao ponto de tudo parecer perdido, cumpre esperar o momento que Maria se reserva para agir. Lição de confiança todavia mais necessária em vista do que ocorreu depois: enquanto a Ordem fundada por Santo Elias conhecia novos brilhos e novas glórias, a Cristandade que a acolhera tornava-se presa de um inexorável processo de ruína e soçobro. Séculos se passaram, até que em 1917, numa colina de Fátima, Nossa Senhora se exprimindo com as famosas palavras que guardamos em nossas almas, fez a promessa do Reinado d’Ela: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”
E importa lembrar que, no ápice dessas aparições durante as quais proclamou a efetivação de sua realeza, Maria aparece revestida do traje de sua mais antiga devoção — a do Carmo. Eis uma das muitas razões pelas quais a celebração do 16 de julho nos é muito grata, a nós filhos e devotos da Santíssima Virgem.
Que Maria, a Flor do Carmelo, Vinha florida, abençoe especialmente em sua festa os nossos leitores!
1) Cfr. números 16 e 29.