Plinio aos 16 anos

Devendo prestar os exames finais do curso secundário num estabelecimento do governo, o jovem Plinio resolveu aceitar um convite de seus primos e os acompanhou, em janeiro de 1925, até Ribeirão Preto, onde prestaria os requeridos exames no Ginásio Otoniel Mota. Ali, naquele então pacato ambiente do interior, a Providência lhe reservava outra espécie de prova, da qual sairia fortalecido na sua virtude da pureza. Ouçamo-lo narrar esse significativo episódio:

“Quando fui pedir o consentimento de mamãe para tal viagem, ela me alertou sobre os perigos de ordem moral que eu encontraria naquela cidade. Mas, tudo bem pesado, Dª Lucilia acabou concordando com minha ida, impondo como condição que me hospedasse na casa de contra-parentes seus.

“E assim me dirigi a Ribeirão Preto. Procurei a família com a qual mamãe já entrara em contato, e por eles fui recebido muito amavelmente. Contudo, imperiosas razões domésticas só lhes permitiam me dar acolhida no dia seguinte, e por isso o dono da casa indicou-me o melhor hotel da cidade, para eu passar a noite.

“Cheguei ao hotel e nele também não havia vaga. Mas, sem outra alternativa, era-me necessário permanecer ali. Lembrei-me então de que muitos rapazes de São Paulo iam fazer provas em Ribeirão Preto. Pedi ao recepcionista que me deixasse ver a lista de hóspedes: caso encontrasse algum conhecido, poderiam colocar mais uma cama no quarto dele. De fato, encontrei na relação o nome de um amigo de primos meus, com o qual mantinha certa ligação, e sugeri a proposta, assumindo inteira responsabilidade.

“Aceitaram, puseram o leito extra e eu me deitei. À certa altura da noite, acordo pressentindo passos no corredor. Distingui a voz potente do meu conhecido, conversando com uma pessoa do sexo feminino. Hipótese com que eu, na minha inexperiência, não tinha contado.

“Chegaram junto à porta e, pelo diálogo travado, entendi que ele já fora informado de minha presença no quarto. E, talvez para satisfazer a curiosidade de sua acompanhante, o rapaz vinha lhe contando coisas a meu respeito, descrevendo minha personalidade, etc., sem omitir — como comprovaria o sucedido — o fato de que eu praticava a pureza. Abriram a porta, entraram, e ela disse em voz baixa: ‘Eu quero vê-lo’. Aproximaram-se e pararam diante de minha cama. Eu permanecia de olhos fechados. Notei que me observavam, e pensei: ‘Ai! meu Deus, o que vai acontecer agora?’. Recomendei-me à Santíssima Virgem e fingi dormir com toda a calma, respirando fundo, para dar a impressão de uma pessoa entregue a sono solto. De súbito, ouço-a dizer num sotaque português muito pronunciado:

“— Ai! que linda é a inocência! Que bela, que bela a inocência!

“Ela falava como alguém que sentia remorso pela inocência perdida. E, com pasmo para mim, propôs a ele de irem embora e de me deixarem sozinho no quarto. Ele concordou sem hesitação. Saíram, e eu ouvi os passos dos dois pelo corredor, enquanto ela mais uma vez exclamava: ‘Como é bela a inocência!’.

“Dei graças a Nossa Senhora e voltei a dormir. Levantei-me na primeira hora da manhã, aprontei-me e saí para a casa da família que me esperava”.