Dr. Plinio em fins dos anos 30

Por ocasião da cerimônia de bênção das novas oficinas gráficas da Editora Ave-Maria, dos RR. PP. Claretianos — situada na Rua Martim Francisco, em São Paulo, junto à igreja dessa mesma congregação —, pronunciou Dr. Plinio um ardoroso encômio à obra dos missionários do Coração de Maria, considerada por ele “uma das maravilhas da Santa Igreja de Deus”. Abaixo, algumas passagens daquele memorável discurso:

Mais do que o lugar em que as almas dos ­fiéis são atraídas para o culto a Deus, este templo [dedicado ao Imaculado Coração de Maria] é a forja na qual se tempera a vida espiritual de cada missionário, dourada pelos raios divinos da graça e enrubecida pelo sofrimento que faz sangrar a alma ou o corpo, nas grandes imolações e nos gloriosos triunfos da vida interior. No lugar de honra do altar-mor, como no alto da sua formosíssima cúpula, a imagem de Maria sorri aos aflitos e aos pecadores, ostentando-lhes seu Coração Imaculado, como promessa de perdão e de socorro. E assim são atraídas por uma devoção que é característica de nossa Fé, devoção que constitui em si mesma um modelo primoroso de delicadeza e de elevação moral. (…)

Ao lado desse monumento de Fé, feito para glorificar um tal primor de delicadeza e de perfeição, estão as oficinas gráficas. Aí, o recolhimento do templo desaparece para dar lugar a uma atividade febril, o silêncio augusto da oração é substituí­do pelo vozerio humano e pelos ruídos incessantes e importunos das máquinas, e o ar não se satura mais com as harmoniosas invocações da ladainha lauretana, mas com a desarmonia incessante dos mil e um ruídos que caracterizam a vida industrial. Não se fala de turíbulos, de flores ou de rendas para os altares, mas de manivelas, de alavancas, de tipos metálicos e de força elétrica. Dir-se-ia, à primeira vista, que um abismo profundo separa o templo da oficina…

Entretanto, neste aparente abismo, está o sentido profundo da obra, nesse ilusório contraste está o segredo de seu êxito, e nessa irreal diversidade está a harmonia do conjunto. O templo é a alma da oficina. A oficina é um prolongamento do templo.

Realmente, é na oração do templo, é na meditação, é no estudo, é no recolhimento da vida interior, que a Fé se firma e adquire aquele vigor, aquela extensão, aquela firmeza necessária para projetar seus princípios sobre os setores da atividade material e moral dos homens. É no templo, pois, com o auxílio da graça de Deus, que as almas se formam, que as inteligências se iluminam, que as vontades se temperam, e que o fruto do trabalho interior floresce em permanentes resoluções salutares. Em seguida, essas idéias acumuladas pela vida interior e tornadas ardentes pelo zelo, tendem a se difundir de modo benéfico sobre todas as criaturas. E vem então o papel da oficina, que, posta ao serviço da contemplação e do estudo, é o canal pelo qual as maravilhas operadas por Deus nas almas se derramam em torrente benéfica sobre a humanidade.

Entre a pulsação dos corações no templo e as vibrações das máquinas na oficina, há uma estreita relação de causalidade. Porque é o zelo que mantém esta obra, é ele que a tem desenvolvido, e é ele que dá aos seus frutos o necessário sabor evangélico. v