N unca nos cansamos de considerar como Deus é grande em suas obras, grande na sua Igreja, grande nas nações que existem dentro dessa Igreja. Como Ele é magnífico, e que rea­lizações magníficas existiriam no mundo se todos os povos correspondessem às infinitas perfeições divinas que foram chamados a refletir! Que maravilha seria a face da Terra se cada país, cada indivíduo, fosse tudo aquilo que deveria ser, e a Santa Igreja pudesse desdobrar seus fulgores, de meio-dia em meio dia, sem nunca anoitecer!

Fotos: P. Mikio / G. Kralj
Catedral de Montréal, Canadá; no destaque, Catedral de Chartres, França

Esse mundo seria possível ou é um sonho? Se toda essa multidão de homens tivesse correspondido à graça, como encontraríamos hoje a fisionomia do universo terreno? É-nos possível, de leve ao menos, conceber tamanha beleza?

Pobres e ricos, homens e mulheres, reis e camponeses se comoveram, durante séculos, diante dos encantos e belezas engendrados pela alma católica medieval

G. Asurmendi


Nisto penso amiudadas vezes quando contemplo monumentos em estilo gótico. Os gregos e romanos alcançaram um auge ao construir seus templos imponentes, seus arcos e colunas célebres. Sim, atingiram um ápice, porém viram surgir algo mais elevado nos horizontes da civilização ocidental ao reluzir o esplendor dos vitrais, a magnitude das catedrais, o arroubo dos sons dos órgãos, do aroma do incenso, da liturgia católica, das pompas temporais desenroladas nos edifícios sagrados, templos da Igreja Católica, nas grandes ocasiões da Cristandade!

S. Hollmann
Na página 32, relógio medieval da Prefeitura de Praga (República Tcheca); acima, o Mont Saint-Michel, França

O bem prepara o caminho para um bem maior, a beleza para outra mais requintada, e a verdade, para verdade mais profunda, mais alta

S. Hollmann
À esquerda, Catedral de Reims, França; na página 35, Catedral de Montréal, Canadá

Pergunto-me, mesmo, se Homero, Cipião, Marco Aurélio ou então o próprio Constantino entenderiam toda a magnificência do que veio depois deles, engendrado pela alma católica da Idade Média. Creio que não. Os da Antiguidade não compreenderiam aquilo que, durante séculos, comoveu o coração dos reis e dos simples, encantou a qualquer homem e mulher, ricos e pobres, camponeses que vinham das hortas em torno das cidades medievais, para ver e admirar, por exemplo, o relógio da torre da igreja ou da municipalidade dar as horas, e toda uma oficina de figuras mecânicas se deslocar e bater os sinos, enquanto os pombos esvoaçavam… Isso enchia a alma dos simples como as dos maiores.

Povos houve, naquela quadra histórica, que corresponderam à graça, disseram “sim” ao chamado divino; houve povos nos quais a distribuição da Eucaristia se fez abundante e bem acolhida; houve povos que se constituíram em nações da Civilização Cristã, e nessas, tais maravilhas se ergueram.

E quando analiso a história do estilo gótico, vendo sua última expressão que é o flamboyant, tão risonho, tão triunfal, tão seguro de sua grandeza, tenho impressão de um itinerário terminado. Atingiu, ele também, o seu ápice, e ali ficou. Não esgotado de cansaço, nem de moleza ou extenuação. É como um extraordinário cantor cuja laringe deu tudo o que poderia ter dado. Diante dele fica-se extasiado, admirado, mas entende-se que aquela música acabou, a partitura está cantada. O que virá depois?

G. Kralj

Provavelmente, será gerado pela fé um estilo ainda superior, mais belo, mais magnífico. Pois, acreditamos, está na ordem das coisas postas por Deus que o bem prepara o caminho para um bem maior, a beleza prepara as vias para uma beleza mais requintada, e a verdade, para uma verdade mais profunda ou mais alta. É este o itinerário das coisas de Deus.