O exemplo do grande apóstolo da devoção mariana, São Luís Grignion de Montfort, inspirou e bafejou a piedade de Dr. Plinio, desde o momento em que este encontrou, numa livraria católica de São Paulo, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Às vésperas da canonização do santo autor, Dr. Plinio escreveu as palavras transcritas a seguir, exaltando as virtudes e a obra desse ardoroso missionário da Mãe de Deus.
Como condição de vitória, sem se desprezar nem de leve as providências concretas, devemos contar essencialmente com os recursos sobrenaturais. A História demonstra que não há inimigos que vençam um país cristão que possua três devoções: ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora e ao Papa. Investigue-se bem a queda de nações aparentemente muito fervorosas em sua adesão à Igreja: alguma broca secreta a minava em uma dessas três virtudes-chave.
A vitória, pois, depende de nós. Tenhamos em dia nossa consciência, estejamos tranqüilos em Deus, e venceremos.
O livro dos tempos novos
Isto explica o extraordinário relevo que damos a uma notícia apagada, que os jornais reproduziram há pouco: a canonização iminente do Bem-aventurado Luís Maria Grignion de Montfort [ver quadro em destaque].
A notícia nada significa para o comum das pessoas. Ela significa tudo, para os que conhecem o verdadeiro fundo das coisas. A Providência resolveu jogar sua bomba atômica contra os adversários da Igreja. Perto desta bomba, as convulsões de Hiroshima e Nagasaki não passam de inocentes tremedeiras. Há dois séculos que está pronta a bomba atômica do Catolicismo. Quando ela explodir de fato, compreender-se-á toda a plenitude de sentido da palavra da Escritura: Non est qui se abscondat a calore ejus1.
Esta bomba se chama com um nome muito doce. É que as bombas da Igreja são bombas de Mãe. Chama-se O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Livrinho de pouco mais de cem páginas. Nele, cada palavra, cada letra é um tesouro. Este o livro dos tempos novos que hão de vir. (…)
Por meio de Maria, unir-se a Deus
O Beato Grignion de Montfort expõe em sua obra, no que consiste a perfeita devoção dos fiéis a Nossa Senhora, a escravidão de amor dos verdadeiros católicos à Rainha do Céu. Ele nos mostra o papel fundamental da Mãe de Deus no Corpo Místico de Cristo, e na vida espiritual de cada cristão. Ele nos ensina a viver nossa vida espiritual em consonância com essas verdades. E nos inicia em um processo tão sublime, tão doce, tão absolutamente maravilhoso e perfeito, de nos unirmos a Maria Santíssima, que nada há na literatura cristã de todos os séculos que o exceda neste ponto.
Esta devoção, diz Grignion de Montfort, unindo o mundo a Nossa Senhora, uni-lo-á a Deus. No dia em que os homens conhecerem, apreciarem, viverem essa devoção, nesse dia Nossa Senhora reinará em todos os corações, e a face da Terra será renovada.
De que forma? Grignion de Montfort esclarece que seu livro suscitaria mil oposições, seria caluniado, escondido, negado; que sua doutrina seria difamada, ocultada, perseguida; que ela daria automaticamente uma antipatia profunda nos que não têm o espírito da Igreja. Mas que um dia viria em que os homens por fim compreenderiam sua obra. Nesse dia, escolhido por Deus, a restauração do Reino de Cristo estaria assegurada.
São Luís Maria Grignion nasceu em 31 de janeiro de 1673, na cidade bretã de Montfort-La-Cane. Em 1685 ingressou no colégio dos jesuítas, em Rennes, onde cursou humanidades. Sentido-se chamado ao sacerdócio, partiu para a capital francesa, sendo admitido em 1695 no Seminário de Saint-Sulpice. Cinco anos depois, em junho de 1700, foi ordenado presbítero e deu início ao seu intenso apostolado de missionário, pregando de modo especial o reafervoramento do espírito do cristianismo pela renovação das promessas do Batismo. O Papa Clemente XI concedeu-lhe o título de missionário apostólico, e nessa qualidade percorreu toda a França, reacendendo nas almas as mechas fumegantes da Fé.
Segundo o Pe. Faber, era ao mesmo tempo perseguido e venerado em toda parte. Suas pregações, seus escritos, sua conversação eram impregnados de profecias e de visões antecipadas das últimas eras da Igreja. Qual novo São Vicente Ferrer, adiantou-se como se estivesse nos dias precursores do juízo final, e proclama-se portador, da parte de Deus, de uma mensagem autêntica: mais honra, conhecimento mais vasto, amor mais ardente a Maria Santíssima, e anuncia a união íntima que Ela terá com o segundo advento de seu Filho.
Estabelecendo-se em Saint-Laurent-sur-Sèvre, fundou duas Congregações religiosas, uma de homens (Missionários da Companhia de Maria) e outra de mulheres (As Filhas da Sabedoria). Escreveu diversas obras que têm exercido notável influência na piedade católica: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Carta Circular aos Amigos da Cruz, O segredo admirável do Santo Rosário para se converter e se salvar, O Segredo de Maria, Oração Abrasada (Prece pedindo a Deus missionários para a sua Companhia de Maria), entre outras.
São Luís Grignion faleceu no dia 28 de abril de 1716, durante a pregação de uma missão em Saint-Laurent-sur-Sévre. Tinha 43 anos de idade e apenas 16 de sacerdócio.
Em 20 de julho de 1947, o Sumo Pontífice Pio XII finalmente inscreveu no catálogo dos santos esse grande missionário e apóstolo da Virgem Mãe de Deus.
(Cf. São Luís Maria Grignion de Montfort, Obras completas, Éditions du Seuil, Paris, 1966, pp. VII e ss.; Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 1961, pp. 9 e ss.)
Mais poderoso que todas as forças humanas
Durante séculos, a canonização do Beato Grignion vem caminhando. Por fim, ela chegou a seu termo. É absolutamente impossível que esse fato não tenha um nexo profundo com a dilatação da Verdadeira Devoção no mundo.
E, nós o repetimos, é essa Verdadeira Devoção, a bomba atômica que, não para matar, mas para ressuscitar, Deus pôs nas mãos da Igreja em previsão das amarguras deste século.
Pois bem, nosso otimismo é este: confiamos imensamente mais na bomba atômica de Grignion de Montfort, e em seu poder, do que receamos da ação devastadora de toda as forças humanas.
(Extraído do “Legionário”, de 21/10/1945)
1 ) Não há quem se esconda de seu calor (Sl 18, 7).