Ruína de sarcófago da Roma pagã - Museu Pio Cristiano, Roma

Prosseguindo em sua análise da derrocada da ordem medieval, Dr. Plinio nos mostra como o espírito do homem renascentista se opôs diametralmente àquele dos fins da Idade Média. Surgiu então um tipo humano modelado na antigüidade pagã, provocando funestas conseqüências como, em alguns lugares, a ruptura com a Fé católica, apostasia da Igreja e enfrentamento ao Papado.

O que caracterizava o estado de espírito do homem, em fins da Idade Média?

“Este novo estado de alma continha um desejo possante, se bem que mais ou menos inconfessado, de uma ordem de coisas fundamentalmente diversa da que chegara a seu apogeu nos séculos XII e XIII” (p. 28).

De que modo esse desejo foi expresso?

“A admiração exagerada, e não raro delirante, pelo mundo antigo, serviu como meio de expressão a esse desejo. Procurando muitas vezes não colidir de frente com a velha tradição medieval, o Humanismo e a Renascença tenderam a relegar a Igreja, o sobrenatural, os valores morais da Religião, a um segundo plano” (p. 28).

Com uma admiração exagerada pelo mundo antigo, a Renascença tendeu a relegar a Igreja e os valores morais da Religião a um segundo plano

O tipo humano introduzido pelo Humanismo e a Renascença tem relação com o de nossos dias?

“O tipo humano, inspirado nos moralistas pagãos, que aqueles movimentos introduziram como ideal na Europa, bem como a cultura e a civilização coerentes com este tipo humano, já eram os legítimos precursores do homem ganancioso, sensual, laico e pragmático de nossos dias, da cultura e da civilização materialistas em que cada vez mais vamos imergindo” (p. 28).

Mas não houve uma Renascença cristã?

“Os esforços por uma Renascença cristã não lograram esmagar em seu germe os fatores de que resultou o triunfo paulatino do neopaganismo” (p. 28).

Como se desenvolveu o neopaganismo na Europa de então?

“Em algumas partes da Europa, este se desenvolveu sem levar à apostasia formal. Importantes resistências se lhe opuseram. E mesmo quando ele se instalava nas almas, não lhes ousava pedir — de início pelo menos — uma formal ruptura com a Fé.

“Mas em outros países ele investiu às escâncaras contra a Igreja. O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo” (p. 29).

Quais as conseqüências do orgulho, no protestantismo?

“O orgulho deu origem ao espírito de dúvida, ao livre exame, à interpretação naturalista da Escritura. Produziu ele a insurreição contra a autoridade eclesiástica, expressa em todas as seitas pela negação do caráter monárquico da Igreja Universal, isto é, pela revolta contra o Papado. Algumas, mais radicais, negaram também o que se poderia chamar a alta aristocracia da Igreja, ou seja, os Bispos, seus Príncipes. Outras ainda negaram o próprio sacerdócio hierárquico, reduzindo-a a mera delegação do povo, único detentor verdadeiro do poder sacerdotal” ( p. 29).

E a sensualidade como se afirmou?

“No plano moral, o triunfo da sensualidade no protestantismo se afirmou pela supressão do celibato eclesiástico e pela introdução do divórcio” (p. 29)1.

1) Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.