Lenin e alguns teóricos marxistas - Selo russo no Museu Postal Smithsonian, Nova York

Nos tópicos de “Revolução e Contra-Revolução” transcritos a seguir, Dr. Plinio aponta o nexo entre as diversas etapas do processo revolucionário, de tal forma que, transpostos os termos, a Revolução Francesa e a Comunista utilizaram as mesmas tendências de orgulho e sensualidade para continuarem a paulatina transformação do homem medieval católico no neobárbaro dos séculos XX e XXI.

Quais os efeitos do Humanismo e da Renascença entre os católicos da França?

“A ação profunda do Humanismo e da Renascença entre os católicos não cessou de se dilatar numa crescente cadeia de conseqüências, em toda a França. Favorecida pelo enfraquecimento da piedade dos fiéis — ocasionado pelo jansenismo1 e pelos outros fermentos que o protestantismo do século XVI desgraçadamente deixara no Reino Cristianíssimo — tal ação teve por efeito no século XVIII uma dissolução quase geral dos costumes, um modo frívolo e brilhante de considerar as coisas, um endeusamento da vida terrena, que preparou o campo para a vitória gradual da irreligião” (p. 30).

Ateísmo e revoltas

Quais foram as etapas dessa apostasia?

“Dúvidas em relação à Igreja, negação da divindade de Cristo, deísmo, ateísmo incipiente foram as etapas dessa apostasia” (p. 30).

Qual a relação entre a Revolução Francesa e a Pseudo-Reforma, no campo religioso?

“Profundamente afim com o protestantismo, herdeira dele e do neopaganismo renascentista, a Revolução Francesa realizou uma obra de todo em todo simétrica à da Pseudo-Reforma. A Igreja Constitucional que ela, antes de naufragar no deísmo e no ateísmo, tentou fundar, era uma adaptação da Igreja da França ao espírito do protestantismo” (p. 30).

E na esfera política?

“A obra política da Revolução Francesa não foi senão a transposição, para o âmbito do Estado, da ‘reforma’ que as seitas protestantes mais radicais adotaram em matéria de organização eclesiástica:

– Revolta contra o Rei, simétrica à revolta contra o Papa;

– Revolta da plebe contra os nobres, simétrica à revolta da ‘plebe’ eclesiástica, isto é, dos fiéis, contra a ‘aristocracia’ da Igreja, isto é, o Clero;

– Afirmação da soberania popular, simétrica ao governo de certas seitas, em medida maior ou menor, pelos fiéis” (pp. 30-31).

Nexo entre as três revoluções

Existe algum nexo entre comunismo e protestantismo?

“No protestantismo nasceram algumas seitas que, transpondo diretamente suas tendências religiosas para o campo político, prepararam o advento do espírito republicano2. São Francisco de Sales, no século XVII, premuniu contra estas tendências republicanas o Duque de Sabóia3. Outras, indo mais longe, adotaram princípios que, se não se chamarem comunistas em todo o sentido hodierno do termo, são pelo menos pré-comunistas” (p. 31).

O processo revolucionário não se deteve nas escolas do comunismo dos séculos XIX e XX, mas haveria de chegar ao seu produto mais extremo: o neobárbaro dos nossos dias

E entre comunismo e Revolução Francesa?

“Da Revolução Francesa nasceu o movimento comunista de Babeuf. E mais tarde, do espírito cada vez mais vivaz da Revolução, irromperam as escolas do comunismo utópico do século XIX e o comunismo dito científico de Marx” (p. 31).

Neobárbaro do século XX

Aponte a logicidade existente entre esses nexos.

“O deísmo tem como fruto normal o ateísmo. A sensualidade, revoltada contra os frágeis obstáculos do divórcio, tende por si mesma ao amor livre. O orgulho, inimigo de toda superioridade, haveria de investir contra a última desigualdade, isto é, a de fortunas.

A que o comunismo quer conduzir a humanidade?

“Ébrio de sonhos de República Universal, de supressão de toda autoridade eclesiástica ou civil, de abolição de qualquer Igreja e, depois de uma ditadura operária de transição, também do próprio Estado, aí está o neo-bárbaro do século XX, produto mais recente e mais extremado do processo revolucionário”4 (p. 32).

1) Doutrina difundida pelo holandês Jansênio (1585-1638), reitor da Universidade de Louvain e, posteriormente, Bispo de Ypres (Bélgica). Adulterando os ensinamentos de Santo Agostinho sobre a graça, o jansenismo provocou o enfraquecimento da piedade dos fiéis – sobretudo quanto à devoção a Nossa Senhora e à recepção dos Sacramentos.

2) Dr. Plinio se refere ao movimento republicano revolucionário, que daria origem à Revolução Francesa.

3) Sainte-Beuve, Etudes des lundis – XVIIème siècle – Saint François de Sales. Paris: Librairie Garnier, 1928, p. 364.

4) Em 1976, Dr. Plinio escreveu a Terceira Parte desta obra, na qual trata da IV Revolução. Tópicos extraídos de Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.