Lembrança da Primeira Comunhão de Plinio

Há 90 anos, na manhã do dia 19 de novembro de 1917, o jovem Plinio recebia pela primeira vez em sua alma a augusta visita de Nosso Senhor Jesus Cristo Sacramentado. Ao longo de sua vida, inúmeras vezes recordaria ele, com profunda devoção eucarística, aquela data que lhe era sobremaneira cara. Evoquemos, novamente, algumas dessas suas reminiscências:

Os meninos deveriam ir tão bem vestidos quanto o permitiam as posses de seus pais. Aqueles com mais recursos mandavam confeccionar uma roupa especial para a ocasião. E no meu tempo, o hábito de Primeira Comunhão masculino era a cópia do uniforme solene de um dos colégios mais famosos do mundo — o Eton, da Inglaterra. Tratava-se, na verdade, de uma roupa muito pomposa, paletó e calça de casimira inglesa e cortes elegantes, camisa engomada, de colarinho duro, gravata escura e, no braço esquerdo, um laço de fita branca, em cujas pontas brilhavam pingentes dourados. O branco simbolizava a castidade e a virgindade daquele menino; o dourado lembrava a sua fé.

Dona Lucilia, exímia organizadora de tudo, entendia que a comemoração em família não deveria acontecer na volta da igreja. Julgava ela que, realizada a festa no mesmo dia, poderia haver o risco de a criança, levada pela imaginação infantil, amanhecer pensando mais nos festejos do que na Sagrada Eucaristia. Então, com o afeto e o cuidado que eram todos dela, mamãe chamou minha irmã, minha prima e eu, alguns dias antes da Primeira Comunhão, para nos colocar a par do programa. Disse-nos:

— Vocês devem entender que a festa não vai ser no mesmo dia. Nesta data vocês devem se preocupar somente em fazer a Primeira Comunhão. É como se fosse um feriado: não vão estudar nem se entregar a atividades muito dispersivas. Quer dizer, pensem e concentrem a atenção no Santíssimo Sacramento. No dia seguinte, faremos a comemoração em grande estilo…

Assim, a preparação feita com muito cuidado por um sacerdote, somada às explicações de Dona Lucilia que completavam aquela, além do programa traçado por ela, nos fizeram ver como era sério o passo que íamos dar. Evidentemente, esse ambiente criado em torno de nós era próprio a determinar todo o grau de recolhimento que uma criança possa ter. Eu, particularmente, fiquei muito compenetrado e fiz então o propósito de observar esse recolhimento quanto me fosse possível, nos meus nove anos.

Após termos sido examinados, e verificado que sabíamos o bastante para receber o Sacramento, fizemos parte de uma Primeira Comunhão da paróquia de Santa Cecília, com muitas outras crianças. Algumas estariam ricamente trajadas, levando nas mãos lindos rosários, bem como livrinhos de oração encadernados e forrados de madrepérola.

Na manhã seguinte, minha irmã, minha prima e eu nos dirigimos à Igreja de Santa Cecília, levando nossas velas que, assim como as das outras crianças, seriam acendidas no momento apropriado. E esta hora afinal chegou. Formaram-se, separadamente, a fila das meninas e a dos meninos que, pela primeira vez, receberiam em suas almas a visita de Nosso Senhor Sacramentado. Pelo favor de Nossa Senhora, comunguei com muito recolhimento e procurei fazer minha ação de graças com intenso fervor e devoção.

Pouco depois, terminada a celebração litúrgica, crianças e familiares retornaram às suas residências. Eu, ao lado de minha irmã e minha prima, voltava radiante de contentamento!