Anotícia da canonização do Beato Luís Maria Grignion de Montfort, pouco salientada pelos jornais da época, porém não ignorada por Dr. Plinio, ofereceu a este o ensejo de chamar a atenção, no Legionário de 21 de outubro de 1945, para a principal obra escrita por aquele santo, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem:
Chamam-nos muitas vezes de pessimistas. (…) Não é [verdade]. Somos otimistas, e mais otimistas mesmo do que o comum das pessoas. Nossa combatividade não é, mesmo, senão otimismo. Onde muitos acham que “está tudo perdido”, e que os católicos estão reduzidos a mendigar com melúrias, achamos pelo contrário que “nada está perdido”, e que a situação ainda é bastante boa para pleitearmos a defesa de nossos direitos com vigor, galhardia e desassombro.(…) Resumamos. Não sentimos nossa situação de católicos en mendiants, mas en combattants.
Como condição de vitória, sem se desprezar nem de leve as providências concretas, devemos contar essencialmente com os recursos sobrenaturais. A História demonstra que não há inimigos que vençam um país cristão que possua três devoções: ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora e ao Papa. Investigue-se bem a queda de nações aparentemente muito fervorosas em sua adesão à Igreja: alguma broca secreta a minava em uma dessas três virtudes-chave. A vitória, pois, depende de nós. Tenhamos em dia nossa consciência, estejamos tranqüilos em Deus, e venceremos.
Isto explica o extraordinário relevo que damos a uma notícia apagada, que os jornais reproduziram há pouco: a canonização iminente do Bem-aventurado Luís Maria Grignion de Montfort.
A notícia nada significa para o comum das pessoas. Ela significa tudo, para os que conhecem o verdadeiro fundo das coisas. A Providência resolveu jogar sua bomba atômica contra os adversários da Igreja. Quando ela explodir de fato, compreender-se-á toda a plenitude de sentido da palavra da Escritura: Non est qui se abscondat a calore ejus.
Esta bomba se chama com um nome muito doce. É que as bombas da Igreja são bombas de Mãe. Chama-se o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Livrinho de pouco mais de cem páginas. Nele, cada palavra, cada letra é um tesouro. Este é o livro dos tempos novos que hão de vir. (…)
O Beato Grignion de Montfort expõe em sua obra, no que consiste a perfeita devoção dos fiéis a Nossa Senhora, a escravidão de amor dos verdadeiros católicos à Rainha do Céu. Ele nos mostra o papel fundamental da Mãe de Deus no Corpo Místico de Cristo e na vida espiritual de cada cristão. Ele nos ensina a viver nossa vida espiritual em consonância com essas verdades. E nos inicia em um processo tão sublime, tão doce, tão absolutamente maravilhoso e perfeito, de nos unirmos a Maria Santíssima, que nada há na literatura cristã de todos os séculos que o exceda neste ponto.
Esta devoção, diz Grignion de Montfort, unindo o mundo a Nossa Senhora, uni-lo-á a Deus. No dia em que os homens conhecerem, apreciarem, viverem essa devoção, nesse dia Nossa Senhora reinará em todos os corações, e a face da terra será renovada. (…)
Durante séculos, a canonização do Beato Grignion veio caminhando. Por fim, ela chegou ao seu termo. É absolutamente impossível que esse fato não tenha um nexo profundo com a dilatação da “Verdadeira Devoção” no mundo. E, nós o repetimos, é essa “Verdadeira Devoção” a bomba atômica que, não para matar mas para ressuscitar, Deus pôs nas mãos da Igreja em previsão das amarguras deste século.
Pois bem, nosso otimismo é este: confiamos imensamente mais na bomba atômica de Grignion de Montfort, e em seu poder, do que receamos da ação devastadora de todas as forças humanas.
(Extraído do “Legionário” de 21/10/1945)