lunes, noviembre 25, 2024

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Heróicos na virtude da confiança

“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais vossos corações”, diz o salmista (94, 7-8). Fazendo eco ao autor sagrado, Dr. Plinio nos aconselha a não desprezarmos as inspirações da graça em nossa alma, sobretudo quando ela nos move à esperança contra todas as aparências adversas, à confiança heróica e ilimitada na misericórdia de Maria Santíssima.

Conforme nos ensina a experiência na vida espiritual, pode-se dizer que a fidelidade daqueles que se mantêm fiéis quando todos os motivos lhes falam de desesperança e todas as razões lhes impõem dúvidas, vale mais para a causa católica do que a fidelidade daqueles que não enfrentam tempestades e borrascas na sua trajetória de piedade.

Uma pessoa que, em condições adversas, permaneça fiel, é como uma árvore que se mostra mais frondosa do que todas as outras que não resistiram à tormenta, ou que por esta não tenham passado. Aquela se sobressai, como prêmio pela sua fidelidade. Creio que essa é uma constante na história da Igreja e das obras católicas ao longo dos tempos.

Uma vocação para todos

Por exemplo, se um jovem continuar a observar os Mandamentos e a praticar a virtude, num ambiente onde tudo o solicita para o pecado e a prevaricação, dele poderá surgir um grupo de católicos que, postos diante de uma perseguição religiosa, se transformarão em heróis da fé e escreverão uma epopéia nos anais do catolicismo. Seria uma forma de a Providência, a rogos de Nossa Senhora, premiar a fidelidade deles.

Tenho para mim, aliás, que todos nós somos chamados a essa espécie de vocação, isto é, a de sermos heróicos na confiança. Em vista disso, precisamos sempre confiar que o plano e os desígnios de Deus a respeito de cada de um nós se realizará, apesar de todas as aparências em sentido contrário. E se, apesar dessas circunstâncias contrárias, continuarmos obstinadamente fiéis, essa fidelidade se torna invencível, move montanhas e opera milagres. Muitos fatos nas vidas dos Santos, contados na sua singeleza, têm um sabor de historietas encantadoras, mas, no fundo, possuem altíssimo significado, e nos falam dessa força da confiança invencível.

“Minha Mãe, minha confiança” Quadro do Seminário Romano, Itália

Se nos mostrarmos obstinadamente fiéis na virtude da confiança, nossa fidelidade operará milagres, moverá montanhas …

Fotos: V. Toniolo

Fotos: V. Toniolo
Dócil à ordem de São Bento, São Mauro resgata São Plácido das águas – Abadia maior de Monte Oliveto, Itália

O milagre na vida de dois jovens beneditinos

Ilustra muito bem essa verdade o episódio ocorrido na vida de São Mauro e São Plácido, dois jovens discípulos de São Bento, narrado por São Gregório Magno. Conta-nos este que São Plácido, o mais novo deles, estava se afogando nas águas de um rio. Vendo o religioso em perigo, São Bento ordenou que São Mauro o fosse resgatar. Este não hesitou um instante e, obedecendo à ordem do Superior, lançou seu escapulário nas águas e andou sobre ele, como sobre um tapete. Chegou até São Plácido, o tirou do rio e os dois retornaram andando na superfície líquida, de volta para junto de São Bento.

Pressentimento de que nossos melhores desejos se realizarão

Muitos dirão: “Milagre da obediência!”

Sem dúvida. Entretanto, também a confiança tem seu prêmio próprio. Ela é uma forma de obediência. É uma espécie de pressentimento interior, nascido de uma ação da graça, que nos faz sentir com inteira certeza que algo desejado pelos melhores lados de nossa alma se realizará. Essa é a definição da confiança. Às vezes, há evidências contrárias que procuram desmentir essa confiança. Porém, se esperarmos e pedirmos muito, contra ventos e marés, aquilo se fará verdadeiramente. Poderá vir por caminhos inesperados, caprichosos, depois de longa demora que constituirá para nós uma dura provação.

… e se tornará invencível, recebendo o prêmio que ela merece como forma de obediência

Mas, quanto mais tardar, maior será a glória, mais brilhante o resultado de nossa perseverança, pois aquilo se realiza certamente. E é preciso sermos heróicos nesse ponto: quando tudo afirma o contrário, devemos dizer: “Continuarei a esperar com mais afinco, pois o que desejo acabará se operando, pela misericórdia de Maria Santíssima!”

Ponto de partida para um reflorescimento

Dentro do nosso próprio movimento temos exemplos do quanto pode a força da confiança.

Com efeito, mais de uma vez temos visto núcleos de amigos nossos onde todos se mostravam fervorosos e animados no começo de sua trajetória na vocação. Com o passar do tempo, porém, um se deixa tomar pelo desânimo, outro pela tibieza, aquele esmorece na prática da piedade, e o grupo se ressente dessa estagnação espiritual. Mas, se um deles permanecer fiel ao fervor primeiro, esse núcleo de amigos acabará recobrando ânimo e renascerá das cinzas.

Isso que se passa num setor do movimento, pode se dar no grupo constituído numa cidade qualquer. De início, todos estão confiantes e esperançosos quanto ao futuro da obra naquela região. Lançam-se com fervor no apostolado. Contudo, sopra um vendaval, todos se dispersam de um momento para outro. Exceto um que, se não perder aquela fidelidade invencível, com segurança e sem choramingos, será o ponto de partida para um reflorescimento daquele grupo.

O mesmo princípio de aplica a cada obra nossa, de caráter individual, dentro da vocação. Começamos um apostolado, e temos a impressão de que não vai para a frente. Ficamos abatidos. Se continuarmos fiéis, tudo reverdecerá, ao cabo de algum tempo surgirão ótimos e duradouros frutos.

Sintomas de que o pressentimento nasce da graça

Essa é a confiança cega de quem acredita naquele pressentimento, percebe pela fé que este é uma voz da graça e persevera contra todas as aparências externas.

Alguém poderia levantar a seguinte questão, a meu ver legítima: como se pode distinguir a simples presunção de um pressentimento válido, pois às vezes se tem uma série de pressentimentos que não se realizam. Como discernir, então, o bom pressentimento que nos vem de Deus?

Eu diria haver três sintomas que nos indicam a boa procedência desse pressentimento. Em primeiro lugar, sentir que desejo algo pelos melhores lados de minha alma e, portanto, os piores estão afastados. Em toda alma, os melhores lados são: o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Nossa Senhora, à Santa Igreja Católica e à Civilização Cristã.

Em segundo lugar, sentir que quando espero algo, minha piedade, minha abnegação, florescem e minha alma encontra alegria dentro da virtude.

E o terceiro sintoma: quando duvido daquilo, minha piedade fenece, começo a sentir tristeza em ter sido chamado por Nossa Senhora, e a virtude, em vez de ser um palácio de luz, passa a ser para mim uma masmorra sombria. Minha dedicação desaparece.

Essas características configuram, portanto, o pressentimento suscitado pela graça dentro de minha alma.

Saibamos discernir a ação do Espírito Santo em nossas almas, e seguiremos os bons pressentimentos que Ele nos inspira, numa prática heróica da virtude da confiança

Fotos: G. Kralj
Representação do Espírito Santo – Vitral e lamparinas da Basílica do Vaticano, Roma

Não é um privilégio dos justos

Não se deve pensar que esses estímulos da graça sejam privativos dos santos. Até pecadores os recebem, como ação da clemência divina para conduzi-los à emenda de vida. A história está semeada de exemplos dessas vozes da graça agindo no interior de almas pecadoras, levando-as ao arrependimento e a uma heróica prática da virtude.

Não se trata de uma visão nem de revelação. É um pressentimento, no sentido etimológico da palavra: algo que se sente que será, antes que venha a ser. E esse pressentimento se realiza e se confirma.

Assim, confiando em que os nossos melhores desejos se realizarão, somos capazes de praticar muitas virtudes. Se essa esperança decai, nossa vida espiritual fenece.

Não fechemos, pois, nossos ouvidos à voz interior da graça. Não julguemos que todo pressentimento como tal é bobagem à qual não se deve dar importância. Sem dúvida, dar crédito a qualquer pressentimento seria temeridade e pode mesmo ser superstição. Cumpre saber discernir a obra do Espírito Santo em nós, daquilo que é produto de nossos caprichos. Daí a necessidade de conferir nossas moções interiores com as caracterísicas que acima estabelecemos.

Verificados esses três sintomas, podemos calmamente enfrentar até mesmo o inverossímil, porque este, pelo favor de Nossa Senhora, certamente se realizará. Esse é o heroísmo da confiança.

(Extraído de conferência em 12/1/1971)

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