Edição após edição, renovam-se nas páginas de nossa revista os hinos de amor de Dr. Plinio à Santa Igreja Católica, e, coisa admirável, sem nunca causarem a impressão de estarem se repetindo. Ele sempre encontrava aspectos novos a respeito dos quais pudesse exprimir sua admiração.
No texto transcrito logo a seguir, ele mostra, de um modo claro e convincente, como a Igreja é uma socióloga incomparável. Seus comentários, porém, não visam apenas ensinar e ilustrar. Trata-se, antes, de fazer aquilo que o lema da Ordem dos Irmãos Pregadores expressa de modo tão feliz: “Contemplare et contemplata aliis tradere” – contemplar e transmitir aos outros o que foi contemplado.
“Para se compreender a obra a que aspiramos — e sob muitos aspectos realizamos —, convém considerar a Igreja por algum de seus ângulos e procurar vê-La assim toda iluminada.
“Por exemplo, através da virtude da caridade, a qual leva as pessoas a serem benfazejas umas com as outras, por amor de Deus, pode-se contemplar a imensidade das coisas boas e santas que a Esposa de Cristo sugeriu ao longo dos séculos.
“Remontando a um passado longínquo, percebe-se que essas obras de caridade não existiram antes de a Igreja começar a se expandir. Elas nasceram da Santa Igreja. O que vemos no mundo antigo é, pelo contrário, a escravidão com toda a sua sequela terrível de crueldades, crimes e negações de direitos. A grande maioria dos homens era escrava.
“Sob o bafejo da bondade da Igreja Católica foi se abrandando e lentamente se extinguindo a escravidão.
“Temos assim a idéia do que é a opulência da virtude da caridade dentro da Igreja, e podemos relacioná-la com outros aspectos. Por exemplo, o senso social extraordinário da Esposa de Cristo.
“Todas as instituições de caráter social nascidas do senso católico, da civilização cristã, têm uma adequação admirável à realidade, para fazer aquilo que, de fato, devem realizar.
“Elas traduzem um conhecimento tão exato, embora muitas vezes implícito, da realidade, que nos deixa pasmos! Alguns exemplos que ilustram muito bem isto são as corporações, as universidades medievais, o feudalismo e as cruzadas, que não somente nasciam da realidade, mas eram adequados a ela e a formavam.
“A Igreja inspira um senso social perto do qual a sabedoria oca e farfalhante dos tecnocratas de hoje vale pouco, porque esta última não contém na concha da mão a realidade verdadeira e completa.
“Tudo isto tem relação com a caridade, pois reflete a postura da Igreja, receptiva a analisar e fazer bem aos outros, para ver como são e do que precisam, adaptando-se inteiramente, em tudo quanto for lícito, às pessoas de maneira a servi-las e ajudá-las.
“Essa solicitude materna da Igreja faz dela a melhor das sociólogas, como numa família é a mãe a melhor das pedagogas.
“A Igreja, muito antes dos sociólogos, foi Mãe de todos os povos e nações. E, por mais diversos que sejam, Ela sabe entrar a fundo no espírito deles e moldá-los segundo Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Uma das maravilhas da Santa Igreja é a graça, pela qual, tendo por missão e ofício aperfeiçoar a vida social, Ela cumpre esse dever como ninguém. Aquilo que não se imagina poder ser feito, Ela o realiza de maneira inteiramente nova, cada vez que o faz.”
(Extraído de conferência em 27/9/89)