Janeiro
1. Santa Maria, Mãe de Deus. Ainda na oitava do Natal a Igreja celebra Maria Santíssima enquanto Mãe de Deus (Theotókos), tal como definiu o Concílio de Éfeso, no ano 431
Santo Odilon, abade de Cluny.
2. São Basílio Magno (+379) e São Gregório Nazianzeno (+390). Bispos e Doutores da Igreja.
Bem-aventurados Guillaume Répin e Laurence Batard, presbíteros e mártires. Foram guilhotinados durante a Revolução Francesa. (+1794)
3. II Domingo do Natal. Epifania do Senhor. Nesta solenidade, a Igreja celebra as três manifestações gloriosas (epifanias) de Nosso Senhor Jesus Cristo: aos Reis Magos; no Jordão, por ocasião de seu Batismo; e a seus discípulos no milagre das Bodas de Caná.
4. Santa Elizabeth Ann Seton. Nasceu em Nova York, no ano de 1774. Casou-se e teve cinco filhos. Após enviuvar converteu-se ao Catolicismo (era antes episcopaliana). Fundou a Congregação das Irmãs de São José, em Maryland, Estados Unidos. (+1821)
5. São Carlos de Santo André (John Andrew) Houben, presbítero e religioso. Faleceu na Irlanda, onde exerceu seu ministério. (+1893)
6. São Carlos de Sezze. Irmão franciscano. Ardoroso adorador do Santíssimo Sacramento. Certo dia, durante a elevação, na Santa Missa, viu um raio de luz que saía da Sagrada Hóstia e chegava a seu coração. Este se conserva incorrupto, tendo gravado em si o sinal da cruz. (+1670)
7. São Raimundo de Peñafort. Sacerdote. Morreu aos 100 anos, em 1275.
8. São Lourenço Giustiniani, Bispo. Primeiro patriarca de Veneza. (+1456)
9. Santo André Corsini. Procedente de uma das mais nobres famílias italianas, abandonou o mundo e fez-se carmelita. (+1373)
10. Batismo do Senhor.
11. São Paulino de Aquiléia, Patriarca. Ocupou-se da conversão dos eslovenos e dos ávaros. Apresentou a Carlos Magno um insigne poema sobre a Regra de Fé. (+802)
12. Santo Antônio Maria Pucci. (+1892)
13. Santo Hilário de Poitiers, Bispo e Doutor da Igreja. Durante o império de Constâncio — o qual aderiu à heresia ariana — foi desterrado para a Frígia. (+367)
14. São Félix de Nola. Presbítero. (sécs. III-IV)
15. São Maraldo, Bispo de Chartres, França. (+c. 650)
16. São Marcelo I, Papa. Morreu desterrado pelo imperador Maxêncio.
17. II Domingo do Tempo Comum.
Santo Antão, Abade. Eremita no deserto do Egito. Morreu aos 105 anos. (+356)
18. Santa Prisca, mártir. Recusando-se a queimar incenso a Apolo, foi condenada à prisão. Visitada por conhecidos que queriam dissuadi-la de sua decisão, recusou-se categoricamente. Foi, então, condenada à morte e decapitada. (+c. 499)
19. São Remígio de Rouen, Bispo. (+c. 762)
20. São Fabiano, Papa e mártir. (+250)
21. Santa Inês, virgem e mártir. (séc. IV)
22. São Vicente, diácono. (+304)
23. Santo Ildefonso, Bispo de Toledo (Espanha). (+667)
24. III Domingo do Tempo Comum.
São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja. (+1622)
25. Conversão de São Paulo.
26. Santos Timóteo e Tito, discípulos de São Paulo. Ajudaram seu mestre no apostolado, o primeiro em Éfeso, o segundo em Creta. Ambos foram objetos da atenção do Apóstolo, o qual escreveu, a cada um, uma epístola.
27. Santa Ângela de Merici. Fundadora das Ursulinas. (+1541)
28. São Tomás de Aquino. Presbítero e Doutor da Igreja. Cognominado “Doutor Angélico”. (+1274)
29. São Constâncio, Bispo de Perusa (Itália). (+c. séc. III)
30. Beato Columba Marmion. Presbítero. Irlandês
31. IV Domingo do Tempo Comum.
São João Bosco. (+1888)
O famoso abade do mosteiro beneditino de Cluny foi objeto dos comentários de Dr. Plinio durante uma série de conferências proferidas no ano de 1972. Nos seguintes trechos selecionados, Dr. Plinio salienta como até o modo de andar ou de falar de uma pessoa pode demonstrar a santidade de sua alma.
Cada época histórica possui grandes homens característicos. Santo Odilon o foi para a Idade Média: grandioso no sentido verdadeiro da palavra.
Apesar de possuir grande valor pessoal, o que sobretudo transparecia em nosso santo eram as graças sobrenaturais — incomparavelmente mais preciosas do que qualquer valor pessoal — que adornavam sua alma.
Sua personalidade tinha tal amplitude harmônica de aspectos, como não se encontra nos grandes homens do tempo da Revolução.
O modo de andar
Passemos a comentar trechos de sua vida, retirados de uma ficha biográfica:
“Comecemos por seus méritos menores. E digamos que esse homem tinha um andar grave, uma voz admirável, ele falava bem. Era uma alegria vê-lo.”
Ao descrever o porte e o modo de ser do santo, o autor ressalta mais os sinais da virtude do que a virtude propriamente dita.
O modo de andar das pessoas as define muito, e por causa disso o biógrafo, contemporâneo de Santo Odilon, julgou que deveria começar a descrevê-lo pelo passo.
O que é um passo grave?
É um passo firme, varonil, de alguém que, ainda que não tenha diante de si obstáculos visíveis, anda vencendo. É um passo cheio de consequências e de ponderação.
Compostura respeitosa
“Cada um de seus movimentos exprimia honestidade. Sua fisionomia era angélica e seu olhar sereno.”
Honestidade, no francês antigo, significava compostura. Un honnête homme significava um homem muito composto, muito digno. Vê-se, então, que todo o modo de ser de Santo Odilon era cheio de compostura e de dignidade.
É preciso ressaltar também que na Idade Média o conceito de anjo não era o desse tipo de anjinho gorduchinho, com ares de irresponsável. Não seria um elogio dizer para alguém que ele tem aquela carinha. A idéia que o medieval fazia dos anjos era a que está expressa nos vitrais medievais: os grandes heróis do Céu; príncipes na presença do Altíssimo.
Percebe-se, assim, o que o autor quer dizer quando afirma que “sua fisionomia era angélica”. Este era Santo Odilon, que grande figura!
Continua a ficha:
“Cada dobra de seu hábito sacerdotal apresentava dignidade e mostrava o respeito que ele tinha por si mesmo e pelos outros.”
Santo Odilon sabia que era a “alma” do grande movimento de Cluny, o qual, por sua vez, era a “alma” irradiante da Idade Média.
A verdadeira humildade consiste em respeitar-se a si próprio como deve ser respeitado.
Sabendo ser Superior de uma Ordem religiosa, homem sagrado por Deus, ele se respeitava enormemente. Vemos que o porte desse varão de Deus era, ao mesmo tempo, principescamente angélico e cheio de humildade.
Alma luminosa
Continua a narração:
“Ele trazia consigo qualquer coisa de luminoso, que convidava a imitá-lo e venerá-lo. A luz da graça, que estava nele, brilhava, por assim dizer, no exterior, e manifestava a qualidade de sua alma.”
O autor soube fixar essa luminosidade que havia em Santo Odilon, a qual nota-se em tantos santos. Ela é algo difícil de descrever, pois trata-se de uma luminosidade do olhar e de algo que paira em torno da personalidade.
Assim como há algo que distingue um homem morto daquele que apenas dorme, há também uma luz na fisionomia do santo, a qual o distingue de quem não o é.
“Seu rosto exprimia a uma vez a autoridade e a benevolência.”
O autor acentua muito bem os contrastes: autoridade e benevolência.
Imaginemos um claustro medieval, repleto de ogivas, e Santo Odilon andando sozinho. Ao longe, um noviço o vê e se ajoelha, Santo Odilon passa e o abençoa.
É bem o contrário daquilo que a Revolução procura incutir nas mentalidades: quem tem autoridade é uma espécie de fera que subiu e, quando encontra a oportunidade de pisar nos outros, fica contentíssima, como quem diz: “Eu apanhei até subir; agora desconto nos que estão embaixo.”
Uma concepção da autoridade não pode ser mais ordinária do que essa.
Pelo contrário, a autoridade existe para fazer o bem. Sua missão é cumprir a benevolência. Benevolência quer dizer querer o bem dos outros.
“Para os bons, ele se mostrava risonho e acolhedor, mas, para os orgulhosos e rebeldes, se tornava tão terrível que era difícil conseguirem fitar seu olhar.”
Que verdadeira maravilha! Eu tenho entusiasmo por essa arma do homem que é o olhar. Quão poucos homens a possuem! O autor dessa ficha soube ver o olhar terrível de Santo Odilon. Isso é admirável! Terrível como um exército em ordem de batalha!
“Seus olhos brilhavam com brilho singular: eram olhos acostumados às lágrimas.”
Como o mundo moderno não compreende mais isso! O mundo moderno só gosta dos olhos habituados a rir; olhos estultos e néscios, os quais só dizem o que sente o egoísmo. O mundo antigo compreendia qual era o valor dos olhos habituados a chorar pelas coisas santas. Chorar pela Paixão de Nosso Senhor, chorar pelos pecados, pelos outros e por si. O pranto sagrado transforma o interior do olhar e o faz luminoso como uma linda rosácea banhada pelos raios do sol.
“Mesmo em viagem, Santo Odilon trazia sempre um livro nas mãos. Enquanto viajava a cavalo, sua alma refazia as forças através da leitura.”
Não entendamos isso à maneira moderna, onde o indivíduo tira do bolso um livrinho e lê comodamente. Devemos pensar que os livros do tempo de Santo Odilon eram in-fólios, pesadões, feitos em pergaminho.
Apesar disso ele tinha sempre um livro consigo. Quer dizer, ele aproveitava todos os pequenos interstícios para ler alguma coisa e assim desenvolver seu espírito na meditação das coisas celestes.
Ademais, a locomoção não era como hoje em dia! Viajava-se a cavalo ou a burro. E as estradas, como eram? As mais precárias possíveis. As menores distâncias eram transpostas em longos períodos.
Imaginemos, então, que cena pitoresca: o cavalo trotando e Santo Odilon com uma das mãos na rédea e com a outra segurando um pergaminho escrito com umas letras enormes; ele enrola a folha que terminou de ler, pensa um pouco, coloca essa folha num saco, e tira outra página. O animal andando em meio de precipícios, onde Santo Odilon para e pede o auxílio do Anjo da Guarda! “Gloria tibi, Domine”… E continuava.
Autoridade e benevolência, virtudes indissociáveis
“Santo Odilon difundia a caridade fraterna por sua própria feição, antes de ensiná-la. E ele a ensinava, sobretudo por seus atos.
“Amando seus irmãos com o interno calor de sua alma, o santo queria engrandecer a cada um deles, e levá-los ao amor de Deus. Jamais desprezava ou rejeitava pessoa alguma; por sua caridade — verdadeiramente divina — ele convidava a todo o mundo, sem nenhuma reserva, a aproveitar de sua indulgência, pois aquele que é verdadeiramente grande arde nesse desejo de amar o próximo.”
Santo Odilon foi abade de Cluny numa época em que a íntima conjugação das instituições temporais e espirituais fazia de um abade um personagem de grande importância. E, tomando em consideração que Cluny representava a maior abadia francesa do tempo, ser seu abade significava ser um dos homens mais consideráveis da estrutura política e social da Idade Média.
Ademais, o mosteiro de Cluny possuía os direitos feudais sobre grande quantidade de terras, e isso dava a Santo Odilon não só o poder espiritual, mas também o material. Ele, por sua reputação pessoal, pelo prestígio de sua santidade e cultura, estava elevado muito acima de seus contemporâneos.
Esse homem, tão insigne por uma porção de circunstâncias, sabia, entretanto, ser muito paterno para com os monges colocados sob a sua jurisdição.
Então, o biógrafo mostra como ele se aproximava de cada um com afeto, entrando em seus problemas pessoais para resolvê-los, e fazendo junto a cada um o papel de Bom Pastor.
Continua a ficha:
“Pois, como é natural, quanto mais alto é um homem, tanto maior é a caridade que ele tem para com os seus irmãos.”
Segundo o espírito que sopra no mundo depois do Protestantismo e da Revolução Francesa, tem-se a errada idéia de que quanto mais um homem é elevado, mais ele despreza os que estão abaixo de si; o superior vê no inferior um concorrente, o qual quer subir e necessita ser espancado para não ter êxito; o inferior, por sua vez, vê no superior um tirano que está lhe explorando e precisa ser derrubado. Desse modo, em qualquer lugar onde haja um degrau hierárquico, há uma luta entre superior e inferior.
Na história de Santo Odilon vemos o contrário. Quanto mais elevado está um homem, mais ele deve tender à bondade, à proteção dos inferiores e a exercer uma autoridade benfazeja.
Onde está o fundamento da idéia de autoridade, como ela era exercida por Santo Odilon?
São Tomás de Aquino explica, esplendidamente, que o superior está para com o inferior como uma imagem de Deus. Quer dizer, ele deve proteger o menor, orientá-lo, guiá-lo, à semelhança de como Deus protege todas as suas criaturas.
Na ordem estabelecida por Deus, os anjos são desiguais, o superior guia o inferior.
Isso se verifica também no mundo humano. Os mais eminentes — por seu poder, talento ou autoridade — devem representar a Deus junto aos que estão abaixo de si e fazer-lhes bem.
Segundo essa consideração, quanto mais alta é a autoridade de alguém, maior é a responsabilidade que ele tem de fazer bem aos outros.
Por isso os súditos devem amar especialmente suas autoridades e querer bem aos que estão constituídos numa dignidade especial.
Este é o princípio que rege a Santa Igreja Católica. Por exemplo, numa paróquia, não é razoável que um fiel ame o seu Vigário e espere dele toda proteção e apoio? Mas, o fiel deve amar ainda mais ao Bispo. E, por isso, não há motivos para esperar maior bondade do Bispo do que do Vigário? E o Papa, não deve ser ainda mais venerado? E não há também motivos para esperar mais indulgência dele do que do Prelado?
A “poluição” do mundo moderno
Essas são considerações que nos descansam da brutalidade de todos os dias!
Não é verdadeiro que nos despolui pensar nisso?
Quando leio nos jornais matérias referentes à poluição em nossas cidades, tenho vontade de dizer: “Vocês não percebem que o que mais polui o mundo contemporâneo é o homem contemporâneo? Não há chaminé que polua mais do que a Revolução!” A verdadeira despoluição se daria quando tivéssemos na terra verdadeiros “Santos Odilons”…
(Extraído de conferências de 23 e 25/9/1972, 2 e 13/10/1972)
1) Não possuímos referência exata para a citação do trecho comentado.