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Contra-Revolução e dom de sabedoria

A luta entre os que anseiam tornar os homens mais próximos a Deus, e os que visam afastá-los das vias do bem, foi caracterizada por Dr. Plinio em sua obra “Revolução e Contra-Revolução”. Na presente conferência, mostra-nos o autor como é necessário, para compreender profundamente esse processo, analisá-lo com sabedoria.

Para obtermos uma ampla compreensão da obra “Revolução e Contra-Revolução”, é indispensável termos em mente o seguinte:

Visão de conjunto

Ao analisarmos, por exemplo, uma sala, se quisermos formar um completo juízo a seu respeito, não podemos apenas nos fixar aos pontos individuais que a compõem, como a dimensão, o estilo da iluminação ou cada móvel separadamente. Não basta formar opinião a respeito de cada elemento que a constitui. Mas, é necessário chegar a um juízo do conjunto da decoração e do ambiente, pois é este conjunto que se entende por sala.

Isto se dá também com o universo, o qual bem poderia ser comparado a uma imensa sala feita por Deus, dentro da qual vive o gênero humano.

Quem queira compreender o universo não pode formar uma opinião apenas a respeito da chaminé de uma fábrica, ou da marca de um automóvel, ou de uma estrela, mas deve ver o conjunto que constitui esta imensa sala chamada universo.

Necessidade da noção de conjunto para o conhecimento das coisas

A fim de compreendermos o papel da noção de conjunto para se chegar a um conhecimento do universo, tomemos o exemplo de Helen Keller1, uma norte-americana que, apesar de tornar-se cega e surda ainda quando bebê, chegou a conferenciar para multidões!

Através do tato ela adquiriu tal conhecimento do mundo externo, que, tendo aprendido a falar, passou a fazer conferências, viajando por todo o mundo.

Imaginemos que sua professora, ao invés de lhe transmitir uma ideia completa do mundo, conseguisse somente dar-lhe uma noção a respeito da formiga ou da água. Certamente, de pessoa muito lúcida que era, bem poderia ter ficado louca… Pois o que fazer destas noções isoladas?

Ora, quantas pessoas, sem ter visão de conjunto sobre a vida, passam por ela somente com uma porção de noções a respeito de objetos isolados? E por causa disso passam pela vida com crises, com problemas, com estertores, com abatimentos, com prostrações, e até com algumas manifestações de loucura. Por não terem a capacidade de concatenar as coisas de modo a tornarem-se compreensíveis, não são capazes de compreenderem-se a si próprias.

Esta noção de conjunto, que nos faz relacionar todas as coisas por um princípio mais alto, chama-se dom de sabedoria, o qual é, naturalmente, a forma mais profunda de conhecimento, pois procura sair da esfera do físico, do terreno, e subir até Deus, e de lá analisar todas as coisas. A sabedoria concede a quem a possui uma capacidade de ver tudo em função de uma unidade.

Pois bem, este desejo de sabedoria é o que eu considero como condição fundamental para que a pessoa possa chegar a uma inteira compenetração da Revolução e da Contra-Revolução.

T. Ring
Sedes Sapientiae – São Paulo, Brasil

O que é o oposto da sabedoria?

Não obstante, a mediocridade exerce um papel contrário ao da sabedoria, pois leva o homem a procurar sua satisfação tão somente nas coisas desta terra, e a fruir da felicidade quase de forma animal, excluindo qualquer nobreza de alma, e procurando fazer do puro gozo a finalidade de sua vida.

O homem medíocre não se preocupa em saber de onde veio, nem para onde vai, e, se pudesse, gostaria de viver como se estivesse numa nuvem cor-de-rosa, embebendo-se eternamente de um bem-estar puramente terreno.

No fundo, esse gênero de gente tem tal amor a si que acaba por esquecer-se de Deus. E quando temos de falar para essas pessoas sobre os problemas, as lutas, os ideais da Revolução e da Contra-Revolução, encontramos uma dificuldade enorme. A atenção destas pessoas corre espontaneamente para tudo quanto lhes causa bem-estar; só com imensa dificuldade são capazes de elevar seu pensamento a coisas mais profundas.

Há uma regra que não falha: dize-me para onde corre tua atenção, que te direi quem és. Portanto, se for para estas coisas triviais que tende tua atenção, não posso dizer que és um homem sábio.

Ora, o varão católico deve buscar a sabedoria, e por isso precisa desapegar-se dessa vidinha, e tender para preocupações de caráter superior, para tudo quanto o leva ao amor a Deus, o que em última análise, é filho da sabedoria.

Assim, para compreendermos a temática Revolução e Contra-Revolução não basta apenas aplicar a inteligência, mas também a vontade. Não basta procurarmos conhecer a razão mais alta das coisas, mas devemos amá-la acima de tudo.

Não vale a pena viver sem honra

Neste sentido é muito bonita a atitude de Eleazar, no tempo dos Macabeus, ao levantar-se contra os sírios que queriam obrigar-lhe a abandonar os costumes de sua religião, preferindo morrer a viver numa terra devastada e sem honra.2

Vê-se que este filho de Abraão preferia os bens superiores a qualquer bem desta terra, e considerava que ou se vive em função de Deus e de suas Leis ou não se vive.

Este é o oposto do medíocre, o qual considera agradável uma vida sem honra, contanto que esta lhe proporcione tantas alegrias nesta terra. Caso falemos a ele nas lutas e combates para praticar a virtude, não encontraremos boa recepção, pois sua vontade não adere aos bens sapienciais, mas somente aos contingentes, pequenos e concretos.

Doutrina, espírito e princípios nada lhe significam; interessa-se apenas pelos bens materiais que dizem respeito ao corpo; desta forma procura assistir, sem grande concurso da inteligência, ao desenrolar da vida. Evidentemente, em uma pessoa assim não pode haver compreensão da Revolução e da Contra-Revolução.

A mais importante das lutas

Quem é tendente a agir de acordo com a sabedoria — conforme acima foi dito — encontra em “Revolução e Contra-Revolução” o meio vivo de adquiri-la. Pois esta obra nos explica o fundo dos acontecimentos hodiernos, apontando o fato central ante o qual os outros não têm importância: a luta entre os que visam afastar o homem das práticas da Lei de Deus, destruir toda forma de hierarquia, e os que lutam por Deus.

Desta luta ninguém pode subtrair-se, pois tudo quanto se passa em torno de nós, é de acordo ou contrário à Lei divina, é sagrado ou profano, dá-se em função da Fé ou da incredulidade.

Em síntese, a busca da sabedoria nos conduz à compenetração da temática Revolução e Contra-Revolução, e esta, por sua vez, aumenta em nós o desejo de crescer neste dom.

(Extraído de conferência de 31/3/1966)

1) Helen Keller: nascida em 27 de junho de 1880 em Tuscumbia, Alabama. Perdeu subitamente a visão e a audição devido a uma doença diagnosticada como febre cerebral, ou escarlatina. Alguns meses antes de Helen completar sete anos de idade, Anne Sullivan foi contratada como sua professora. Até então a jovem não falava nem compreendia o significado das coisas. Anne iniciou seu trabalho utilizando uma boneca e tentando relacionar o objeto à soletração da palavra “boneca” pelo alfabeto manual. Helen logo aprendeu a repetir as letras corretamente, mas não sabia o que as letras significavam. Aprendeu através desse método a soletrar com o uso das mãos várias palavras. Certo dia, ao bombear água no quintal da casa, Sullivan colocou a mão de Helen na água fria, e sobre a outra mão soletrou vagarosamente a palavra “água”. De repente, os sinais atingiram a consciência de Helen, agora com um significado. Ela aprendeu que “água” significava algo frio e fresco que escorria entre suas mãos. Ao anoitecer já havia relacionado trinta palavras aos seus significados.

2) Cfr. 2Mc 6,19.

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