Em setembro de 1961, os deveres de apostolado levaram Dr. Plinio um pouco mais longe do que o comum… O incansável líder católico já não era solicitado apenas por seus discípulos de diversas cidades de nosso País, mas também de outras nações.

Com efeito, fora ele convidado a assistir a um congresso, em Buenos Aires, onde estreitou os vínculos com um núcleo de jovens que viriam a fazer parte de suas fileiras.

Para encerrar a promissora estadia na capital portenha, Dr. Plinio foi jantar com seus amigos mais próximos num restaurante francês, onde comemoraram, em ameno convívio, os resultados obtidos.

Mal podia ele, em meio a essa desanuviada comemoração, suspeitar que, em São Paulo, Dona Lucilia acabava de sofrer um súbito ataque cardíaco e estava às portas da morte…

“Minha estadia em Buenos Aires havia sido fatigante, e eu estava com saudades de poder estar na intimidade dos amigos mais próximos. Então, fomos jantar num restaurante, pensando: ‘Hoje será uma noite de descanso e convívio.’

“De volta ao hotel, o porteiro entregou-me um telegrama de minha irmã, com a seguinte notícia: ‘Mamãe mal à morte. Ataque de coração violentíssimo. Telefones interrompidos. Venha logo para alcançá-la ainda com vida.’

“A fim de obter notícias mais detalhadas, fiz o possível para telefonar a São Paulo — apelei até para a rádio-telefone do Exército —, mas, naquele tempo, os meios de comunicação eram tão precários, que depois de certa hora não havia mais possibilidades.

“A ideia de que mamãe estivesse à morte, de que ela pudesse morrer sem ter o meu apoio, era-me naturalmente muito penosa.

“Passei, então, a noite inteira em claro, andando de um lado para o outro no hall do City Hotel — onde eu estava hospedado —, aguardando o momento em que o clarear do dia me indicasse ter chegado a hora de ir para o aeroporto.

“Não tenho nenhuma vergonha de dizer que chorei copiosamente quase toda a noite.

“Tão logo pude, tomei o automóvel e fui para o aeroporto.

“Tendo sido informado de que só haveria voo diretamente para São Paulo muito mais tarde, aluguei um pequeno avião particular a fim de, literalmente, na aurora, partir em direção a Porto Alegre, e lá apanhar um avião de carreira para São Paulo.

“Lembro-me ainda da lindíssima aurora que assisti sobre o Rio da Prata; porém, meus pensamentos estavam noutro assunto…

“Chegando a Porto Alegre tive de esperar — na agonia da incerteza —, pois o avião levantaria voo mais tarde do que nós tínhamos calculado.

“Afinal, o avião partiu; mas logo parou em Curitiba.

“Sendo o trajeto Curitiba-São Paulo muito menor do que São Paulo-Porto Alegre, pouco tempo após o avião ter decolado de Curitiba já começou a baixar.

“Eu pensei: ‘De repente este avião quebrou e vai parar noutra cidade’, mas ao perguntar, informaram-me: ‘Não. Já é São Paulo.’

“Quando cheguei a São Paulo, olhei pela janela do avião e percebi, de longe, um membro de nosso movimento com fisionomia sorridente, fazendo-me sinais de que estava tudo em ordem. Naturalmente, eu me aliviei muito com isto.

“Desci do avião e este amigo me disse: ‘Dona Lucilia está muito melhor’, e acrescentou, ‘porém, o senhor não se assuste: ao lado de sua casa está se realizando um grande velório, e o senhor é capaz de pensar que é o velório dela; porém, trata-se do vizinho.’

“Ao chegar em casa, fui correndo para o quarto dela. Mamãe acolheu-me muito afetuosamente.

“Graças a Deus, ela viveu ainda mais alguns anos.”

(Extraído de conferências de 24/11/1973 e 3/5/1982)