Houve um pintor alemão que em certa ocasião pintou Nosso Senhor figurando-O como o Bom Pastor, batendo à porta de uma casa. Alguém, então, vendo o quadro, objetou-lhe:
— O senhor cometeu um erro na confecção desse seu quadro, porque essa porta não tem fechadura.
O pintor respondeu:
— É verdade, mas não foi erro. Esta porta simboliza o coração humano, no qual o Redentor bate, e não há fechadura do lado de fora, mas só de dentro.
Realmente certo tipo de abertura de alma a pessoa só faz por si mesma, e ninguém tem poder para interferir.
Pois bem, o jeito de fazer com que as almas se abram para que a graça possa entrar nelas é por meio do sacrifício, da oração, da aceitação da dor com que nos deparamos em nossa vida, carregando a Cruz de Nosso Senhor amorosamente, compreendendo ser normal que o homem sofra. E ele só é grande na medida em que sofre.
Os homens que carregam os grandes sofrimentos por amor de Deus são os únicos grandes homens da História. Os homens decisivos da História são os que souberam sofrer tudo, por fidelidade a Nosso Senhor.
É claro que esse sofrer não é apenas passivo: deixar cair as pancadas em cima da cabeça. Mas é um sofrer ativo, quer dizer, significa muitas vezes tomar a iniciativa da luta, combater, arrostar a opinião dos outros, aceitar de ficar posto em situações difíceis, contrafeitas, contraditórias. Enfim, todo o sofrimento da batalha mais intrépida, ousada e cheia de iniciativas. Tudo isso é sofrer, e até sofrer por excelência. Mas é preciso saber sofrer.
(Extraído de conferência de 19/2/1965)