Plinio durante sua viagem à Europa, em 1912.

Acometida por penosa enfermidade, em virtude da formação de cálculos na vesícula biliar, Dona Lucilia necessitava encontrar uma solução para os males daí decorrentes.

Havendo-se então difundido pelo mundo a boa-nova do êxito alcançado na Alemanha pelo Prof. August Karl Bier, médico particular do Kaiser, numa extração de vesícula biliar, a grande estima dos parentes de Dona Lucilia por ela, levou-os a não poupar esforços para fazê-la chegar até esse famoso especialista.

Entre os que a acompanhavam estava Plinio, aos 3 anos de idade.

Futuramente narraria ele as recordações trazidas desses fatos…

“Ao viajarmos para a Alemanha, em 1912, não me disseram que o estado de Mamãe era grave, mas só que haveria uma operação, e eu não fazia bem ideia do que poderia ser isso, nem sabia perguntar. Entendia ser algo dolorido e nada mais. Nem me disseram que ela correria risco de vida, pois ninguém faz isso com uma criança de três anos.

“Recordo-me do embarque no Hohenstaufen — um navio de grande estilo, mas não de primeira classe — que se deu em condições trágicas. Essa viagem foi para minha mãe um sofrimento terrível, que a enfraqueceu enormemente. Lembro-me de meu pai e meu tio Nestor transportando-a para dentro do navio, deitada numa padiola e contorcendo-se de dor. Eu entrei depois.

“Desde a primeiríssima infância eu tinha uma enorme união de alma com ela, e tudo quanto lhe concernia me emocionava profundamente. Não fazendo ideia do que podia ser uma pessoa enferma, fiquei sumamente atingido ao perceber seu sofrimento e pensei: ‘Então ela está doente assim!? Como é isso?’ Mas logo depois, com as distrações da travessia, essa impressão passou.

“A viagem transcorreu bem. Lembro-me de contemplar trechos enormes do oceano e, com a tendência culinária que sempre tive, recordo-me também de alguns sabores da comida a bordo do Hohenstaufen. Sobretudo uma limonada deliciosa, servida gelada no tombadilho quando passávamos pela linha do Equador, em meio a um calor tremendo.

“Desembarcamos em Ham­burgo e tomamos o trem para Berlim, onde Mamãe foi diretamente ao hospital sofrendo uma dor contínua, mas com resignação admirável.”

(Transcrito, com adaptações, da obra “Notas Autobiográficas”, de Plinio Corrêa de Oliveira, Volume I)