jueves, noviembre 21, 2024

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Dóceis como as nuvens

Com incomparável leveza, e sempre inédita criatividade, as nuvens compõem a beleza de qualquer panorama. Quando são densas e estáticas parecem figuras legendárias, quando são leves e ágeis cobrem como um manto fino e gracioso a imensidão da Terra. Quem pelo menos uma vez na vida não sonhou habitar no mundo das nuvens?

De manhã, bem cedinho, revestidas de cores de esperança, as nuvens descem em forma de névoa e parecem querer brincar com o homem, mas, ao longo do dia, se elevam solenemente, pois seu lugar é nas alturas dos céus. O dia inteiro elas nos protegem dos causticantes raios do Sol e até no ocaso alegram aos homens quando se revestem de cores triunfantes, como bem merecem estas valorosas heroínas.

As nuvens não nos dão somente lições de generosidade e serviço. Elas também exprimem a justiça operante. São capazes de ameaçar os libertinos com granizos e trovões, neves e tempestades, mas ao mais suave fragor da brisa logo se estendem despretensiosas pelo horizonte como se nada houvessem feito. E quanto fazem! Que seria da Terra sem as nuvens que nutrem com suas águas todos os viventes?

São Luís Maria Grignion de Montfort, numa oração que bem mereceu o título de “Abrasada”, usou a eloquente imagem das nuvens. Nesta prece o santo mariano pedia que Deus enviasse sacerdotes de fogo, “nuvens elevadas da terra e cheias de celeste orvalho, que voem sem empecilhos, de todos os lados, conforme o sopro do Espírito Santo”1 (Cf. Ez 1,12).

Rogando ao Senhor que enviasse os apóstolos tão necessários para a Igreja de seu tempo, o santo pediu a Deus: “Almas sempre à vossa mão, sempre prontas a obedecer-Vos, à voz de seus superiores, como Samuel: ‘Eis-me aqui’ (1Sm 3,16), sempre prontas a correr e a tudo sofrer, convosco e por Vós, como os Apóstolos: ‘vamos e morramos com Ele’” (Jo 11,16).

É desses apóstolos que como nuvens dóceis, generosas e fecundas a Igreja hoje mais do que nunca necessita. Evangelizadores amantes da obediência, sacerdotes livres da liberdade de Deus, “desprendidos de tudo, sem parentes segundo a carne, sem amigos segundo o mundo, sem bens, sem embaraços, sem cuidados, e até sem vontade própria”.

A simples existência de almas amantes da obediência é uma proclamação da verdadeira liberdade dos filhos de Deus num mundo que se ufana da libertinagem das paixões e da total independência a qualquer forma de autoridade.

Por certo, a libertinagem parece hoje conter em suas garras imundas as tramas do futuro, mas na verdade são as almas amantes da obediência, que como dóceis e generosas nuvens, nutrirão com o celeste orvalho da doutrina e do bom exemplo o deserto da sociedade contemporânea.

Não são os libertinos que conduzem as tramas da História, mas sim os obedientes. Livres-escravos do amor e da vontade divina, homens segundo o Coração de Jesus, que não vieram ao mundo para fazer a sua vontade, mas sim a d’Aquele que os enviou (Cf. Mt 28,19).

1) São Luís Maria Grignion de Montfort. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Oração Abrasada. 36ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

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