Abraão, Abraão!” (Gn 22, 11). O celeste mensageiro da justiça divina invocava, ex-abrupto, o venerável ancião, pois a sua heróica atitude tinha comovido as entranhas do Criador: afinal encontrara um homem segundo o seu coração. Sua incondicional e amorosa obediência já fora comprovada e, por isso, poderia depositar nele, como num vaso precioso, a esperada aliança messiânica: “Faço aliança contigo e com a tua posteridade, uma aliança eterna. […] Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela possuirá a porta dos teus inimigos, e todas as nações da terra desejarão ser benditas como ela, porque obedeceste à minha voz” (Gn 17, 7. 22, 17-18).
Providencialmente, uma vítima ovina veio substituir a humana. O angustiado coração paterno ficava assim aliviado ao ver que Deus poupara a vida do filho da promessa. Por isso, “Abraão chamou a esse lugar Javé–yiré” (Gn 22, 14), o Senhor providenciou! Mas teria sido unicamente um carneiro preso entre os espinhos o que, naquele momento, Javé providenciara? Não, muito mais! A mão divina que pousava sobre Abraão, enquanto concedia-lhe a oferenda a ser imolada no lugar de Isaac, suscitava uma estirpe de mediadores junto a Deus.
A Divina Providência sempre se serviu de homens para salvar o gênero humano e, chegada a plenitude dos tempos, não quis outro meio para nos redimir senão assumir uma natureza, também ela, humana. Eis o modo de agir divino, perpetuado na Santa Igreja. A cada época foi dado conhecer os seus profetas (no sentido originário do termo hebraico nabî, porta-voz de uma mensagem divina), pois, com frequência, é através desses instrumentos que a Providência vai delineando os seus desígnios na História.
Entretanto, esta verdade choca a certo número. Para chegar a Deus preferem evitar um mediador: “O meu relacionamento é diretamente com Deus!”. E assim, não necessitam de intermediários, pois de fato, é muito mais cômodo idealizar para o seu próprio uso um “deus” particular e uma moral ao bel-prazer de seu egoísmo. A que desmandos chegaria uma humanidade fundada nesses conceitos? Que espantos de loucura e extravagância provocariam? Se muitos foram os motivos de tristeza neste último milênio, devem-se em parte a essa grande confusão das mentes: navios sem direção, sacudidos por toda espécie de idéias, tendências e paixões, e não poucas vezes, náufragos do ceticismo mais alarmante. O mundo tem necessidade — e urgente! — de uma intervenção divina, a fim de perceber novamenter o verdadeiro bem. Mas de que intervenção? Homens segundo o coração de Deus, quais novos Davis (Cf. At 13, 22), suscitados providencialmente para enveredar pelos planos da vontade divina.
No decorrer dos séculos, a pedagogia de nosso Criador deixou entrever certos princípios fáceis de identificar, para reconhecer o perfil moral desses seus instrumentos humanos. Procuremos identificar alguns, acompanhando as palavras de Dr. Plinio, dirigidas a um grupo de seguidores, transcritas na presente edição.