Amor a Deus, carinho materno, afeto filial, simplicidade e intimidade cheia de respeito compunham a abençoada atmosfera do apartamento de Dr. Plinio nas últimas noites de Natal ali vividas com sua extremosa mãe. Com saudades, ele recordava uma dessas marcantes datas de sua existência.

Por sua avançada idade, minha mãe não tinha mais condições de sair para a Missa do Galo. Eu assistia à Missa com meus companheiros e, depois, voltava para casa para cear com ela.

Meu pai já havia falecido; estávamos, portanto, só nós dois. Ela organizava a ceia, dispondo à mesa, com imenso cuidado, iguarias feitas todas em casa. Isso correspondia a uma ideia antiga segundo a qual os pratos domésticos são melhores do que os comprados em confeitaria, pois trazem a marca do carinho que o produto comercial não tem. Eram, então, duas ou três qualidades de doces, com alguns salgadinhos. Enquanto me esperava, ela ficava rezando junto à imagem do Coração de Jesus.

Quando eu chegava, abraçava-a, beijava-a muito, e ela me fazia uma sucessão de cruzes na testa. Eu percebia que cada cruz continha uma bênção e uma súplica, mas eu não sabia o que ela pedia, porque falava tão baixinho que eu não conseguia entender, e percebia que ela gostaria que eu não ouvisse. E para mim, a lei era o fato de ela gostar: o que ela gostasse, assim deveria ser; o que ela não gostasse, eu queria que não fosse assim. Então, eu a deixava me persignar longamente a fronte.

Eu osculava a mão dela e íamos para a sala de jantar. Sua delicada saúde não permitia que se alimentasse muito à noite; ela comia apenas alguma coisinha para me fazer companhia. Meu apetite, entretanto, era robusto. E eu jantava pouco para estar com fome àquela hora, pois sabia que ela ficaria muito contente se eu comesse bastante do que ela havia preparado. Por isso, eu comia vigorosamente.

Em seguida, nos dirigíamos para o quarto dela onde havia uma cestinha de pão feita de uma espécie de porcelana esmaltada, um material muito bonito, cor de marfim, e cercado por uma moldura dourada. Ali, mamãe deitava a pequena imagem do Menino Jesus que se encontra no oratório dela, preparava alguns enfeites, colocava flores e acendia uma vela, cuja base era também toda ornada com papel de seda trabalhado por ela com muita agilidade e bom gosto.

Entrávamos, então, no quarto de mamãe para adorar o Menino Jesus. Como ela já não podia se ajoelhar, apenas eu o fazia. Rezávamos ao Menino-Deus, a Nossa Senhora também, e depois nos despedíamos.

Estava terminado um Natal na Rua Alagoas, 350, 1° andar.

(Extraído de conferência de 22/12/1984)

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